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NO AR
Calmantes aos bilhões
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
FHC tirou o dia para
transmitir serenidade. Chegou a brincar, em cerimônia para embaixadores:
- O mercado fica nervoso, dá
calmante, passa.
O chiste sorridente veio no dia
em que o dólar alcançou a segunda maior cotação do Plano
Real, como gritaram depois as
manchetes dos telejornais. E o
presidente sorrindo.
O "calmante" não foram as entrevistas risonhas de FHC e seus
ministros, como Sergio Amaral e
Pedro Parente.
O calmante de fato veio para
fechar o dia de horror, na forma
de milhões para o governo usar.
Na primeira manchete do Jornal
da Record:
- A prorrogação da CPMF é
aprovada.
E logo o presidente apareceu
para comentar, então já bem
mais sério, que "a crença no país
foi reafirmada".
Mas ainda havia mais "calmante" para o governo dar ao
mercado. William Bonner, no
Jornal Nacional:
- A equipe econômica decidiu usar os US$ 10 bilhões a que
tem direito no FMI.
E não parou aí. O Banco Mundial apareceu com mais US$ 1
bilhão, segundo o JN. Os bombeiros entraram todos em ação,
aos bilhões.
Mas não faltaram incendiários. A começar por José Dirceu,
presidente do PT, desde cedo, na
CBN, questionando a economia
para defender Lula:
- O país tem uma dívida interna que é de 57% do PIB. Os
investidores olham para isso em
primeiro lugar. E o governo está
com dificuldade de rolar a sua
dívida interna, seja por erros, seja por causa do tamanho dela e
do juro alto.
E mais, ao ser cobrado o apoio
petista à estabilidade:
- Nós temos que ter consciência que, quando se fala que é
preciso manter a estabilidade
econômica, essa estabilidade,
hoje, não existe.
Mais inflamável do que isso, só
o FMI. Em outra manchete de
Boris Casoy:
- O FMI registra a possibilidade de a crise argentina contaminar o Brasil.
Nas manchetes do JN, o enunciado foi diferente:
- O FMI diz que a turbulência na economia é resultado da
tensão pré-eleitoral.
Divergentes também foram as
reações de Lula e Serra mostradas na Globo, quando eles foram
instados a se comprometer com
a estabilidade. Disse o petista, na
edição do JN:
- Nós não temos que ficar antecipando (ao mercado) o que
nós queremos apresentar para a
sociedade brasileira.
Declarou o tucano, bombeiro,
em contraste:
- Para manter a estabilidade,
é fundamental que o governo
cumpra seus contratos, honre
compromissos e deixe de lado
qualquer hipótese de calote da
dívida.
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