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JANIO DE FREITAS
Contra o país
Se o valor do real em relação ao dólar é a medida de
todas as coisas no Brasil do governo Fernando Henrique Cardoso, sua elevação artificial,
com as consequências graves
que acarreta para o país, justifica providências incomuns. Não
do governo. Do Ministério Público Federal, cujos procuradores têm a responsabilidade constitucional de "defender a ordem
jurídica, do regime democrático
e dos interesses sociais e individuais indisponíveis".
O dólar chegou ontem a R$
2,796, praticamente R$ 2,80, e o
Brasil foi posto como o terceiro
país mais perigoso do mundo
para investimentos, atrás apenas da Argentina e da Nigéria e
tomando o lugar do esquálido
Equador.
O dólar chegara ao fim de
maio cotado abaixo de R$ 2,50,
derrubando pequenas altas. Na
sexta-feira 31 de maio, Armínio
Fraga, presidente do Banco
Central, executou a repentina
antecipação da medida, antes
anunciada para setembro, que
amputou vários fundos de investimento e agitou negativamente todo o chamado "mercado financeiro", a partir da noção de perda disseminada entre
depositantes de dinheiro nos
fundos em geral. Aberta a primeira semana de junho, Armínio Fraga atribuiu a fermentação imensa a temores com as
eleições, em alusão óbvia.
Na mesma sexta-feira, o superespeculador internacional
George Soros, com o qual Armínio Fraga trabalhou até assumir o Banco Central em fevereiro de 99, dizia à Folha que no
Brasil eleitoral só cabe a alternativa "Serra ou o caos", porque
Serra é o candidato dos aplicadores internacionais de dinheiro.
A partir de então, adeptos da
candidatura de Serra -e agora
até o próprio, que ainda há pouco se declarava "avesso a baixarias"- não cessaram de acrescentar incentivos coordenados e
crescentes ao pânico com desordem financeira e econômica, desejadas como tática eleitoral anti-Lula. José Aníbal, Pimenta da
Veiga e Artur da Távola, do alto
de suas responsabilidades nominais de presidente do PSDB,
coordenador da campanha de
Serra e líder do PSDB no Senado, não têm pejo em deixar claro que a "crise beneficia Serra",
segundo expressão atribuída
aos dois primeiros no "Globo".
Se a alta do dólar é crise que
põe em perigo as condições econômicas e portanto sociais do
Brasil, criá-la artificialmente e
estimulá-la sujeitam a investigação por lesa pátria.
A disputa eleitoral prevê o
ataque entre candidatos e entre
seus adeptos. O ataque ao país é
diferente: sai do campo eleitoral
para o do direito penal. Se, proveniente do exterior, é atitude
de inimigo, quando interno pode até ser interpretado como
atitude de traição aos interesses
do país.
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