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NOVELA MINISTERIAL
Empresa da qual Romero Jucá foi sócio tem dívida com INSS
Candidato à Previdência, senador deve para a União
RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O mais forte candidato à Previdência na reforma ministerial, o
senador Romero Jucá (PMDB-RR) tem o nome de uma empresa
da qual foi sócio entre os devedores da União, inclusive do INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social), autarquia subordinada à
pasta. Seu próprio nome consta
como inadimplente nos registros
da Fazenda Nacional.
Jucá ainda é investigado em inquérito que tramita no Supremo
Tribunal Federal e apura desvio
de dinheiro público na Prefeitura
de Cantá, em Roraima.
Para evitar que o passado atrapalhe a indicação na reforma ministerial preparada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador pediu, por escrito, pressa
na conclusão do inquérito ao superintendente regional da Polícia
Federal em Roraima, Francisco
Mallman. Ainda tentou uma resposta ao ofício até a noite de sexta-feira, mas o delegado disse que
só poderia se manifestar por provocação do procurador-geral da
República, Claudio Fonteles.
Jucá também recorreu ao procurador da Fazenda Nacional para tentar limpar o nome no cadastro de inadimplentes. Há registro
de dívida no seu CPF datada de
junho de 2004. Entre a primeira
inscrição no Cadin (Cadastro dos
Inadimplentes) da Frangonorte
Indústria e Comércio Ltda. e a última, em seu próprio nome, passaram-se quase dez anos.
O caso da Frangonorte é um dos
mais notáveis na história do senador. Jucá entrou como sócio da
empresa em dezembro de 1994,
quando ela já devia R$ 4,61 milhões ao Basa (Banco da Amazônia), ao Banco do Brasil (R$ 202
mil) e ao INSS (R$ 36 mil).
As inscrições pendentes até sexta-feira no Cadin são, no caso do
Basa, de um mês anterior à entrada de Jucá na sociedade, e, no caso
do INSS, pouco mais de um ano
depois de sua passagem pela empresa. Consta ainda um terceiro
registro de inadimplência, lançado pela Caixa Econômica Federal
em março de 2003.
O empréstimo com o Basa foi liberado pelo FNO (Fundo Constitucional do Norte) para a instalação de um abatedouro de frangos
em Boa Vista (RR). Apesar dos repasses, a empresa não estava funcionando para cumprir o projeto
original aprovado pelo banco.
Como contou à Folha, em entrevista concedida na última sexta-feira, Jucá não desembolsou
um centavo para entrar no negócio. Para explicar o motivo pelo
qual teria se tornado sócio de um
empreendimento com tantas dívidas e desativado, Jucá culpou o
banco. "O Basa pediu, ele estava
com um abacaxi nas mãos e pediu
para se assumir", afirmou.
O senador se tornou sócio da
empresa junto com o ex-governador de Roraima Getúlio Cruz, a
quem atribui a idéia de tê-lo chamado para o negócio.
A entrada da dupla no negócio
foi providencial. Mesmo com tantos débitos, em dezembro de 1995
os donos da Frangonorte assinaram com o Basa uma escritura
pública de confissão e assunção
(ato de assumir) de todas as dívidas e logo depois -48 horas após
o documento ter sido registrado
em cartório- a empresa recebeu
mais R$ 750 mil do banco.
Por esse documento, Jucá, sua
mulher, Maria Tereza Jucá (hoje
prefeita de Boa Vista), Cruz e sua
mulher assumiram o papel de fiadores de todo o negócio, oferecendo garantias hipotecárias.
"Ardil"
Meses depois dessa operação
complexa, que significava um
compromisso formal dos donos
para enfim tirar o projeto do papel e quitar os débitos, Jucá resolveu sair da empresa. Exatamente
como entrou, ele disse que também deixou a sociedade sem receber um centavo. Naquela época, a
empresa continuava desativada.
Em agosto de 1996, o senador e
o ex-governador cederam suas
cotas para um empresário do
Ceará, Luiz Carlos Fernandes de
Oliveira. A partir daí, os antigos
donos passaram a questionar o
ato pelo qual assumiu as dívidas e
o papel de avalista. Em fevereiro
de 1997, Cruz fez gestões no Basa
para que fosse excluído o nome de
Jucá de responsabilidade das
obrigações contraídas no documento lavrado em dezembro de
1995. O Basa não aceitou.
Em maio último, Jucá abriu
uma ação contra o Basa para tentar desfazer a escritura pública.
Segundo o senador, o Basa "forçou" a assinatura do documento.
Ele se diz vítima de armadilha.
"Finalizando o ardil engendrado previamente, o banco forçou a
assunção da dívida através de escritura pública, onde exonera os
devedores originários", diz a ação
movida pelo senador.
Jucá estima que o débito total da
Frangonorte alcança hoje R$ 10
milhões, mas há estimativas de
que tenha ultrapassado R$ 32 milhões. "Eu estou no meio dessa
confusão, estou brigando com o
Basa para sair dessa história", diz.
Em outubro de 1997, mais de
um ano após a saída do senador
da empresa, o projeto permanecia
desativado. Ofício da agência do
Basa em Boa Vista, de outubro de
98, informa "que o empreendimento continua paralisado".
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