São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2008

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"Anapu não é cidade que só tem bandido", diz prefeito

Luiz dos Reis não crê em aumento da violência por conta da absolvição de Bida

Fazendeiros e madeireiros da região evitam comentar o assunto; "Na minha vida, isso não muda nada", se esquiva produtor rural


JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ANAPU

Depois do assassinato da missionária Dorothy Stang, em 2005, Anapu (oeste do Pará) passou a ser vista, injustamente, como uma cidade onde "só tem bandido". A opinião é de Luiz dos Reis (PR), prefeito do município e proprietário rural.
"Veio Polícia Federal, Ibama, até os [policiais] norte-americanos estiveram aqui. Como se só tivesse gente ruim em Anapu, e isso não é verdade", afirmou ontem o prefeito.
Reis foi abordado pela reportagem quando comparecia a um encontro da população idosa da cidade. Puxou então um homem para próximo de si e disse: "Olhe para ele, olhe para ele. Diz que ele é um bandido, que é um criminoso".
Para Reis, a cidade é "tranqüila" e tem sofrido, desde a morte de Dorothy, com um preconceito que breca a vinda de migrantes e de investimentos e impede um crescimento econômico mais acelerado.
O prefeito afirmou que não acredita no aumento da violência na cidade devido a uma possível sensação de impunidade motivada pela absolvição de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, na semana passada.
O fazendeiro Bida era acusado de ser o mandante do assassinato de irmã Dorothy e havia sido condenado a 30 anos de prisão, mas essa decisão acabou anulada em novo julgamento do Tribunal do Júri.
Na última sexta-feira, a Folha ouviu integrantes do assentamento PDS (Plano de Desenvolvimento Sustentável) Esperança, criado por Dorothy em Anapu e considerado a motivação do assassinato da religiosa, e todos disseram estar com medo de um aumento da tensão agrária na cidade.
A reportagem já havia procurado Reis na prefeitura e em sua casa para comentar a absolvição de Bida, mas não o encontrou. Ontem, ele se negou a comentar a decisão. "Desculpe, mas é que eu não conheço nada, não me inteirei do processo".
Reis negou que seu silêncio seja por ter recebido ajuda financeira do fazendeiro durante sua campanha de 2004 ou por conhecê-lo bem, como moradores disseram à Folha. "Falar, todo mundo fala. Mas e provar? Daí ninguém prova". Ele deve tentar a reeleição nesse ano, "sem ajuda dos fazendeiros".

Receio
A reportagem não conseguiu ouvir os maiores fazendeiros e madeireiros de Anapu a respeito da absolvição de Bida. Luiz Ungaratti, que tem uma área de 3.000 hectares em disputa na Justiça, se esquivou. "Só fiquei sabendo pela imprensa. É difícil, não sei dizer se foi certo ou errado. Quem sou para julgar? Na minha vida, isso não muda nada", disse.
A Folha visitou três fazendas e três madeireiras, mas não encontrou seus donos. Só Ungaratti retornou aos recados.
O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais, Jurandir de Souza, também não quis falar. "O assunto está saturado, do nosso ponto de vista. A cidade foi massacrada depois da [morte de] Dorothy", afirmou. "Os caras [fazendeiros] não querem falar, a verdade é essa."


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