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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÃO RIO
Suposta "mensalidade" foi mencionada em conversa gravada pela Polícia Federal
Auditores afirmam que Firjan pagava propinas
LUCIANA BRAFMAN
DA SUCURSAL DO RIO
O procurador federal Fábio
Aragão disse ontem no Rio que
três auditores do INSS (Instituto
Nacional de Seguridade Social)
confirmaram ter conhecimento
do suposto esquema em que a Firjan (Federação das Indústrias do
Rio de Janeiro) pagaria propina a
autoridades do governo federal
para evitar que empresas sejam
fiscalizadas pelo órgão. Nenhum
dos três, entretanto, apresentou
provas da acusação.
A suposta "mensalidade" da
Firjan foi mencionada pela auditora Maria Auxiliadora Vasconcellos em conversa gravada pela
Polícia Federal em agosto do ano
passado e divulgada anteontem
pelo "Jornal Nacional", da TV
Globo. Vasconcellos foi presa em
maio passado sob a acusação de
fraude contra o INSS.
Na conversa, a auditora diz que
o esquema começou no governo
FHC e cita o então ministro José
Dirceu (Casa Civil) e o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares,
como receptores do dinheiro.
O procurador identificou dois
dos três auditores que confirmaram conhecer o esquema. Uma é
Maria Teresa Alves, que é a interlocutora de Vasconcellos na conversa gravada pela PF. Em depoimento à Procuradoria, Maria Teresa disse que, depois da conversa, perguntou a outros colegas e
muitos confirmaram.
O outro é o marido de Maria Teresa, o fiscal Francisco José dos
Santos Alves, que teve prisão decretada em fevereiro, sob acusação de fraudar a Previdência. Alves e a terceira testemunha, não-identificada, disseram, segundo o
procurador Aragão, que o esquema era de conhecimento geral.
Vasconcellos e Francisco Alves
obtiveram habeas corpus e respondem ao processo em liberdade. A auditora fundou e dirigia o
Sinsera (Sindicato dos Servidores
da Linha de Arrecadação do INSS
no Rio), que tem entre seus quadros funcionários e auditores investigados por irregularidades.
Vasconcellos deveria ter prestado depoimento na última sexta-feira, mas apresentou um atestado médico e não compareceu.
Também devem prestar esclarecimentos os dirigentes da Firjan. O
procurador Aragão disse que já
requisitou cópia de um dossiê, citado por Vasconcellos, sobre o esquema. E que está levantando informações com o INSS sobre a fiscalização de empresas no Rio.
Os ex-ministros citados na conversa -além de Dirceu, Amir
Lando e Waldeck Ornélas- têm
foro privilegiado e só podem ser
investigados com pedido do procurador-geral da República.
Ontem, o advogado de Vasconcellos, Gentil Silva Júnior, disse
que sua cliente não esteve com o
ex-ministro Amir Lando, como
ela diz na gravação. Quanto à citação de Delúbio Soares, Silva Júnior disse que foram apenas "comentários". O advogado reconhece que Vasconcellos não tem
provas do que diz na conversa.
O advogado de Maria Teresa e
de Francisco Alves, Nélio Andrade, afirma que os auditores recebem ordens para não multar determinadas empresas e que Alves
teria sofrido pressões de seus superiores ao multar a empresa De
Millus em R$ 144 milhões, em
1998. "Francisco foi pressionado
por um procurador do INSS para
anular a multa. O chefe de fiscalização também pressionou."
Posteriormente, a empresa recorreu e obteve o cancelamento
da multa. O advogado de Alves
alega que o débito da De Millus
existia e que foi anulado devido a
interferência política. Em depoimento na Justiça, Nelson Cuphik,
da De Millus, disse que procurou
o deputado federal Miro Teixeira
e que "a anulação era legal".
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