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Perito identifica ossada de guerrilheiro
Corpo descoberto em 1996 tem as mesmas características de Bergson Gurjão Farias, morto pelo Exército no Araguaia em 1972
Será preciso fazer um novo exame de DNA nos restos mortais para tornar oficial
o reconhecimento feito na perícia pedida pela Câmara
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Exumado há 13 anos em
Xambioá (norte de Tocantins),
o esqueleto batizado de X-2 pelo governo federal e por peritos
que o examinaram apresenta
características idênticas às do
guerrilheiro Bergson Gurjão
Farias, morto no Araguaia, cujo
corpo jamais foi localizado.
Para tornar oficial o reconhecimento, é preciso fazer novo
exame de DNA nos restos mortais em posse da Comissão de
Mortos e Desaparecidos Políticos da Presidência da República, recomenda perícia recém-concluída, encomendada pela
Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Autor do relatório, o perito
Domingos Tocchetto, professor de criminalística da Escola
Superior de Magistratura, lista
no documento coincidências
entre as conclusões dos exames
nos ossos recolhidos em 1996 e
as características físicas de Jorge (codinome de Farias), primeiro guerrilheiro morto na
região do Araguaia (sudeste do
Pará, norte de Tocantins, então
Goiás, e sul do Maranhão).
Perito de casos famosos, como os assassinatos de PC Farias (1996) e da jornalista Sandra Gomide (2000), Tocchetto,
65, estudou o "Informe Antropológico Forense", preparado
por especialistas argentinos
contratados pela Comissão de
Mortos e Desaparecidos.
O relatório foi comparado
com documentos relacionados
a Jorge antes de aderir à guerrilha do Araguaia, no início dos
anos 70, organizada pelo então
clandestino PC do B. A documentação foi coletada pelo então presidente da Comissão de
Direitos Humanos, deputado
Pompeo de Mattos (PDT-RS).
Em sua análise -documental
apenas, pois não teve acesso
aos ossos-, Tocchetto aponta
evidências de que a ossada é de
Jorge, líder estudantil na década de 60 no Ceará, morto em 2
de junho de 1972 por militares
que combatiam a guerrilha.
Ao examinar o esqueleto, a
perícia argentina encontrou
fraturas ósseas antigas, outras
ocorridas pouco antes da morte
e até algumas após a morte.
Segundo os argentinos, chefiados pelo antropólogo Luis
Fondebrider, da equipe que
achou e identificou na Bolívia,
em 1997, os restos mortais de
Che Guevara, o crânio desenterrado no Araguaia tinha alteração na mastóide direita (osso
atrás da orelha). Espancado em
1968 num protesto estudantil,
Jorge lesionara a área, segundo
relatos passados a Tocchetto.
O fêmur direito tinha fratura
sofrida quase na hora da morte.
Guerrilheiros que testemunharam a emboscada e soldados
que viram o corpo contam que
Farias teve as pernas metralhadas. Como antes de morrer ele
baleara um oficial, após a morte
teve o corpo espancado com
violência e perfurado por baionetas, segundo testemunhas.
Os peritos apontaram fraturas
pós-morte na face, além da clavícula e do braço esquerdos.
A ossada tem as mesmas características de Farias -um homem branco, entre 25 e 33
anos, de 1,74 m a 1,85 m de altura. Os dentes do guerrilheiro tinham obturações antigas -10
tinham sinais de tratamento.
A secretária-executiva da Comissão de Mortos e Desaparecidos, Vera Rotta, disse que
dois exames de DNA feitos na
ossada foram inconclusivos.
Segundo ela, os ossos estão sob
guarda do governo à espera de
avanços que possam levar à
identificação. Rotta diz que há
mais seis ossadas em poder da
comissão, não identificadas.
Dos desaparecidos no Araguaia, o único corpo identificado foi o de Maria Lúcia Petit,
exumada em cova vizinha à do
corpo que pode ser o de Jorge.
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