São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ HORA DAS CONCLUSÕES

Líderes da oposição atacam presidente, mas negam intenção de pedir impeachment

Lula é o responsável por "quadrilha", afirma Tasso

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A oposição acusou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser o responsável pela formação da "organização criminosa" que, segundo denúncia feita pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, é integrada por membros do governo e do PT. Apesar disso, parlamentares do PSDB e do PFL afirmaram que não pedirão o impeachment do presidente Lula para não serem acusados de golpismo nas eleições.
"Quero dizer que esse fato envolve sim, diretamente, o presidente da República. Ele é responsável pelo governo. O grande responsável pela formação da quadrilha é o presidente da República", disse o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE).
O procurador-geral denunciou 40 pessoas ao Supremo Tribunal Federal sob acusação de integrar uma "organização criminosa" comandada pelo ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) e pelos petistas José Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira. Lula foi poupado nessa parte do inquérito. Segundo o procurador-geral, não há elemento capaz de justificar uma ação penal contra o presidente.
Apesar do discurso contundente, a oposição está cautelosa quanto a ações práticas. Para tucanos e pefelistas, um pedido de impeachment poderia favorecer o PT nas eleições. "Vão tentar caracterizar como tentativa de golpe e transformar o Lula em vítima. Colocaríamos água na tese deles de que é o candidato dos pobres contra o candidato dos ricos", afirmou o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP). Em Minas Gerais, o governador Aécio Neves (PSDB) disse que não torce pelo impeachment, apesar da gravidade das denúncias.
O texto do procurador-geral foi elogiado no plenário do Senado. "A denúncia é muito apropriada, entretanto penso que a responsabilidade principal é do presidente da República", afirmou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Mas houve críticas: "Se estão ali os altos escalões do governo, não citou o presidente Lula porque não quis. Mas que o presidente Lula é o grande responsável eu não tenho dúvida. Tudo isso aconteceu em volta dele e ele não sabe de nada?", questionou o senador Pedro Simon (PMDB-RS).
As poucas e tímidas manifestações petistas no plenário foram compensadas pela visita do ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) aos líderes do PSDB e do PFL no Senado, Arthur Virgílio (AM) e José Agripino (RN).
"É um direito da oposição levantar essa questão [impeachment], mas não tem racionalidade jurídica, política nem o apoio da população", afirmou Tarso.
Na Câmara, governistas atacaram Antonio Fernando. O líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), afirmou que o procurador foi "mordido pela mosca azul", expressão que significa deslumbramento com o poder. Mas Chinaglia também elogiou o desempenho "independente" do procurador.
Para o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), o tom da denúncia foi "adequado". "Os tempos do engavetador-geral da República eram dos tucanos. O relatório é adequado, pois descreve situação de caixa dois e repasse ilegal para a base aliada. Esse processo, comandado pelo publicitário Marcos Valério, alimentou o PFL e o PSDB. Infelizmente, também o PT", declarou.
O senador Almeida Lima (PMDB-SE) começou a recolher assinaturas para criar uma CPI para investigar suspeitas contra Lula. No final da tarde de ontem, tinha o apoio de seis senadores.
(FERNANDA KRAKOVICS, ADRIANO CEOLIN E FÁBIO ZANINI)


Leia a íntegra da denúncia do procurador-geral na
www.folha.com.br/061023



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