São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 2005

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FORÇAS ARMADAS

País adquire 12 caças Mirage ultrapassados

Brasil comprará da França aviões velhos

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva verá alguns Tucanos da Esquadrilha da Fumaça sobrevoando Paris amanhã. Um espetáculo aeronáutico bem menos público, porém, será assinado logo na sexta-feira, encoberto por um véu de mistério que não cai bem para um negócio de milhões de reais.
Trata-se de um memorando entre os governos do Brasil e da França. Objetivo brasileiro: comprar dos franceses 12 unidades usadas da versão mais antiga do caça Mirage-2000, a C/B, por um preço de 60 milhões (cerca de R$ 171 milhões) só pelas aeronaves e um valor ainda não determinado por peças, treinamento e armamento.
Há vários problemas envolvendo a compra, um desfecho lamentável para os quase cinco anos da novela F-X, nome do projeto de concorrência internacional para a oferta de um avião que substitua os caducos Mirage IIIEBR da Força Aérea Brasileira, que deixarão de voar a partir do fim deste ano.
Concebido para ser uma forma de trazer concorrentes que oferecessem não só aviões, mas tecnologia ao país, o F-X virou pó. Houve pressões políticas de todos os tipos, nos governos FHC e Lula, mas o projeto acabou morrendo por uma inapetência decisória curiosa para um governo que desembolsou quase US$ 60 milhões por um avião presidencial novo.
Adotando a compra direta, ainda que ela possa encerrar alguma contrapartida, fica enterrada a possibilidade de um acordo de transferência tecnológica e abertura de mercados.
Com o abandono do F-X, no começo do ano, os concorrentes franceses (Dassault com a Embraer), russos (Sukhoi com a Avibrás), americanos (Lockheed Martin) e anglo-suecos (com a Gripen), apresentaram alternativas para o negócio. A única aceita para discussão foi a do governo francês.
Há a questão do preço. Além dos 60 milhões, devem ser 20 milhões em peças e treino. O custo das armas pode quase dobrar o preço inicial, a depender do que for comprado.
No caso da proposta russa, por exemplo, o Su-27 foi ofertado ao preço de US$ 11 a US$ 13 milhões a unidade, contra os US$ 6 milhões do Mirage-2000C, mas seu preço incluía logística e dois mísseis, além de tratar-se de um avião de performance superior.
Além disso, os aviões serão "adequados" pelos franceses antes de serem entregues. Ou seja, todos os sistemas mais sensíveis do ponto de vista tecnológico devem ser extirpados.


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