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SECA
Água gera "revolução agrícola'
Semi-árido é
produtor de
manga na BA
LUIZ FRANCISCO
Livramento de Nossa Senhora (BA)
Em pleno semi-árido baiano, a
região do Estado mais afetada pela
seca, um sistema de irrigação por
gravidade está provocando uma
verdadeira "revolução agrícola"
em Livramento de Nossa Senhora.
Elaborado e construído pelo
Dnocs (Departamento Nacional
de Obras Contra as Secas), o projeto beneficia 421 (16,84%) dos 2.500
produtores rurais do município,
mas é responsável por uma arrecadação anual de US$ 20 milhões.
Esse valor é sete vezes maior do
que o que entra nos cofres da prefeitura com o recolhimento de todos os impostos e o Fundo de Participação dos Municípios.
Os 2.442 hectares irrigados por
gravidade (quando o reservatório
fica em local mais alto que a área
irrigada) transformaram Livramento de Nossa Senhora (717 km
de Salvador) no maior produtor de
manga da Bahia.
"Estamos colhendo 28 mil toneladas de manga por safra", disse o
assessor do Dnocs Nilson Santana
Dantas, 41. Na área irrigada, os
produtores rurais também plantam maracujá, banana e coco.
O projeto é uma exceção em
meio à miséria dos outros produtores rurais que têm suas propriedades fora do perímetro irrigado.
Por falta de chuvas regulares na
cidade, o prefeito Emerson Leal
(PFL), 57, decretou estado de
emergência no município na semana passada.
Na área irrigada, os produtores
rurais plantam cem pés de manga
por hectare (dez mil metros quadrados). "A produtividade média
é de 200 quilos por pé, o que é excelente em qualquer parte do
mundo", disse Dantas.
A maior parte da colheita é exportada para a Europa. "Apenas
uma pequena parte é utilizada para
abastecer os mercados de São Paulo e Minas Gerais", disse Dantas.
Na safra do ano passado, o quilo
do produto chegou a ser comercializado por R$ 3. "Quem planta
manga dentro do perímetro irrigado acaba vendendo ouro em pó",
disse o agricultor Vágner Assis
Santos Pereira, 30. Os produtores
da área irrigada pagam uma taxa
de R$ 204 ao ano por hectare ao
Dnocs e R$ 60 ao ano por hectare
de tarifa de administração.
Segundo o prefeito Emerson
Leal, um produtor com 20 hectares
de manga na área irrigada pode faturar mais de R$ 200 mil por safra e
não encontra dificuldades para
vender a produção. "O negócio é
tão bom que os intermediários e as
empresas costumam comprar toda a produção antes mesmo dos
frutos aparecerem nos pés", disse.
Em três meses o Dnocs vai entregar mais 1.300 hectares irrigados
para 300 produtores rurais.
Para os agricultores que têm suas
terras fora do projeto do Dnocs, a
colheita de qualquer produto em
Livramento de Nossa Senhora não
passa de miragem.
A falta de chuvas na região provocou a quebra total das safras de
feijão, milho e algodão. Os 600
produtores de fora do perímetro
irrigado que tomaram empréstimos para custear a safra agrícola
não conseguiram saldar suas dívidas. "Nós prorrogamos o prazo,
mas mesmo assim acho que ninguém vai pagar", disse o agente de
desenvolvimento do Banco do
Nordeste, George Machado, 34.
A seca também castiga os quase
15 mil habitantes da zona rural de
Livramento de Nossa Senhora. Depois que perdeu toda a plantação
de feijão e milho, o agricultor Manoel Alves Dias, 56, optou por matar um boi por mês para sobreviver. "Prefiro matar o boi antes que
ele morra de fome e sede."
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