São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/MALA SUSPEITA

Pressionado, José Nobre Guimarães deixa liderança da bancada petista na Assembléia do Ceará e a Executiva Estadual do partido

Irmão de Genoino vê "armação" contra o PT

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Acuado pelas suspeitas de envolvimento com seu ex-assessor José Adalberto Vieira da Silva, preso em São Paulo na sexta-feira quando tentava embarcar para o Ceará com R$ 200 mil em uma mala e mais US$ 100 mil escondidos na cueca, o deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE) disse ontem em Fortaleza que está reunindo documentos para provar o destino do dinheiro e que tem indícios de que tudo possa ter sido uma "armação" contra o PT.
Guimarães, que é irmão do ex-presidente do PT José Genoino, se licenciou ontem da liderança da bancada petista na Assembléia Legislativa, após pressão dos colegas. Por causa disso, deixou também a Executiva Estadual do PT.
Guimarães não quis dizer que documentos está reunindo sobre o dinheiro: disse apenas que seu destino não era o PT nem ele próprio. "Me considero não só decepcionado [com o Adalberto], mas traído. Isso tudo é inaceitável. Não podemos pactuar com isso, que um ou dois militantes do PT pratiquem esse tipo de coisa."
Adalberto foi exonerado do cargo de assessor parlamentar de Guimarães e teve sua filiação suspensa pela Executiva Estadual do PT. Em sua investigação, Guimarães disse que, ainda em São Paulo, procurou os advogados do PT, os advogados de Adalberto, e avisou o Diretório Nacional do PT e o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) logo que soube da prisão de seu então assessor.
Guimarães soube da prisão ainda na sexta-feira pela manhã por meio de seu amigo e colega de tendência (o Campo Majoritário) Kennedy Moura, que então ocupava um cargo de assessor especial do BNB (Banco do Nordeste do Brasil), em Brasília. Anteontem, Moura pediu exoneração do cargo, após boatos de que teria envolvimento no caso que culminou com a prisão de Adalberto. Guimarães disse que chegou a chamar Moura a São Paulo, onde os dois se encontraram no domingo pela manhã, para "falar rapidamente do caso".
A entrevista de Guimarães, ontem, foi bastante tumultuada e ele acabou não explicando os motivos por ter chamado Moura para uma conversa pessoal em São Paulo. O deputado não negou sua proximidade política com o ex-assessor do BNB, mas disse que a indicação dele para o cargo de chefe-de-gabinete do banco, sua primeira nomeação, foi do próprio presidente do BNB, Roberto Smith, que, por sua vez, teve sua indicação avalizada por Guimarães. "A indicação foi do Roberto Smith, mas evidente que eu apoiei. Não estou negando que tivesse ligação com o Kennedy".
Entre os "indícios" de que tudo "cheira a armação", Guimarães afirmou achar muito estranho que a prisão tenha acontecido justo no dia da reunião do Diretório Nacional do PT, em que se questionava a manutenção de Genoino no cargo. Para o deputado, porém, só a PF poderá provar se houve mesmo uma armação: "O que tenho são indícios", disse.


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