São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 2005

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CPI DOS CORREIOS

Ex-diretor admite ter sido indicado por Silvinho

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-diretor de Tecnologia dos Correios Eduardo Medeiros admitiu ontem, na CPI dos Correios, que foi indicado para o cargo pelo então secretário-geral do PT Silvio Pereira, mas ressaltou que teria sido escolhido por razões técnicas. Sobre se sabia de cobrança de propina, disse que não, mas informou que teriam ocorrido, em duas ou três ocasiões, vazamentos de informações sobre especificações técnicas em licitações.
Ele também negou que a Novadata, empresa de Mauro Dutra, amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tenha sido favorecida na estatal no governo atual.
Mesmo tendo sido indicado por Silvinho, como é chamado, Medeiros disse não ter relacionamento com ele: "Conheci o Silvio Pereira dois meses depois de me tornar diretor dos Correios. Antes, não o conhecia nem por foto".
A presidência e as seis diretorias dos Correios estavam loteadas entre PMDB, PT e PTB e, apesar de a diretoria que ocupava ser da cota do PT, Medeiros afirmou que não havia influência do partido em sua área. Ele disse não ter recebido nenhum parlamentar petista no último ano, embora afirme ser comum deputados acompanharem fornecedores em visitas aos Correios. "A maioria era do PMDB, naturalmente, porque o ministro, o presidente e três diretores eram do PMDB", disse ele.
Medeiros disse que sua saída da diretoria de tecnologia estava certa, pois seria ocupada pelo PTB. Isso não ocorreu, segundo ele, devido à divulgação do vídeo em que o então chefe de contratação dos Correios Maurício Marinho aparece detalhando suposto esquema de corrupção na empresa.
Sobre a Novadata, Medeiros refutou as declarações de Marinho durante as gravações, de que a empresa de Mauro Dutra teria ganhado quase tudo nos Correios nos últimos dois anos: "A Novadata não ganhou quase nada nos últimos dois ano".
De acordo com ele, a empresa do amigo de Lula vendeu R$ 60 milhões em produtos para a estatal em 2002, ou seja, no governo Fernando Henrique Cardoso. Na gestão petista, segundo disse, a empresa teria vendido R$ 10 milhões em 2003 e R$ 5 milhões no ano passado.

Algemas
Medeiros quase sai da CPI preso por falso testemunho. Durante a sessão, o ex-diretor negou que conhecesse um empresário citado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Ao ser pressionado, lembrou ter falado com com ele "há dois ou três dias" pelo telefone.
Suplicy leu uma denúncia feita pelo empresário Vilmar Martins, da Metalúrgica Gadotti Martins Carrinhos Industriais. Ele ganhou uma licitação nos Correios em 1992, quando Medeiros era superintendente da estatal em Brasília.
Segundo o empresário, a licitação para a compra de carrinhos de transporte de correspondência foi dirigida, devido às especificações técnicas exigidas, mas ele ganhou mesmo assim.
Ao tentar entregar o primeiro lote na Delegacia Regional de Belo Horizonte (MG), o gerente de administração dos Correios teria cobrado dos funcionários da Gadotti 20% do valor da nota fiscal em dólares, como condição para receber a mercadoria.
Segundo o senador, o empresário recorreu ao então superintendente Medeiros, que teria mandado o funcionário receber o lote sem a cobrança de propina, o que não teria ocorrido. "O gerente da ECT confirmou a ligação mas disse que os dólares seriam divididos entre ele -10% do valor- e o senhor Eduardo Medeiros", disse o senador, lendo a denúncia.
Medeiros negou a acusação: "Seria no mínimo hilário, absurdo e irresponsável relatar uma história de 13 anos atrás". Ele primeiramente negou conhecer a metalúrgica ou Martins. Depois, pressionado por Suplicy, lembrou ter falado com Martins há "dois ou três dias", provocando a reação dos integrantes da CPI.
O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) acusou Medeiros de falso testemunho, o que permitiria à CPI prendê-lo. O ex-diretor prestou depoimento na condição de testemunha, assinando um compromisso de falar a verdade. Outros parlamentares, no entanto, contiveram Faria de Sá.

Quebra de sigilo
Antecipando-se à ação da oposição, o PT enviou ontem um ofício à CPI dos Correios no qual autoriza "de livre e espontânea vontade" o Banco Central e outras instituições financeiras a fornecer todos seus dados de movimentação bancária para a investigação.
"O PT autoriza expressamente o Banco Central do Brasil e demais instituições do sistema financeiro nacional a fornecer a esta CPMI todas as informações com relação às suas movimentações financeiras", diz a nota assinada pela nova diretoria do partido.
Na carta, porém, o PT pede que todas as informações sigilosas "sejam protegidas contra a utilização indevida" e mantidas em segredo pelos parlamentares e funcionários autorizados.
José Dirceu (PT-SP) e os ex-dirigentes do PT, José Genoino, Delúbio Soares e Silvio Pereira enviaram à CPI, por fax, cartas autorizando o acesso a seus dados secretos. Porém, parlamentares da oposição consideram que os documentos não têm validade.


Colaborou LEILA SUWWAN, da Sucursal de Brasília

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