|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Festa vira palanque eleitoral para Patrus
Ministro faz discurso de candidato em comemoração de quarto aniversário da pasta que comanda o programa Bolsa Família
Lula aponta preconceito em elite, "que acha que tudo o que a gente dá pra ela é investimento e tudo o que a gente dá aos pobres é gasto"
EDUARDO SCOLESE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do
vice, José Alencar, e de 16 ministros, a comemoração do aniversário de quatro anos do Ministério do Desenvolvimento
Social, num superlotado auditório do Quartel General do
Exército, transformou-se em
palanque para o titular da pasta, o petista Patrus Ananias.
Ex-prefeito de Belo Horizonte e no comando da pasta desde
a sua criação, no início de 2004,
Patrus tem aspirações políticas
para 2010, tanto para a sucessão do governo mineiro como à
corrida presidencial. É dele o
comando do principal programa social do governo, o Bolsa
Família, que atende 11 milhões
de famílias pelo país, o equivalente a 45 milhões de pessoas.
Questionado à saída do auditório sobre suas pretensões
eleitorais na sucessão de Lula,
Patrus fez pausa para pensar e
desconversou. "Não considero
essa questão, não faço política
pensando em degrau superior",
disse, insistindo em classificar
como "precoce" o debate sobre
escolha do candidato petista.
Na solenidade, Patrus fez discurso de candidato. De improviso, falou durante 43 minutos,
bem mais do que o presidente.
Os primeiros cinco minutos foram reservados a agradecer os
presentes ao auditório.Todas
as 1.280 cadeiras estavam ocupadas, além dos corredores e
escadarias de acesso ao palco.
Conhecido por ser um ministro de fala mansa, Patrus aumentou o tom de voz em alguns
momentos. Ligado à Igreja Católica, ele fez agradecimentos a
Deus e a Lula, sobretudo a Lula.
Atacou a privatização da Vale
do Rio Doce e colocou em xeque o direito à propriedade.
"A Vale do Rio Doce, infelizmente privatizada por um preço muito aquém de seu valor e
da sua importância na formulação da soberania nacional", disse, ao citar os projetos nacionais do século passado, com a
Petrobras. "É um erro irreversível", explicou mais tarde.
Patrus comparou o Bolsa Família ao PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento),
coordenado pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Ela
foi chamada de "mãe" do PAC
por Lula numa tentativa de torná-la conhecida nacionalmente. A ministra tem a preferência
de Lula, enquanto Patrus possui mais trânsito e simpatia entre os petistas, além de já ter
uma carreira de disputas eleitorais -o que ela não tem.
Lula falou logo após Patrus.
Também de improviso, discursou por 20 minutos e cobrou do
ministro Paulo Bernardo (Planejamento) a abertura de concurso para ampliar o atual quadro de funcionários da pasta de
Patrus, hoje em 1.300 pessoas
(a maioria terceirizada ou cedida por outro ministério). O presidente agradeceu a "lealdade",
o "compromisso" e a "dedicação" de Patrus e criticou o "preconceito" com os programas
sociais do governo, em especial
o Bolsa Família.
"O grande adversário do ministério e dos programas foi enfrentar o preconceito. Um preconceito cultural que está arraigado na cabeça de parte da
elite brasileira, que acha que
tudo o que a gente dá pra ela é
investimento e tudo o que a
gente dá aos pobres é gasto."
Texto Anterior: Prioridade: Reforma política é a mais urgente para o Brasil, declara Lula Próximo Texto: Governo Lula turbina programa social em ano eleitoral Índice
|