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São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

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OPERAÇÃO SOCIAL

Proposta do presidente para financiar fundo de combate à fome deve ser apresentada em reunião do G-8

Contra a fome, Lula quer taxa sobre venda de armas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estuda levar à próxima reunião do G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo, além da Rússia), no início de junho, proposta de formação de um fundo internacional de combate à fome que seria financiado com 50% do serviço da dívida externa de países pobres além de mais 1% do total movimentado pelo comércio internacional de armas.
O fundo poderia ser administrado pela ONU. O Planalto ainda estuda uma outra opção, mais modesta: que o fundo seja composto apenas por títulos da dívida dos países mais pobres. Essa proposta excluiria o Brasil e beneficiaria pequenos países africanos.
Lula participará como convidado do encontro, que se realiza na cidade francesa de Evian. A informação foi dada pelo presidente a representantes de igrejas que se encontraram com ele no Palácio do Planalto, ontem à tarde, e relatada, à saída do encontro, pelo secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), o pastor luterano alemão Konrad Raiser.
O CMI reúne igrejas consideradas "evangélicas históricas" em todo o mundo: luteranas, anglicanas, metodistas, presbiterianas, entre outras. Participaram também do encontro o Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil) e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
A assessoria de imprensa da Presidência da República confirmou que as propostas foram mencionadas por Lula no encontro, mas que, até o momento, são "alternativas estudadas" para o projeto final que será levado.
Raiser relatou apenas que a proposta estudada por Lula é que a parcela do serviço da dívida (juros sobre a dívida externa) a ser destinada ao combate à pobreza seja antes convertida em títulos.
"Em vez de pagar essa dívida para os países credores, isso seria transformado em títulos. Esses títulos, por sua vez, seriam recomprados pelos países credores e então se criaria um fundo que seria administrado pela ONU ou por outra entidade internacional", afirmou o alemão.
Lula não especificou na conversa se os recursos para o combate à fome seriam exclusivamente destinados a países considerados pobres pela ONU, ou se o critério seria mais amplo.
Também não ficou claro se a dívida externa seria apenas com países ricos ou referente a instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI), nem quanto poderia ser arrecadado anualmente pelo fundo.
Na conversa, Lula omitiu uma proposta historicamente defendida por economistas do PT, a "taxa Tobin", idealizada pelo economista norte-americano James Tobin. A idéia seria taxar em 1% a movimentação mundial de capital especulativo, para criar fundo de combate à pobreza.

Convite
O Conselho Mundial de Igrejas convidou Lula a participar da assembléia mundial da instituição em 2006, que ocorrerá no Brasil.
Os líderes religiosos também entregaram uma carta ao presidente apoiando as reformas e o combate à fome no país.
"Colocamo-nos à disposição de Vossa Excelência como interlocutores solidários, ainda que também no uso da liberdade evangélica crítica quando essa for a contribuição necessária", declara a carta dos religiosos.
(FÁBIO ZANINI)


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