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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/REFORMA
Em reunião ministerial, presidente fala de "golpe baixo" da imprensa nos textos sobre a ligação da empresa de seu filho com a Telemar
Lula reclama de invasão de sua vida privada
EDUARDO SCOLESE
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
No seu discurso mais incisivo
desde a eclosão da atual crise política, feito ontem durante a reunião ministerial, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva classificou de
"baixaria" e "golpe baixo" o que
disse ser uma suposta invasão da
sua privacidade. Segundo ministros que estiveram na reunião,
realizada sem a presença da imprensa, o presidente se referia às
reportagens que revelaram a sociedade da Gamecorp, empresa
que tem o filho do presidente Fábio Lula da Silva como um dos
donos, com a Telemar.
Conforme a Folha apurou com
participantes da reunião, Lula disse: "Estão querendo mexer na minha vida privada. Isso é uma baixaria, um golpe baixo, um desrespeito. Isso é irracional". Ele atribuiu as denúncias a "ex-arapongas" que serviram a governos anteriores. Foi o momento mais tenso da reunião, com os ministros
diante de um presidente nervoso
e visivelmente emocionado.
Reportagens veiculadas nos últimos dias revelaram que a Telemar investiu R$ 5 milhões na produtora Gamecorp. O negócio, já
na pauta de investigações do Congresso, foi intermediado pela empresa de auditoria DBO Trevisan,
cujo principal sócio é Antoninho
Marmo Trevisan, amigo de Lula.
Ontem, Lula também criticou o
PT por ter, no primeiro momento, se mobilizado contra a CPI dos
Correios. Justificou que estava
distante do país, no Japão e na Coréia, e que só depois percebeu a
importância das denúncias e da
comissão. "O PT errou. Ninguém
pode ser contra a CPI."
Lula disse que ainda "não sabe"
se disputará a reeleição em 2006.
O presidente afirmou, num processo de médio ou longo prazo,
ser a favor de um mandato presidencial de cinco ou seis anos sem
direito à reeleição. Mas atacou a
tentativa da oposição de optar por
isso já no ano que vem.
Na seqüência, o presidente fez
uma menção direta aos governadores tucanos Geraldo Alckmin
(São Paulo) e Aécio Neves (Minas
Gerais), dizendo que os respeita
como adversários.
Cobrou rigor contra desvios,
mas também "disposição de combate" para reagir a denúncias, dar
respostas à opinião pública e
manter a confiança da sociedade e
da militância que elegeu o governo federal. Pediu ainda "muito
trabalho" à equipe.
Lula anunciou que na próxima
semana haverá outra reunião ministerial, para anunciar um "pacote de medidas contra a corrupção", que vem sendo elaborado
pelos ministros Márcio Thomaz
Bastos (Justiça) e Waldir Pires
(Controladoria Geral da União).
Segundo o ministro Miguel
Rossetto (Desenvolvimento
Agrário), Lula fez um discurso
"positivo e forte": "Ele demonstrou que tem uma visão lúcida e
clara da dimensão da crise e do
momento pelo qual o país passa e
conclamou todos a reagir".
Lula se mostrou "indignado"
com o que classificou de "exageros da oposição". Na sua opinião,
estão culpando e criminalizando
tudo e todos por causa de qualquer indício e sem nenhuma prova. "Qualquer um que denuncie
tem espaço garantido."
O presidente também pediu
mais disposição da equipe para
defender um "projeto que tem
raiz e história" e os "companheiros que têm uma vida dedicada a
uma causa".
Foi a décima reunião ministerial
de seu governo, a segunda deste
ano, e ele justificou a importância
de dar mais espaço ao PMDB no
primeiro escalão federal para ampliar o diálogo com o Congresso.
Disse, ainda, que todas as ações e
programas de governo devem ser
"acelerados" a partir de agora.
A reunião foi dividida em duas
partes e ele falou durante uma hora e meia, diante de 30 ministros.
Na primeira parte, anunciou os
novos ministros e prometeu para
a próxima segunda-feira a conclusão da reforma.
Citou nominalmente os ministros Aldo Rebelo (Coordenação
Política) e Eduardo Campos
(Ciência e Tecnologia), dizendo
que pediu seus retornos à Câmara
para reforçar a articulação do governo no Congresso.
Na segunda parte, fez o discurso
político, considerado como o início da contra-ofensiva contra a
crise. Momentos antes de embarcar para a França, Lula disse que a
partir do mês que vem irá priorizar os deslocamentos nacionais.
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