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ASSEMBLÉIA PAULISTA
Patrocinados por lideranças tucanas no Estado, funcionários públicos da elite do Legislativo burlam lei
PSDB exonera servidor e frauda teto salarial
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Funcionários da elite da Assembléia Legislativa de São Paulo tiveram a ajuda do PSDB paulista para burlar o teto salarial de R$
13.540,85 estabelecido após a reforma da Previdência, promulgada em dezembro de 2003 pelo governo federal.
Em três casos levantados pela
Folha, servidores ligados à cúpula
do PSDB paulista que recebiam
do Legislativo salários ou aposentadorias acima do teto, e que, portanto, teriam de devolver a diferença, foram exonerados ou
transferidos (por meio de lei complementar) para órgãos que não
têm limite salarial. Todos ainda
trabalham na Casa.
Dois que foram exonerados tiveram parentes contratados no
mesmo dia. Esses parentes, segundo a reportagem apurou, não
trabalham nem nunca trabalharam na Assembléia.
Em todos os casos, houve a
atuação direta de deputados tucanos para nomear, exonerar ou
transferir servidores. Entre eles,
Sidney Beraldo, presidente da Casa, Edson Aparecido, candidato à
presidência, Vanderley Macris,
ex-presidente da Assembléia, e
João Caramez, deputado.
Os parlamentares do PSDB negam terem atuado de forma irregular para beneficiar os funcionários (leia texto nesta página).
Por lei
O secretário-geral parlamentar
da Assembléia paulista, Auro Augusto Caliman, ocupa um dos
cargos mais altos da Assembléia.
Cabe a ele, entre outras coisas, auxiliar o presidente Sidney Beraldo
em todas as sessões legislativas. A
despeito do teto do servidor legislativo, Caliman recebe por mês
aproximadamente R$ 18 mil.
Isso é possível porque Caliman
foi transferido para os quadros do
TCE (que não tem teto salarial)
por meio da lei complementar nš
968 de 5 de janeiro de 2005, assinada pelo governador Geraldo
Alckmin (PSDB). Desde então, ele
recebe pelo tribunal, mas segue
trabalhando na Assembléia.
A história teve início em agosto
do ano passado, quando o TCE
enviou à Assembléia um projeto
de lei complementar solicitando a
criação de 191 cargos e a extinção
de outros 21. O pedido foi submetido à apreciação de quatro comissões legislativas.
Numa delas, na Comissão de
Administração Pública, o deputado João Caramez (PSDB) fez um
pedido por escrito para que fosse
incluído no projeto original, "onde coubesse", o artigo que regulariza a transferência de Caliman
para os quadros de servidores do
tribunal. No artigo, constam o nome completo e o número do RG
do servidor.
O Departamento de Recursos
Humanos do tribunal informou
que o nome de Caliman consta no
quadro de servidores do TCE,
mas que não foi possível localizar
onde ele trabalha lá.
Parentes
O caso não é o único envolvendo a situação de funcionários irregulares com a ajuda da cúpula do
PSDB paulista.
Com a entrada em vigor do teto
salarial, servidores aposentados
recontratados em cargos de confiança tiveram de ser exonerados
do serviço público porque a soma
de seus recebimentos ultrapassava o limite do Legislativo.
Foi o que aconteceu com Maria
Alexandrina Bizarro Amaro Mori
e com Luiz de Godoy Cotti, que
recebem aposentadoria de cerca
de R$ 16 mil e R$ 13 mil, respectivamente.
Maria Alexandrina ainda recebia R$ 6 mil como assessora dos
deputados Edson Aparecido e
Macris. Luiz Cotti, por sua vez, ganhava aproximadamente R$ 4 mil
como assistente legislativo da presidência da Assembléia.
Os dois foram exonerados do
serviço público no dia 14 de janeiro de 2004, conforme informa o
Diário Oficial do Legislativo.
No mesmo dia da exoneração,
foram contratados a cunhada de
Maria Alexandrina, Neusa Maria
Mori Mendes, como assessora especial parlamentar (salário de R$
6.444,27), e Fábio Teganho Cotti,
que substituiu o pai no cargo.
Desconhecidos
Tanto Neusa Maria como Fábio
Cotti nunca foram vistos na Assembléia. São desconhecidos pelos funcionários da Casa e seus
nomes não constam na lista interna de servidores, segundo informação do Departamento Pessoal
gravada pela reportagem.
No caso de Neusa Maria, a Folha apurou que ela trabalha numa
gráfica. Chega por volta das 9h da
manhã e nunca sai antes das 18h.
Fábio, por sua vez, tem uma empresa de representação comercial.
Quando a Folha quis saber o
que faziam Neusa Maria e Fábio,
num primeiro momento, assessores de deputados disseram nunca
terem visto ou ouvido falar dos
dois. Mesmo nos gabinetes, os
nomes deles eram desconhecidos.
Depois, quando informados do
teor da reportagem, os mesmos
assessores mudaram de versão.
Disseram que ambos os funcionários trabalham normalmente na
Casa. Neusa, no gabinete de Edson Aparecido. Fábio Cotti, com o
deputado Campos Machado
(PTB) -da base de sustentação
de Alckmin na Assembléia.
Após tomar conhecimento da
reportagem, a assessoria de Edson Aparecido informou que
Neusa Maria trabalhou na Casa
na última sexta-feira. Segundo assessores de Campos Machado,
Fábio Cotti poderá ser localizado
no gabinete a partir de amanhã.
Diferentemente de Neusa Maria
e de Fábio, convocados às pressas
pelos políticos para contornar o
escândalo, os aposentados Maria
Alexandrina e Luiz Cotti, oficialmente substituídos pelos dois primeiros, continuam marcando
presença diária na Casa.
Ela, por exemplo, pode ser encontrada na liderança do governo. Maria Alexandrina cuida ainda de projetos de lei de Edson
Aparecido. Já Luiz Cotti, ironicamente, é responsável por nomeações e exonerações de servidores.
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