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RETRATO DO BRASIL
IBGE divulga indicadores sociais; informalidade do trabalho é um dos motivos da baixa adesão à Previdência
54% dos trabalhadores não pagam INSS
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Mais de 54% de todos os brasileiros que têm algum tipo de trabalho, ou 40,9 milhões de pessoas,
não contribuem para a Previdência Social. O indicador teve uma
pequena melhora desde o início
dos anos 90 -em 1992, 56% da
população ocupada não contribuía-, mas ainda mostra uma
adesão baixa dos trabalhadores
ao sistema de seguridade social.
A proporção de trabalhadores
que contribui para o sistema de
seguridade social foi divulgada
ontem na Síntese dos Indicadores
Sociais do IBGE, com dados de
2001. Naquele ano, a economia
brasileira empregava, formal ou
informalmente, 75,4 milhões de
pessoas. Destas, apenas 45,7%
contribuíam para a Previdência.
A baixa taxa de adesão dos trabalhadores ao sistema é explicado, segundo especialistas, por vários motivos. O primeiro, é a alta
informalidade do mercado de trabalho no Brasil. Outro: metade da
população, revelou o IBGE, ganha
até dois salários mínimos, ou R$
480, no máximo. Com um rendimento tão pequeno, bancar as
contribuições à Previdência criaria um buraco no orçamento dos
trabalhadores.
O número baixo de contribuições cria dois grandes problemas,
um imediato e um futuro. O imediato é que quanto menor o número de pessoas contribuindo,
menor o volume de recursos que
a Previdência arrecada para pagar
os benefícios de quem já está aposentado. O futuro: uma massa
enorme de brasileiros não terá
contribuído o suficiente para o
sistema e não terá acesso aos benefícios da seguridade social.
"Idosos de rua"
"Criaremos a imagem dos "idosos de rua". Teremos crianças e
idosos na rua caso não se implantem políticas de inclusão para esses trabalhadores", avalia Anselmo Luis dos Santos, economista e
pesquisador do Cesit (Centro de
Estudos Sindicais e de Economia
do Trabalho), da Unicamp.
O economista diz ainda que todo o debate sobre a reforma da
Previdência não leva em consideração os 40,9 milhões de trabalhadores que estão fora do sistema.
Hoje, nem todos que conseguem se aposentar deixam de trabalhar. Segundo o IBGE, um terço
dos brasileiros com mais de 60
anos ainda trabalha. Destes, 77%
têm algum tipo de pensão ou aposentadoria.
Entre os homens, 36% dos aposentados com mais de 60 anos
continuam exercendo alguma atividade remunerada. Entre as aposentadas, a taxa é de 17,3%. A população brasileira com mais de 60
anos era, em 2001, de 15,3 milhões
de pessoas.
Desigualdade
A pesquisa do IBGE mostra
também que a desigualdade de
renda persistiu no país durante
toda a década de 90.
Os brasileiros que estão no grupo dos 10% mais ricos da ganham, em média, 18 vezes mais
do que os que fazem parte do grupo de 40% mais pobres.
Outra maneira de enxergar a
desigualdade brasileira: os brasileiros que estão no topo da pirâmide social -o grupo 1% mais rico- embolsam 13,3% do PIB
(Produto Interno Bruto - soma
dos valores finais de tudo o que é
produzido em um ano) brasileiro.
Esse percentual é quase o mesmo
que o dos 50% mais pobres, que
ficam com apenas 14,8% do PIB.
"O país consegue avançar nos
seus indicadores sociais, mas
mantém estável seu padrão de desigualdade", afirma o presidente
do IBGE, Eduardo Nunes.
Ele destacou também que boa
parcela da população brasileira
está praticamente excluída do
mercado de consumo.
"Para quem planeja investimentos na área social, infra-estrutura, saneamento ou mesmo mercado privado, trabalha-se com a
potencialidade de um mercado de
46,5 milhões de domicílios, mas,
quando se vê a renda familiar da
população, observa-se que quase
20% desses domicílios pertencem
a famílias que recebem menos de
meio salário mínimo por mês",
afirma o presidente do IBGE.
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