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"Anapu não é cidade que só tem bandido", diz prefeito
Luiz dos Reis não crê em aumento da violência por conta da absolvição de Bida
Fazendeiros e madeireiros da região evitam comentar o assunto; "Na minha vida, isso não muda nada", se esquiva produtor rural
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ANAPU
Depois do assassinato da
missionária Dorothy Stang, em
2005, Anapu (oeste do Pará)
passou a ser vista, injustamente, como uma cidade onde "só
tem bandido". A opinião é de
Luiz dos Reis (PR), prefeito do
município e proprietário rural.
"Veio Polícia Federal, Ibama,
até os [policiais] norte-americanos estiveram aqui. Como se
só tivesse gente ruim em Anapu, e isso não é verdade", afirmou ontem o prefeito.
Reis foi abordado pela reportagem quando comparecia a
um encontro da população idosa da cidade. Puxou então um
homem para próximo de si e
disse: "Olhe para ele, olhe para
ele. Diz que ele é um bandido,
que é um criminoso".
Para Reis, a cidade é "tranqüila" e tem sofrido, desde a
morte de Dorothy, com um
preconceito que breca a vinda
de migrantes e de investimentos e impede um crescimento
econômico mais acelerado.
O prefeito afirmou que não
acredita no aumento da violência na cidade devido a uma possível sensação de impunidade
motivada pela absolvição de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, na semana passada.
O fazendeiro Bida era acusado de ser o mandante do assassinato de irmã Dorothy e havia
sido condenado a 30 anos de
prisão, mas essa decisão acabou
anulada em novo julgamento
do Tribunal do Júri.
Na última sexta-feira, a Folha ouviu integrantes do assentamento PDS (Plano de Desenvolvimento Sustentável) Esperança, criado por Dorothy em
Anapu e considerado a motivação do assassinato da religiosa,
e todos disseram estar com medo de um aumento da tensão
agrária na cidade.
A reportagem já havia procurado Reis na prefeitura e em
sua casa para comentar a absolvição de Bida, mas não o encontrou. Ontem, ele se negou a comentar a decisão. "Desculpe,
mas é que eu não conheço nada,
não me inteirei do processo".
Reis negou que seu silêncio
seja por ter recebido ajuda financeira do fazendeiro durante
sua campanha de 2004 ou por
conhecê-lo bem, como moradores disseram à Folha. "Falar,
todo mundo fala. Mas e provar?
Daí ninguém prova". Ele deve
tentar a reeleição nesse ano,
"sem ajuda dos fazendeiros".
Receio
A reportagem não conseguiu
ouvir os maiores fazendeiros e
madeireiros de Anapu a respeito da absolvição de Bida. Luiz
Ungaratti, que tem uma área de
3.000 hectares em disputa na
Justiça, se esquivou. "Só fiquei
sabendo pela imprensa. É difícil, não sei dizer se foi certo ou
errado. Quem sou para julgar?
Na minha vida, isso não muda
nada", disse.
A Folha visitou três fazendas
e três madeireiras, mas não encontrou seus donos. Só Ungaratti retornou aos recados.
O presidente do Sindicato
dos Produtores Rurais, Jurandir de Souza, também não quis
falar. "O assunto está saturado,
do nosso ponto de vista. A cidade foi massacrada depois da
[morte de] Dorothy", afirmou.
"Os caras [fazendeiros] não
querem falar, a verdade é essa."
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