São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/REFORMA

Em reunião ministerial, presidente fala de "golpe baixo" da imprensa nos textos sobre a ligação da empresa de seu filho com a Telemar

Lula reclama de invasão de sua vida privada

EDUARDO SCOLESE
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

No seu discurso mais incisivo desde a eclosão da atual crise política, feito ontem durante a reunião ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou de "baixaria" e "golpe baixo" o que disse ser uma suposta invasão da sua privacidade. Segundo ministros que estiveram na reunião, realizada sem a presença da imprensa, o presidente se referia às reportagens que revelaram a sociedade da Gamecorp, empresa que tem o filho do presidente Fábio Lula da Silva como um dos donos, com a Telemar.
Conforme a Folha apurou com participantes da reunião, Lula disse: "Estão querendo mexer na minha vida privada. Isso é uma baixaria, um golpe baixo, um desrespeito. Isso é irracional". Ele atribuiu as denúncias a "ex-arapongas" que serviram a governos anteriores. Foi o momento mais tenso da reunião, com os ministros diante de um presidente nervoso e visivelmente emocionado.
Reportagens veiculadas nos últimos dias revelaram que a Telemar investiu R$ 5 milhões na produtora Gamecorp. O negócio, já na pauta de investigações do Congresso, foi intermediado pela empresa de auditoria DBO Trevisan, cujo principal sócio é Antoninho Marmo Trevisan, amigo de Lula.
Ontem, Lula também criticou o PT por ter, no primeiro momento, se mobilizado contra a CPI dos Correios. Justificou que estava distante do país, no Japão e na Coréia, e que só depois percebeu a importância das denúncias e da comissão. "O PT errou. Ninguém pode ser contra a CPI."
Lula disse que ainda "não sabe" se disputará a reeleição em 2006. O presidente afirmou, num processo de médio ou longo prazo, ser a favor de um mandato presidencial de cinco ou seis anos sem direito à reeleição. Mas atacou a tentativa da oposição de optar por isso já no ano que vem.
Na seqüência, o presidente fez uma menção direta aos governadores tucanos Geraldo Alckmin (São Paulo) e Aécio Neves (Minas Gerais), dizendo que os respeita como adversários.
Cobrou rigor contra desvios, mas também "disposição de combate" para reagir a denúncias, dar respostas à opinião pública e manter a confiança da sociedade e da militância que elegeu o governo federal. Pediu ainda "muito trabalho" à equipe.
Lula anunciou que na próxima semana haverá outra reunião ministerial, para anunciar um "pacote de medidas contra a corrupção", que vem sendo elaborado pelos ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Waldir Pires (Controladoria Geral da União).
Segundo o ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Lula fez um discurso "positivo e forte": "Ele demonstrou que tem uma visão lúcida e clara da dimensão da crise e do momento pelo qual o país passa e conclamou todos a reagir".
Lula se mostrou "indignado" com o que classificou de "exageros da oposição". Na sua opinião, estão culpando e criminalizando tudo e todos por causa de qualquer indício e sem nenhuma prova. "Qualquer um que denuncie tem espaço garantido."
O presidente também pediu mais disposição da equipe para defender um "projeto que tem raiz e história" e os "companheiros que têm uma vida dedicada a uma causa".
Foi a décima reunião ministerial de seu governo, a segunda deste ano, e ele justificou a importância de dar mais espaço ao PMDB no primeiro escalão federal para ampliar o diálogo com o Congresso. Disse, ainda, que todas as ações e programas de governo devem ser "acelerados" a partir de agora.
A reunião foi dividida em duas partes e ele falou durante uma hora e meia, diante de 30 ministros. Na primeira parte, anunciou os novos ministros e prometeu para a próxima segunda-feira a conclusão da reforma.
Citou nominalmente os ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), dizendo que pediu seus retornos à Câmara para reforçar a articulação do governo no Congresso.
Na segunda parte, fez o discurso político, considerado como o início da contra-ofensiva contra a crise. Momentos antes de embarcar para a França, Lula disse que a partir do mês que vem irá priorizar os deslocamentos nacionais.


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