São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOMBRA NO PLANALTO

Em depoimento à PF, ex-dirigentes da empresa dizem que se encontraram três vezes com ex-assessor da Presidência no início de 2003

Waldomiro teve três reuniões com GTech

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento à Polícia Federal ontem, dois ex-dirigentes da GTech do Brasil -o ex-presidente Antonio Carlos Lino Rocha e Marcelo Rovai, ex-diretor de Marketing- confirmaram ter tido três encontros com Waldomiro Diniz, ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, no primeiro trimestre de 2003.
Waldomiro aparece em fita de vídeo pedindo propina e contribuição de campanha a Carlos Cachoeira, um empresário de jogos, em 2002. Na época, Waldomiro era presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro) no governo Benedita da Silva (PT).
"De início, o objetivo [dos encontros] era apenas apresentar o Carlos Cachoeira [aos executivos da GTech]. Pelo que sabemos foram três reuniões no primeiro trimestre de 2003, todas em Brasília", disse Antônio César Fernandes Nunes, delegado responsável pelo caso.
O ex-assessor palaciano teria convocado o primeiro encontro para apresentar Cachoeira aos executivos. O objetivo era firmar parceria entre eles para ampliação dos negócios de Cachoeira no país. Das outras duas reuniões, que serviram para "esclarecimentos" sobre a parceria, só participaram Waldomiro e os executivos.
Segundo o delegado César Nunes, ainda não há "evidências" da influência de Waldomiro na renegociação da CEF (Caixa Econômica Federal) com a GTech, ocorrida no mesmo período das reuniões. "Não temos nenhuma evidência disso", afirmou.
"Não excluo nada, estamos investigando. Vamos chegar a alguma conclusão no final do inquérito. Por ora, querer decidir tudo com base em apenas um depoimento não dá."
O teor dos depoimentos não foi revelado, pois o inquérito foi submetido a sigilo a pedido do procurador da República Marcelo Serra Azul, que acompanhou a investigação ontem.
O Ministério Público Federal já havia ouvido pessoas próximas a Cachoeira que informaram sobre o encontro entre Waldomiro, o empresário e representantes da GTech do Brasil. Os procuradores estimam que tenha havido mais duas reuniões, um total de cinco no início do ano passado.
Nenhum dos dois executivos concedeu entrevista ontem. Rovai falou à PF durante cerca de quatro horas e meia e Lino Rocha, duas horas e meia. Os dois chegaram de táxi à superintendência da Polícia Federal.
A GTech cuida da operação do sistema lotérico do país, mediante um contrato de cerca de R$ 650 milhões anuais com a Caixa. Em janeiro do ano passado, o contrato foi aditado emergencialmente por 90 dias, até que a equipe do PT conhecesse os pormenores. Em abril, nova renovação ampliou o contrato por 25 meses.
Segundo a Folha apurou, o ex-vice-presidente de logística da Caixa Mário Haag forneceu ao delegado um parecer interno assegurando que o banco poderia assumir 25% dos serviços lotéricos, o que provocaria uma redução nos valores pagos à empresa.
A Caixa sempre negou interferência de Waldomiro na renegociação com a GTech. O contrato teria sido firmado porque liminares obtidas na Justiça pela empresa impossibilitavam uma licitação nacional para o serviço.
A GTech divulgou ontem uma nota em que diz ter "cooperado plenamente com as autoridades que buscam informações e continuará prestando todos os esclarecimentos sempre que oficialmente solicitada".


Texto Anterior: Agenda negativa: Grevistas da PF ameaçam promover pior confronto já visto pelo governo
Próximo Texto: Caixa optou por contrato desvantajoso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.