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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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JANIO DE FREITAS

O avesso da vitória

A facilidade , até um tanto ridícula, com que os superarmados americanos entraram em Bagdá está vista apenas como vitória militar de Bush/ Blair, que de fato foi, mas tem um lado de derrota política e moral que, obscurecida no alívio e na euforia, tende a pesar no futuro de ambos.
A absoluta falta de resistência militar em Bagdá constituiu um desmentido desmoralizador a tudo o que Bush e Blair disseram, como pretensa justificativa para transgredir os princípios das Nações Unidas e atacar o Iraque. Já com a cidade invadida, ainda dizia Blair logo no início da transmissão de TV especial para os iraquianos: "Não desejávamos a guerra. Mas, ao se recusar a abrir mão de suas armas de destruição em massa, Saddam não nos deixou escolha senão agir".
Nem é mais o caso de indagar pelas armas de destruição em massa. Bagdá, que levava Bush a advertir para uma batalha difícil ali, e guerra longa, não teve a defendê-la nem as armas vulgares. Nem franco-atiradores capazes de aparentá-la, como conviria à dignidade de uma capital, um pouco menos fácil do que as demais cidades. O Iraque, passados 12 anos de embargo econômico, estava incapacitado. Os anos de espionagem feita dia e noite, por aviação e pela CIA, não deram tal informação aos governos americano e inglês?
A vitória fácil vale, contraditoriamente, como denúncia de Bush e Blair. E seus adversários políticos, os internos e os de tantos outros países, já sabem que têm um armamento poderoso, para uso na ocasião oportuna. A esta altura, nem o aparecimento de armas de destruição em massa mudaria alguma coisa, porque ninguém acreditaria que não fosse mais uma adulteração. O mundo vê que Bush e Blair não causaram a queda de um regime ditatorial: provocaram a ruína de um país e seu povo.

Curiosidade
O combate aos traficantes e à bandidagem em geral tem curiosidades que explicam muito da situação, mesmo que não respondidas.
Tal como no governo de Anthony Garotinho, quando ocorre uma investida mais desaforada dos bandidos, em represália a alguma providência, a PM do governo de Rosinha Garotinho invade uma favela e prende ou mata um chefão do tráfico. Foi o que fez há quatro dias, com a morte do chefão do tráfico e de arruaças intimidatórias a partir de uma favela entre Copacabana e Ipanema. Se, em resposta a tiros em lojas ou queima de ônibus, a PM pode ir buscar um chefão e o traz preso ou morto, por que não o foi buscar antes, deixando-o à vontade até que tornasse indispensável uma satisfação pública das chamadas autoridades?
Não há resposta disponível. Apenas se tem a prova, supondo-se que fosse necessária sua existência, de que não é preciso esperar. No governo de Benedita, o maior êxito foi o das prisões de bandidos do tráfico e colegas seus infiltrados na PM.

Comando
O pedido do líder petista Nelson Pellegrino ao ministro Antonio Palocci, de um esforço contrário à idéia de que o governo se sujeita a determinações do FMI, é uma demonstração perfeita de quanto a prometida transparência ficou opaca.
O pedido foi feito na reunião em que Palocci falou aos deputados sobre a necessária aprovação da Lei de Falências -cobrada pelo FMI. Também sobre a próxima remessa ao Congresso da reforma da Previdência, que Luiz Inácio Lula da Silva disse mandar até maio -e que o FMI deu prazo até junho para estar no Congresso. E Palocci falou ainda da reforma tributária, que há três dias Lula disse chegar ao Congresso "no dia 16 ou 17" agora -e que tem o mesmo prazo dado pelo FMI.
Não só a determinação de providências, mas até os prazos estão ditados pelo FMI, mas nem os comandos petistas estão informados, quanto os 52 milhões que votaram por uma nova concepção de governo.


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