São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Festa vira palanque eleitoral para Patrus

Ministro faz discurso de candidato em comemoração de quarto aniversário da pasta que comanda o programa Bolsa Família

Lula aponta preconceito em elite, "que acha que tudo o que a gente dá pra ela é investimento e tudo o que a gente dá aos pobres é gasto"

EDUARDO SCOLESE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice, José Alencar, e de 16 ministros, a comemoração do aniversário de quatro anos do Ministério do Desenvolvimento Social, num superlotado auditório do Quartel General do Exército, transformou-se em palanque para o titular da pasta, o petista Patrus Ananias.
Ex-prefeito de Belo Horizonte e no comando da pasta desde a sua criação, no início de 2004, Patrus tem aspirações políticas para 2010, tanto para a sucessão do governo mineiro como à corrida presidencial. É dele o comando do principal programa social do governo, o Bolsa Família, que atende 11 milhões de famílias pelo país, o equivalente a 45 milhões de pessoas.
Questionado à saída do auditório sobre suas pretensões eleitorais na sucessão de Lula, Patrus fez pausa para pensar e desconversou. "Não considero essa questão, não faço política pensando em degrau superior", disse, insistindo em classificar como "precoce" o debate sobre escolha do candidato petista.
Na solenidade, Patrus fez discurso de candidato. De improviso, falou durante 43 minutos, bem mais do que o presidente. Os primeiros cinco minutos foram reservados a agradecer os presentes ao auditório.Todas as 1.280 cadeiras estavam ocupadas, além dos corredores e escadarias de acesso ao palco.
Conhecido por ser um ministro de fala mansa, Patrus aumentou o tom de voz em alguns momentos. Ligado à Igreja Católica, ele fez agradecimentos a Deus e a Lula, sobretudo a Lula. Atacou a privatização da Vale do Rio Doce e colocou em xeque o direito à propriedade.
"A Vale do Rio Doce, infelizmente privatizada por um preço muito aquém de seu valor e da sua importância na formulação da soberania nacional", disse, ao citar os projetos nacionais do século passado, com a Petrobras. "É um erro irreversível", explicou mais tarde.
Patrus comparou o Bolsa Família ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), coordenado pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Ela foi chamada de "mãe" do PAC por Lula numa tentativa de torná-la conhecida nacionalmente. A ministra tem a preferência de Lula, enquanto Patrus possui mais trânsito e simpatia entre os petistas, além de já ter uma carreira de disputas eleitorais -o que ela não tem.
Lula falou logo após Patrus. Também de improviso, discursou por 20 minutos e cobrou do ministro Paulo Bernardo (Planejamento) a abertura de concurso para ampliar o atual quadro de funcionários da pasta de Patrus, hoje em 1.300 pessoas (a maioria terceirizada ou cedida por outro ministério). O presidente agradeceu a "lealdade", o "compromisso" e a "dedicação" de Patrus e criticou o "preconceito" com os programas sociais do governo, em especial o Bolsa Família.
"O grande adversário do ministério e dos programas foi enfrentar o preconceito. Um preconceito cultural que está arraigado na cabeça de parte da elite brasileira, que acha que tudo o que a gente dá pra ela é investimento e tudo o que a gente dá aos pobres é gasto."


Texto Anterior: Prioridade: Reforma política é a mais urgente para o Brasil, declara Lula
Próximo Texto: Governo Lula turbina programa social em ano eleitoral
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.