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CELSO PINTO
O que mudou no Copom
O Copom, fórum do Banco
Central de discussão mensal das
taxas de juros, está ficando cada vez mais parecido aos conselhos equivalentes de países desenvolvidos. Tem havido cada
vez mais discussão prévia às decisões.
No início, as reuniões do Copom eram abertas pelo diretor
da área monetária, que trazia
uma sugestão do que fazer.
Colocava-se a proposta em
votação. Cada um apresentava suas razões para o voto,
mas a partir de alternativas
dadas.
O Copom é formado pelos
membros da diretoria do Banco Central: sete, incluindo o
presidente. A votação se iniciava com o voto do presidente. Só que nem sempre o presidente ganhava a votação.
Gustavo Loyola, como presidente, chegou a ser voto vencido no Copom.
Para evitar constrangimentos, o Copom passou a deixar
o voto do presidente por último. Nesse caso, no entanto, às
vezes o voto torna-se irrelevante: a decisão pode já ter
sido definida a partir dos votos anteriores.
A mudança mais importante, contudo, foi a introdução
de uma discussão mais ampla
antes da votação. Discute-se
não só um voto preparado pelo diretor da área, mas alternativas, o que dá mais substância às decisões.
Na última reunião do Copom, que decidiu cortar os juros, que passaram de 34,5%
para 28%, bem mais do que o
mercado esperava, houve uma
discussão animada e divergências, separando, inclusive,
a posição do presidente, Gustavo Franco, da posição de diretores. No final, o corte dos
juros foi selado pela decisão
unânime dos membros do Copom.
Entender as razões e as discussões em torno da decisão
dos juros, nesse contexto, tornou-se ainda mais relevante.
É assim, aliás, em todos os
países onde existem comitês
desse tipo e, em alguns casos,
não há restrições em deixar
vir a público as discussões, depois de certo tempo.
Na última reunião do Copom, o principal argumento
em favor de uma redução
mais drástica dos juros foi a
rápida recuperação das reservas. O mais forte argumento
contrário foi a situação fiscal,
mas com uma qualificação.
Os "falcões" achavam que os
péssimos resultados fiscais de
97 deveriam ser seguidos por
uma redução pequena dos juros, como uma sinalização da
preocupação do governo com
a questão. Houve, contudo,
um argumento contrário, que
acabou prevalecendo.
Se o Banco Central mantivesse os juros ainda mais altos, o impacto fiscal negativo
sobre o custo da dívida pública seria muito ruim. Como o
mercado sabe disso, seguia o
argumento, a percepção seria
de que a situação fiscal ficaria
ainda mais frágil. Se uma nova onda de instabilidade internacional, mais à frente,
obrigasse o BC a elevar novamente os juros, haveria menos
espaço fiscal para fazê-lo com
eficácia.
É fácil entender a razão. Só
no mês de março vencem R$
39,6 bilhões em títulos da dívida pública federal. Em abril
vencem outros R$ 36,2 bilhões
e em maio, R$ 25,7 bilhões.
Quer dizer, são R$ 101,5 bilhões em títulos federais a ser
rolados em apenas três meses,
equivalentes a 46% do total
da dívida mobiliária federal.
Qualquer diferença de alguns
pontos percentuais no custo
da rolagem dessa dívida tem
um peso mais do que significativo.
Desde a crise de outubro, o
BC encurtou dramaticamente
o prazo de colocação dos papéis. Faz sentido do ponto de
vista do custo. Já que os juros
são cadentes, isso evita que o
BC se amarre pagando juros
altíssimos por muito tempo.
Cria, contudo, o desconforto
de ter de rolar volumes muito
altos de títulos em prazos curtos.
O fato é que prevaleceu o argumento em favor de um corte
mais profundo no piso dos juros
de curto prazo, a TBC. Em compensação, ao reduzir bem menos o teto dos juros de curto
prazo, a TBAN, o BC abriu um
espaço para os juros de 28% subirem até 38%, se necessário,
sem precisar de uma decisão
formal do Copom, ou de qualquer discussão interna. Sabendo
do risco de que os juros podem
dar outro salto brusco para cima, os bancos tendem a ser mais
cautelosos ao ampliar os empréstimos. O que acaba tendo
uma "função didática", como
diz um diretor do BC.
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