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Governo já negocia com tucanos fim da reeleição
Proposta, que tem apoio de Serra, será apresentada por Tarso ao conselho político
Mandato seria ampliado para cinco anos; plano de tucano prevê que, em 2010, governantes em primeiro mandato possam concorrer
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Governistas já negociam com
tucanos a aprovação de uma
emenda que põe fim ao instituto da reeleição e amplia em um
ano a duração dos mandatos no
país. A proposta -que conta
com o apoio do governador de
São Paulo, José Serra- será
apresentada pelo ministro da
Justiça, Tarso Genro, ao conselho político de coalizão na reunião do dia 23.
Responsável pela desenho do
modelo governista de reforma
política, Tarso diz que "o governo, a base do governo, é favorável [à emenda], basta uma definição da oposição para votarmos o fim da reeleição".
Para a fixação de prioridades
do governo, Tarso ouviu aliados
e fez um levantamento dos projetos em curso no Congresso.
"Na nossa base, o fim da reeleição é amplamente majoritário", afirmou o ministro.
A proposta já foi pauta de almoço entre o deputado Jutahy
Magalhães Júnior (PSDB-BA) e
o governador da Bahia, o ex-ministro Jacques Wagner (PT),
no sábado de Aleluia, na praia
de Guarajuba (litoral norte
baiano). Segundo Jutahy, o governador defendeu a inclusão
do fim da reeleição na agenda
de reforma política.
Terceiro mandato
Autor de emenda com esse
teor, Jutahy enfatizou, porém,
um temor do tucanato: que,
com a tramitação, fosse aberta
a oportunidade para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
buscar um terceiro mandato.
Segundo Jutahy, Wagner
"disse que não tinha procuração para falar em nome de Lula,
mas que tinha a convicção de
que isso não passava pela cabeça do presidente".
Wagner teria dito ainda que o
governo poderia se manifestaria publicamente contra o terceiro mandato.
"Só podemos votar se houver
um compromisso público de
que esse risco não existe", justificou Jutahy.
Após o almoço, Jutahy consultou Serra. O deputado também procurou o ex-líder do PT
na Câmara Henrique Fontana
(RS) para confirmar se a proposta teria o apoio da bancada.
De acordo com o tucano, tanto
o discurso de Wagner como o
de Fontana é o mesmo.
Um dos articuladores políticos de Aécio Neves, o vice-presidente da Câmara, Nárcio Rodrigues (PSDB-MG), afirma
que, no ano passado, o governador de Minas propôs a reedição
de uma emenda de sua própria
autoria pelo fim da reeleição.
À época, conta Rodrigues,
"emissários do presidente Lula
[com quem Aécio conversou]
disseram que a proposta era
bem-vinda".
Procurado pela Folha, Wagner não se manifestou.
Pelo projeto de Jutahy, os
atuais governantes em primeiro mandato manteriam o direito à reeleição em 2010. Eles teriam ainda mais um ano de administração. Um governador
eleito no ano passado -como é
o caso do próprio Wagner- teria nove anos de mandato, caso
reeleito em 2010. O mesmo valeria para os prefeitos.
A fórmula seria uma tentativa de aplacar a resistência dos
atuais prefeitos ao fim da reeleição. Mas, ainda assim, há
quem duvide da adesão dos
prefeitos à proposta.
Não está fixado ainda o que
aconteceria com o mandato
dos deputados -com eleição
coincidente com as de governadores e presidente- e dos vereadores. Um aumento de
mandato para os parlamentares seria outro instrumento para conquista de adeptos.
Ainda não está definito a forma final do texto. Segundo Tarso Genro, poderá ser definido
futuramente. "Isso será submetido ao conselho político."
Resistências
Além da potencial reação dos
prefeitos, há resistências ao
projeto dentro do PSDB, a começar pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Apesar de defender o fim da
reeleição, o presidente do PT,
Ricardo Berzoini (SP), também
diz que a proposta não é consenso no partido.
O fim da reeleição não é o
único alvo de polêmica. Na exposição que fará ao conselho
político, Tarso apresentará três
prioridades do governo para reforma política: o financiamento público de campanha, o voto
em lista e a fidelidade partidária. Mas, certo das restrições ao
modelo de voto em lista, afirma: "Se aprovarmos o financiamento público e a fidelidade
partidária, ficaremos felizes".
Berzoini também antevê dificuldades na tramitação da reforma. "No PT, nada é consenso. A proposta mais madura é a
fidelidade partidária", afirmou
ele, lembrando que, sem o voto
em lista, seria necessário "um
modelo criativo" de financiamento público de campanha.
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