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SOMBRA NO PLANALTO
Em depoimento à PF, ex-dirigentes da empresa dizem que se encontraram três vezes com ex-assessor da Presidência no início de 2003
Waldomiro teve três reuniões com GTech
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em depoimento à Polícia Federal ontem, dois ex-dirigentes da
GTech do Brasil -o ex-presidente Antonio Carlos Lino Rocha e
Marcelo Rovai, ex-diretor de
Marketing- confirmaram ter tido três encontros com Waldomiro Diniz, ex-subchefe de Assuntos
Parlamentares da Casa Civil, no
primeiro trimestre de 2003.
Waldomiro aparece em fita de
vídeo pedindo propina e contribuição de campanha a Carlos Cachoeira, um empresário de jogos,
em 2002. Na época, Waldomiro
era presidente da Loterj (Loteria
do Estado do Rio de Janeiro) no
governo Benedita da Silva (PT).
"De início, o objetivo [dos encontros] era apenas apresentar o
Carlos Cachoeira [aos executivos
da GTech]. Pelo que sabemos foram três reuniões no primeiro trimestre de 2003, todas em Brasília", disse Antônio César Fernandes Nunes, delegado responsável
pelo caso.
O ex-assessor palaciano teria
convocado o primeiro encontro
para apresentar Cachoeira aos
executivos. O objetivo era firmar
parceria entre eles para ampliação
dos negócios de Cachoeira no
país. Das outras duas reuniões,
que serviram para "esclarecimentos" sobre a parceria, só participaram Waldomiro e os executivos.
Segundo o delegado César Nunes, ainda não há "evidências" da
influência de Waldomiro na renegociação da CEF (Caixa Econômica Federal) com a GTech, ocorrida no mesmo período das reuniões. "Não temos nenhuma evidência disso", afirmou.
"Não excluo nada, estamos investigando. Vamos chegar a alguma conclusão no final do inquérito. Por ora, querer decidir tudo
com base em apenas um depoimento não dá."
O teor dos depoimentos não foi
revelado, pois o inquérito foi submetido a sigilo a pedido do procurador da República Marcelo Serra
Azul, que acompanhou a investigação ontem.
O Ministério Público Federal já
havia ouvido pessoas próximas a
Cachoeira que informaram sobre
o encontro entre Waldomiro, o
empresário e representantes da
GTech do Brasil. Os procuradores
estimam que tenha havido mais
duas reuniões, um total de cinco
no início do ano passado.
Nenhum dos dois executivos
concedeu entrevista ontem. Rovai
falou à PF durante cerca de quatro
horas e meia e Lino Rocha, duas
horas e meia. Os dois chegaram
de táxi à superintendência da Polícia Federal.
A GTech cuida da operação do
sistema lotérico do país, mediante
um contrato de cerca de R$ 650
milhões anuais com a Caixa. Em
janeiro do ano passado, o contrato foi aditado emergencialmente
por 90 dias, até que a equipe do
PT conhecesse os pormenores.
Em abril, nova renovação ampliou o contrato por 25 meses.
Segundo a Folha apurou, o ex-vice-presidente de logística da
Caixa Mário Haag forneceu ao delegado um parecer interno assegurando que o banco poderia assumir 25% dos serviços lotéricos,
o que provocaria uma redução
nos valores pagos à empresa.
A Caixa sempre negou interferência de Waldomiro na renegociação com a GTech. O contrato
teria sido firmado porque liminares obtidas na Justiça pela empresa impossibilitavam uma licitação
nacional para o serviço.
A GTech divulgou ontem uma
nota em que diz ter "cooperado
plenamente com as autoridades
que buscam informações e continuará prestando todos os esclarecimentos sempre que oficialmente solicitada".
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