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CPI DOS CORREIOS
Ex-diretor admite ter sido indicado por Silvinho
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-diretor de Tecnologia dos
Correios Eduardo Medeiros admitiu ontem, na CPI dos Correios,
que foi indicado para o cargo pelo
então secretário-geral do PT Silvio Pereira, mas ressaltou que teria sido escolhido por razões técnicas. Sobre se sabia de cobrança
de propina, disse que não, mas informou que teriam ocorrido, em
duas ou três ocasiões, vazamentos
de informações sobre especificações técnicas em licitações.
Ele também negou que a Novadata, empresa de Mauro Dutra,
amigo do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, tenha sido favorecida na estatal no governo atual.
Mesmo tendo sido indicado por
Silvinho, como é chamado, Medeiros disse não ter relacionamento com ele: "Conheci o Silvio
Pereira dois meses depois de me
tornar diretor dos Correios. Antes, não o conhecia nem por foto".
A presidência e as seis diretorias
dos Correios estavam loteadas entre PMDB, PT e PTB e, apesar de a
diretoria que ocupava ser da cota
do PT, Medeiros afirmou que não
havia influência do partido em
sua área. Ele disse não ter recebido nenhum parlamentar petista
no último ano, embora afirme ser
comum deputados acompanharem fornecedores em visitas aos
Correios. "A maioria era do
PMDB, naturalmente, porque o
ministro, o presidente e três diretores eram do PMDB", disse ele.
Medeiros disse que sua saída da
diretoria de tecnologia estava certa, pois seria ocupada pelo PTB.
Isso não ocorreu, segundo ele, devido à divulgação do vídeo em
que o então chefe de contratação
dos Correios Maurício Marinho
aparece detalhando suposto esquema de corrupção na empresa.
Sobre a Novadata, Medeiros refutou as declarações de Marinho
durante as gravações, de que a
empresa de Mauro Dutra teria ganhado quase tudo nos Correios
nos últimos dois anos: "A Novadata não ganhou quase nada nos
últimos dois ano".
De acordo com ele, a empresa
do amigo de Lula vendeu R$ 60
milhões em produtos para a estatal em 2002, ou seja, no governo
Fernando Henrique Cardoso. Na
gestão petista, segundo disse, a
empresa teria vendido R$ 10 milhões em 2003 e R$ 5 milhões no
ano passado.
Algemas
Medeiros quase sai da CPI preso
por falso testemunho. Durante a
sessão, o ex-diretor negou que conhecesse um empresário citado
pelo senador Eduardo Suplicy
(PT-SP). Ao ser pressionado, lembrou ter falado com com ele "há
dois ou três dias" pelo telefone.
Suplicy leu uma denúncia feita
pelo empresário Vilmar Martins,
da Metalúrgica Gadotti Martins
Carrinhos Industriais. Ele ganhou
uma licitação nos Correios em
1992, quando Medeiros era superintendente da estatal em Brasília.
Segundo o empresário, a licitação para a compra de carrinhos
de transporte de correspondência
foi dirigida, devido às especificações técnicas exigidas, mas ele ganhou mesmo assim.
Ao tentar entregar o primeiro
lote na Delegacia Regional de Belo
Horizonte (MG), o gerente de administração dos Correios teria cobrado dos funcionários da Gadotti 20% do valor da nota fiscal em
dólares, como condição para receber a mercadoria.
Segundo o senador, o empresário recorreu ao então superintendente Medeiros, que teria mandado o funcionário receber o lote
sem a cobrança de propina, o que
não teria ocorrido. "O gerente da
ECT confirmou a ligação mas disse que os dólares seriam divididos
entre ele -10% do valor- e o senhor Eduardo Medeiros", disse o
senador, lendo a denúncia.
Medeiros negou a acusação:
"Seria no mínimo hilário, absurdo e irresponsável relatar uma
história de 13 anos atrás". Ele primeiramente negou conhecer a
metalúrgica ou Martins. Depois,
pressionado por Suplicy, lembrou
ter falado com Martins há "dois
ou três dias", provocando a reação dos integrantes da CPI.
O deputado Arnaldo Faria de Sá
(PTB-SP) acusou Medeiros de falso testemunho, o que permitiria à
CPI prendê-lo. O ex-diretor prestou depoimento na condição de
testemunha, assinando um compromisso de falar a verdade. Outros parlamentares, no entanto,
contiveram Faria de Sá.
Quebra de sigilo
Antecipando-se à ação da oposição, o PT enviou ontem um ofício à CPI dos Correios no qual autoriza "de livre e espontânea vontade" o Banco Central e outras
instituições financeiras a fornecer
todos seus dados de movimentação bancária para a investigação.
"O PT autoriza expressamente o
Banco Central do Brasil e demais
instituições do sistema financeiro
nacional a fornecer a esta CPMI
todas as informações com relação
às suas movimentações financeiras", diz a nota assinada pela nova
diretoria do partido.
Na carta, porém, o PT pede que
todas as informações sigilosas
"sejam protegidas contra a utilização indevida" e mantidas em
segredo pelos parlamentares e
funcionários autorizados.
José Dirceu (PT-SP) e os ex-dirigentes do PT, José Genoino, Delúbio Soares e Silvio Pereira enviaram à CPI, por fax, cartas autorizando o acesso a seus dados secretos. Porém, parlamentares da
oposição consideram que os documentos não têm validade.
Colaborou LEILA SUWWAN, da Sucursal
de Brasília
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