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São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

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JANIO DE FREITAS

O tribunal das bravatas

Se o PT tivesse mesmo uma Comissão de Ética, e não um tribunal que, sob aquele nome de guerra, vai julgar os parlamentares leais aos princípios do partido, as condutas a serem apreciadas seriam as dos petistas que hoje definem as posições históricas do petismo como "bravatas de oposição" e querem impor o que repeliram, inclusive, com votos parlamentares e documentos assinados.
Se o PT tivesse mesmo uma Comissão de Ética, Luiz Inácio Lula da Silva, José Genoino, Antonio Palocci, João Paulo Cunha, Ricardo Berzoini e outros mais seriam os convocados. Pelos registros que deixaram e pelas atitudes públicas que têm hoje, ou faltaram com a ética partidária nos anos em que deram ao petismo vida e forma que seriam ilusórias ou faltam com a ética partidária agora, se no passado não faziam ilusionismo.
Haveria lugar para a terceira hipótese, sim, o sempre vivo meio-termo, sob os discutíveis argumentos de mudanças das circunstâncias e coisa e tal.
Mas aqueles condutores do PT, assim como no passado, preferiram o tudo ou nada, embora vestido pelo avesso. Foram-se de uma ponta para a outra, e quem não foi deve ser trucidado. Para não ficar como uma consciência crítica.
Muitas das atuais lideranças do PT participaram do movimento brutal de expulsão dos três que decidiram votar em Tancredo Neves, na eleição indireta para a Presidência. Lula, que presidiu a reunião expulsória, disse há pouco que chorou então, que era contra punição extremada. Nem os satisfeitos nem os constrangidos, porém, extraíram algo de aproveitável do episódio.
Ou seja, até hoje não perceberam que o seu autoritarismo favorecia a extrema direita desejosa de manter o regime militar. Se Tancredo Neves fosse derrotado por Paulo Maluf -o que por pouco não aconteceu-, tudo conduziria a uma aliança lógica: Paulo Maluf como presidente de direito e a linha dura militar como poder de fato. Combinação para que o primeiro não fosse derrubado, provavelmente até com apoio popular, e a antidemocracia preservasse o domínio do país.
O ideário das lideranças petistas inverteu o sinal, a ética petista volta-se contra a coerência, mas a prepotência continua a mesma. Talvez para que os petistas mantenham uma lembrança do PT.


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