São Paulo, domingo, 13 de março de 2005

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PELADA NO TORTO

Lula recebeu Sócrates e Raí para um "amistoso" em Brasília; resultado da partida causou controvérsia

Recuado, "demônio" joga só 12 minutos

JULIA DUAILIBI
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Até na hora de entrar numa pelada com ex-integrantes da seleção e ministros, o presidente agiu como se estivesse conduzindo a reforma ministerial: jogou recuado, com passes discretos e poupando-se de divididas duras.
Na filmagem de um documentário sobre a vida do ex-jogador Sócrates, ontem, na Granja do Torto, Lula, ministros e parlamentares saíram a campo para mostrar que, quando o assunto é bola, entendem do negócio.
O problema é que os políticos estavam enferrujados. Houve caneladas, divididas -como a do ministro Ricardo Berzoini (Trabalho), que derrubou Raí- e "auto-contusão", como a do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). "Tenho resistência boa no plenário para enfrentar a oposição. No campo é outra coisa", disse o senador.
Sobre se algum ministro seria abatido no jogo, Mercadante disse: "A gente sabe separar [o jogo] da reforma. A vida pública é igual a esporte. O pessoal muda de posição, mas não sai do esporte".
Durante a semana, Lula dissera que as pessoas veriam o "demônio de Garanhuns" em campo.
O que aconteceu, porém, foi diferente. No primeiro tempo, Lula ficou dois minutos em campo. No segundo, jogou os dez minutos finais. Mais de uma vez, ao pegar a bola, fez sinal com as mãos pedindo calma aos companheiros.
Aparentando estar acima do peso, Lula correu pouco em campo, mas foi responsável por iniciar duas jogadas que renderam gols. Os irmãos Sócrates e Raí dividiram-se no comando dos times.
Lula jogou com Sócrates, com quem brincou: "Sócrates está fazendo um filme e não vai marcar um golzinho". Logo depois veio o gol, apelidado de medida provisória. Coube ao secretário-executivo da Casa Civil, Swedenberger Barbosa, não deixar o governo fazer feio. Marcou dois gols no time de Lula. "Dirceu [ministro da Casa Civil] tem uma influência tão grande no governo que, as duas vezes em que o Berger saiu para atendê-lo ao telefone, voltou e marcou gol", disse Jorge Viana (PT), governador do Acre.
No time de Raí, estavam outros irmãos de Sócrates e Antonio Palocci (Fazenda). O placar foi assunto de controvérsia. Uns diziam que foi 4 a 3, outros 5 a 4, ou 5 a 3 -todos pró-Lula. O jogo foi fechado à imprensa. A Folha acompanhou de longe e contou três gols do time de Raí (que fez dois deles) e cinco do de Sócrates (dois dele). A primeira-dama, Marisa Letícia, assistiu ao jogo.

Reforma

Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica) definiu ontem como "modéstia" as declarações do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, de que teria "perfil inadequado" para a pasta. "É uma atitude de modéstia de José Alencar. Estamos vendo a enorme capacidade que está tendo em gerenciar o ministério", disse ontem após aula magna do curso de pós-graduação em comunicação pública da ESPM, em São Paulo.
Gushiken negou que haja demora ou insegurança em definir os rumos da reforma. "O presidente tem o tempo dele e a responsabilidade única de definir."


Colaborou a Redação

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