São Paulo, quarta-feira, 13 de março de 2002

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REVIRAVOLTA NA SUCESSÃO

Maciel admite que candidatura naufragou e diz a tucanos que tendência é procurar o PPS

PFL rifa Roseana e flerta com Ciro para barrar Serra

KENNEDY ALENCAR
FERNANDO RODRIGUES


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Única ponte oficial que sobrou entre PFL e PSDB, o vice-presidente da República, Marco Maciel, transmitiu aos tucanos o seguinte recado dos pefelistas: a candidatura Roseana Sarney (PFL) acabou e, se o PSDB não substituir o candidato José Serra, a tendência pefelista será buscar aliança com Ciro Gomes (PPS).
Ciro deu sinais de que deseja a união, mas, para isso acontecer, tanto ele como o PFL precisam engolir desaforos que trocaram. Exemplo: em 1999, Ciro disse que o cacique baiano Antonio Carlos Magalhães era "sujo que só pau de galinheiro". ACM rebateu: "Ciro é o próprio galinheiro".
Para os serristas, o apoio do PFL a Ciro é complicado e não passaria de um blefe. Blefe ou ameaça real, o fato é que hoje o PFL não aceita composição com Serra.
Maciel, um dos últimos pefelistas que ainda tentam fechar com Serra, deu esse recado a Fernando Henrique Cardoso e a dirigentes do PSDB depois de constatar que a inviabilização fulminante de Roseana significará o acirramento da guerra do PFL contra o pré-candidato tucano à Presidência.
Por guerra, entenda-se uma tentativa do PFL, especialmente dos clãs Sarney e carlista, de derrubar Serra. No próprio PSDB, há uma minoria que também gostaria de inviabilizar o senador paulista. No entanto, o cacife político e empresarial de Serra, que está em ascensão nas pesquisas, torna esse plano de difícil execução.
A reação dos serristas é forte. FHC está sendo a pressionado a esquecer o PFL e a fortalecer laços com o PMDB, o PPB e o PTB.
Serra está bem acertado com o PMDB e tenta fechar com o PPB e o PTB -esse último ainda amarrado por aliança a Ciro. FHC mostra que ficará ao lado de Serra, mas teme que as brigas compradas pelo pré-candidato reabram investigações no Congresso e tragam à tona dossiês contra ele e contra o PSDB.
Apesar de FHC e da maioria do PSDB bancar Serra, a ameaça Ciro-PFL mais as faixas afixadas em Fortaleza defendendo a candidatura ao Palácio do Planalto do presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), caíram como uma bomba ontem no PSDB.
"Chega de confusão, Aécio é a solução", dizem faixas espalhadas pela capital do Ceará, palco nos últimos dias de um encontro do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) pelo qual passaram FHC e Serra.
As faixas pró-Aécio, que indiretamente atribuem a Serra a ruptura de uma aliança de quase oito anos do PFL como PSDB, foram afixadas por pessoas ligadas ao governador do Ceará, Tasso Jereissati (CE), tucano que perdeu a disputa pela candidatura do partido para Serra. Tassistas dizem que o governador cearense poderia apoiar Aécio. E, para o PFL, tanto Tasso como Aécio são vistos como boas opções.
Se a candidatura Serra sobreviver ao bombardeio, o que parece ser hoje a tendência, o PFL crê que uma aliança com Ciro poderia abrir espaço para um terceiro pólo na eleição, enfraquecendo o cenário desejado por PSDB e PT, o de um confronto "mais ideológico e menos fisiológico" entre Serra e Luiz Inácio Lula da Silva.
Ciro poderia criar o bloco das forças que desejam se vingar de FHC. Ele, que deixou o PSDB magoado com o presidente, atrairia as oligarquias nordestinas que perderam força, como as lideradas por Sarney e ACM.
No PSDB, Ciro contaria com a simpatia de Tasso. Apesar das mágoas com Serra, Tasso ficará oficialmente com ele. Mas Tasso é amigo de Ciro e poderia ser, num eventual governo, fiador de um acordo com o PSDB. Até Itamar Franco, governador de Minas, dissidente do PMDB e desafeto de FHC, poderia engrossar o coro dos "vingadores".



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