São Paulo, quinta-feira, 13 de junho de 2002

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NO AR

Calmantes aos bilhões

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

FHC tirou o dia para transmitir serenidade. Chegou a brincar, em cerimônia para embaixadores:
- O mercado fica nervoso, dá calmante, passa.
O chiste sorridente veio no dia em que o dólar alcançou a segunda maior cotação do Plano Real, como gritaram depois as manchetes dos telejornais. E o presidente sorrindo.
O "calmante" não foram as entrevistas risonhas de FHC e seus ministros, como Sergio Amaral e Pedro Parente.
O calmante de fato veio para fechar o dia de horror, na forma de milhões para o governo usar. Na primeira manchete do Jornal da Record:
- A prorrogação da CPMF é aprovada.
E logo o presidente apareceu para comentar, então já bem mais sério, que "a crença no país foi reafirmada".
Mas ainda havia mais "calmante" para o governo dar ao mercado. William Bonner, no Jornal Nacional:
- A equipe econômica decidiu usar os US$ 10 bilhões a que tem direito no FMI.
E não parou aí. O Banco Mundial apareceu com mais US$ 1 bilhão, segundo o JN. Os bombeiros entraram todos em ação, aos bilhões.
 
Mas não faltaram incendiários. A começar por José Dirceu, presidente do PT, desde cedo, na CBN, questionando a economia para defender Lula:
- O país tem uma dívida interna que é de 57% do PIB. Os investidores olham para isso em primeiro lugar. E o governo está com dificuldade de rolar a sua dívida interna, seja por erros, seja por causa do tamanho dela e do juro alto.
E mais, ao ser cobrado o apoio petista à estabilidade:
- Nós temos que ter consciência que, quando se fala que é preciso manter a estabilidade econômica, essa estabilidade, hoje, não existe.
Mais inflamável do que isso, só o FMI. Em outra manchete de Boris Casoy:
- O FMI registra a possibilidade de a crise argentina contaminar o Brasil.
 
Nas manchetes do JN, o enunciado foi diferente:
- O FMI diz que a turbulência na economia é resultado da tensão pré-eleitoral.
Divergentes também foram as reações de Lula e Serra mostradas na Globo, quando eles foram instados a se comprometer com a estabilidade. Disse o petista, na edição do JN:
- Nós não temos que ficar antecipando (ao mercado) o que nós queremos apresentar para a sociedade brasileira.
Declarou o tucano, bombeiro, em contraste:
- Para manter a estabilidade, é fundamental que o governo cumpra seus contratos, honre compromissos e deixe de lado qualquer hipótese de calote da dívida.



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