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GOVERNO SOB PRESSÃO
Procurador-geral conclui que ministro era responsável pela Frangonorte quando empréstimo foi concedido
Fonteles pede ao STF inquérito sobre Jucá
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O procurador-geral da República, Claudio Fonteles, pediu ontem
a abertura de inquérito no STF
(Supremo Tribunal Federal), a ser
conduzido pela Polícia Federal,
para investigar o ministro Romero Jucá (Previdência Social) por
supostas irregularidades no empréstimo concedido à empresa
Frangonorte, de Roraima.
A empresa pertenceu a Jucá entre 1994 e 1997. O Basa (Banco da
Amazônia) cobra do ministro Jucá e de seu ex-sócio Getúlio Cruz
uma dívida de R$ 25 milhões do
FNO (Fundo Constitucional do
Norte). O dinheiro provém de recursos públicos. O valor cobrado
foi atualizado pelo banco no último mês de março.
Procurado ontem pela Folha, o
ministro não foi localizado para
falar sobre o assunto. Ele passou a
tarde em Manaus (AM). Segundo
a assessoria do ministério, em
Brasília, Jucá teria um compromisso oficial às 15h, na Prefeitura
de Manaus, e em seguida iria
cumprir "agenda pessoal". O advogado de Jucá, Antonio Carlos
de Almeida Castro, disse esperar
que o Supremo não acolha o pedido de abertura de inquérito feito
pelo procurador-geral da República (leia texto ao lado).
Diligências
Além da abertura de uma investigação criminal (havia, até ontem, somente procedimento administrativo interno na Procuradoria), Fonteles pediu a realização
de seis diligências, incluindo obter cópias da representação do
procurador junto ao TCU (Tribunal de Contas da União) Marinus
Eduardo Marsico e de um relatório da CGU (Controladoria Geral
da União) sobre o assunto.
No início desta semana, Marsico apontou Jucá, em representação no tribunal, como beneficiário "de ação criminosa e fraudulenta" -a apresentação, como
garantia, de sete fazendas inexistentes no Amazonas, em agosto
de 1996. Só depois dessas garantias é que o Basa aceitou liberar a
segunda parte do empréstimo, de
R$ 1,5 milhão ao todo.
A apresentação das falsas garantias foi revelada pela Folha no
último dia 28 de março. Em seu
parecer, Fonteles passou ao largo
da questão. O procedimento foi
originado para apurar outros aspectos do empréstimo, como a
destinação do dinheiro. O advogado de Jucá disse considerar a
questão das fazendas inexistentes
um assunto "superado", já que o
procurador "não pediu explicações", declarou Almeida Castro.
Mas o procurador, no decorrer
do possível inquérito, também
poderá estender a investigação
para esse ponto. Sinal disso foi a
requisição da decisão do procurador junto ao Tribunal de Contas
da União. O parecer do procurador-geral, de 14 páginas, levanta
suspeitas e traz algumas conclusões. Destaca-se o seguinte:
1 - Fonteles concluiu que o empresário Luiz Carlos Fernandes de
Oliveira era apenas "mero empregado" de Romero Jucá. Isso pode
comprometer toda a defesa do
ministro no tocante às fazendas,
estruturada na tese de que Oliveira, "um novo sócio", foi o responsável pela apresentação das propriedades fictícias e outros atos
posteriores à saída do ministro da
Previdência do negócio.
Fonteles examinou uma cláusula do contrato pelo qual o ministro da Previdência transferiu cotas suas da empresa para Oliveira.
O procurador-geral sustenta que
Oliveira exerceria na empresa
apenas cargo de gerente, uma vez
que ele estava proibido de "assinar aval, carta de crédito, carta de
fianças e hipotecas, pela empresa
ou pela pessoa física, fazer empréstimos com recursos da empresa, nem mesmo para o sócio,
sob qualquer hipótese".
Dono
"Na verdade, Romero Jucá Filho
e Getúlio Cruz permaneciam na
administração central da empresa, porque a cláusula terceira dessa alteração foi textual em colocar
Luiz Carlos como mero gerente",
escreveu o procurador-geral. O
contrato é de 27 de agosto de 1996
- 15 dias depois da apresentação
das fazendas. A conclusão implícita é que Jucá era o responsável
pela Frangonorte na época.
2 - Fonteles obteve e transcreveu
trechos de um relatório de fiscalização do Basa que mostrou o
abandono do empreendimento
mesmo após a liberação da primeira parcela do financiamento,
de R$ 750 mil, no dia 22 de dezembro de 1995. O procurador
pediu que a PF tome os depoimentos dos gerentes do Basa à
época da operação para que expliquem por que desconsideraram
alerta escrito do funcionário do
banco que fiscalizou a empresa,
Antônio de Carvalho Nunes.
Ao final do seu relatório, Nunes
recomendou "não liberar recursos enquanto permanecem as irregularidades". Mesmo com essa
advertência, o Basa desembolsou
mais R$ 750 mil em agosto de
1996 (tendo como garantia as sete
fazendas fantasmas).
Entre os pontos a serem inquiridos dos gerentes do Basa, Fonteles destaca a necessidade de esclarecer as seguintes dúvidas: "Por
que nova vistoria não foi feita, e
quem autorizou a liberação de
mais R$ 750 mil poucos meses
após ter o fiscal Antônio de Carvalho Nunes expressamente consignado, em laudo, que a situação
técnica do plano era anormal, que
a situação administrativa da empresa era insatisfatória, que não
havia, em local visível, placa alusiva ao financiamento e que o conceito do cliente era insatisfatório,
o pior nas opções de avaliação".
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