PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem, em palestra a cerca de 300 empresários, em Belo Horizonte, que o governo está armando uma bomba na economia ao "fomentar a especulação", fazendo analogia com a bomba no Riocentro.
"A única possibilidade de o governo evitar que nós ganhemos as eleições é criar um pânico na sociedade brasileira, da forma mais mesquinha possível. E pode acontecer o que aconteceu no Riocentro na década de 80", afirmou.
"É preciso parar de brincar de construir bombas caseiras porque isso pode estourar no colo deles e não será bom para ninguém. Porque nós vamos perdendo credibilidade, nós vamos brincando com coisa séria e daqui a pouco se perde efetivamente o controle de qualquer coisa nesse país."
O Riocentro é o principal símbolo do terrorismo de direita no Brasil. Na noite de 30 de abril de 1981, enquanto as TVs transmitiam a semifinal do Campeonato Brasileiro de Futebol, duas bombas explodiram no Riocentro (um centro de eventos no Rio), onde ocorria um show comemorativo do Dia do Trabalho. Uma das bombas explodiu dentro de um automóvel Puma, matando um sargento e ferindo um capitão.
O Exército assumiu as investigações e, contrariando laudos periciais que indicaram que uma das bombas explodira no colo do sargento (sinal de que estaria manipulando o artefato), concluiu que os militares, em vez de autores do atentado, teriam sido vítimas dele. O inquérito foi arquivado, mas os atentados cessaram.
A comparação com as explosões do Riocentro já havia sido feita em reunião da Executiva Nacional do PT, anteontem em São Paulo, mas Lula não estava lá.
O candidato do PT vem subindo o tom de suas críticas em relação à crise brasileira. Anteontem, em Minas, Lula disse que o governo deveria mandar o megainvestidor George Soros "calar a boca" -Soros havia dito, em entrevista à Folha, que o país mergulharia no caos caso Lula fosse eleito.
Ontem, Lula criticou o fato de o presidenciável José Serra (PSDB) ter dito que só ele pode resolver os problemas econômicos do país, classificando isso de "piada para gente desavisada". "Se é verdade, por que o Fernando Henrique Cardoso não está acalmando agora o mercado?" Lula disse que "o problema não é de quem vai ser o presidente da República, mas a vulnerabilidade da economia brasileira ao capital especulativo".
Lula disse que em um governo do PT "os contratos já firmados serão cumpridos" e que o governo tentará negociar os novos contratos "em bases mais favoráveis".



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