São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007

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Vavá admite contato com empreiteiro e fazendeiro

Em depoimento à PF, ele disse que fazia "intermediações para ajudar as pessoas"

Os favores seriam pedidos ao empresário de bingos, Nilton Cezar Servo e, depois, transmitidos para o irmão do presidente da República


Jorge William - 31.dez.2002/Agência O Globo
Os irmãos de Lula Jaime (esq.) e Vavá (centro) no Réveillon


RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A CAMPO GRANDE

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

No depoimento que prestou à Polícia Federal em São Bernardo do Campo (SP) no último dia 4, o irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o aposentado Genival Inácio da Silva, o Vavá, reconheceu ter se encontrado com um empreiteiro e com um agropecuarista flagrados em conversas telefônicas pedindo favores ao empresário de bingos Nilton Cezar Servo. Vavá, contudo, disse não ter recebido nenhum dinheiro por esse trabalho.
O irmão do presidente reconheceu ter pedido emprestado, "uma única vez", R$ 2 mil para Servo, "para pagar uma conta". Em contradição com o que diz Servo a interlocutores diversos nos telefonemas grampeados pela PF, Vavá disse que esses pedidos não foram freqüentes.
"[Vavá declarou] ter feito essas intermediações apenas para ajudar as pessoas, sendo que nunca recebeu dinheiro por isso", registra o depoimento, que integra o inquérito da Operação Xeque-Mate, desencadeado pela PF de Mato Grosso do Sul para investigar máfias de caça-níqueis.
A Folha teve acesso a trechos do depoimento, sob sigilo na Justiça Federal. Com sete páginas ao todo, foi prestado durante duas horas na presença de quatro agentes federais e de dois parentes de Vavá. Os policiais tocaram trechos dos telefonemas grampeados.
Vavá informou ter apresentado o fazendeiro identificado como André, de Assis, no interior de São Paulo, a um advogado amigo seu de Brasília, chamado Sílvio - anteontem, o advogado Sílvio Assis, de Brasília, reconheceu ser a pessoa que conversa com Vavá em outra ligação interceptada.
"[Vavá] não presenciou as conversas entre os mesmos", disse o aposentado. André, de acordo com as conversas interceptadas pela PF, queria reverter uma decisão no STJ (Superior Tribunal de Justiça) vencida pela Usina Maracaí. A ação previa o pagamento de uma indenização de R$ 13 milhões.
Vavá também disse ter se encontrado uma única vez com o empreiteiro "Acássio", que disse ser do ramo de terraplanagem, num restaurante em São Paulo, na companhia de Nilton Cézar Servo. Segundo a PF, o empreiteiro pretendia obter contratos em órgãos públicos não especificados. Apesar dos encontros, Vavá nega ter exercido lobby em órgão públicos. "Nunca solicitou dinheiro a "Acássio" por motivo nenhum", declarou Vavá.
Ele disse à PF que "nunca defendeu interesses de Nilton em órgãos públicos e nunca solicitou dinheiro para tal atuação".
O aposentado afirmou ainda, como já havia dito no último domingo seu advogado, Nelson Passos Alfonso, que não reconhecia a voz da pessoa identificada primeiramente como "Roberto", que dizia falar em nome de Lula e pedia que Vavá fosse a Brasília para uma reunião reservada. Anteontem, o outro irmão de Lula, José Ferreira da Silva, o "Frei Chico", apresentou-se à imprensa como sendo o "Roberto".
A reportagem apurou que a página final do depoimento foi dedicada a perguntas sobre suposto conhecimento de Lula das atividades de Vavá e de suas relações com outros investigados, como Dario Morelli Filho. A Folha não teve acesso a essas respostas.


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