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Delegado vira problema para cúpula da PF
Apesar de apontar insubordinação e excessos de Queiroz, seus superiores avaliam que a operação tem mais méritos que defeitos
São três os excessos que ele teria cometido: filmagem das prisões feita pela Globo, pedido de prisão de repórter da Folha e insubordinação
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O futuro na Polícia Federal
do delegado Protógenes Queiroz, responsável pela Operação
Satiagraha, pode ser definido
nesta semana. Contrariada
com o modo como Queiroz
conduziu a ação, que levou à
prisão do banqueiro Daniel
Dantas, a cúpula da PF gostaria
de afastá-lo do comando das investigações, segundo a Folha
apurou.
Dois aspectos, no entanto,
dificultam hoje uma atitude
mais radical dos superiores do
delegado. A primeira é que,
apesar de apontarem insubordinação e alguns excessos cometidos por Queiroz, o diretor-geral da PF, Luiz Fernando
Corrêa, e seus auxiliares diretos avaliam que a Operação Satiagraha tem muito mais méritos do que defeitos.
O flagrante do pagamento de
propina -em que dois emissários de Dantas foram filmados
tratando da entrega do dinheiro para corromper um dos delegados encarregados da ação-
é citado como um dos exemplos da parte a ser elogiada do
trabalhado realizado por Queiroz e sua equipe.
O segundo obstáculo para remover Queiroz de suas funções
decorre da tática que ele adotou para não dar ciência de
seus passos na investigação aos
diretores de departamento da
PF. Queiroz passou a lançar
dúvidas sobre a confiabilidade
de seus chefes imediatos e até
mesmo do diretor-geral.
À medida que a deflagração
da Operação Satiagraha foi se
aproximando, o delegado começou a espalhar nos corredores da corporação que, se desse
conhecimento do andamento
da operação, informações estratégicas seriam vazadas deliberadamente para minar seu
trabalho, em benefício dos investigados.
Assim, a direção da Polícia
Federal preferiria deixar mais
para frente a decisão de escanteá-lo, por receio de chancelar
a versão que ele difundiu nas
últimas semanas, inclusive para a imprensa, de que a operação foi minada internamente e
que sempre esteve sob o risco
de ser cancelada.
Razões e desejo de retirá-lo
da investigação, no entanto,
não faltam, no entendimento
de Luiz Fernando Corrêa e de
alguns chefes de departamento, segundo a Folha apurou. Se
Queiroz cometer nos próximos
dias um novo erro grave, seu
afastamento pode ser precipitado, mesmo com o desgaste
que a medida provocaria.
Os excessos
São três os excessos mais fortes cometidos por Queiroz, segundo a cúpula da PF. A filmagem das prisões na terça-feira
passada feita pela TV Globo; o
pedido de prisão da jornalista
Andréa Michael, da Folha [negado pela Justiça Federal]; e os
atos de insubordinação, que incluíram, conforme a Folha revelou, a ação clandestina de
agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) na sua
investigação.
O último ponto foi considerado um dos mais graves. A
chefia da PF e o Ministério da
Justiça só tomaram conhecimento da atuação dos arapongas com a publicação da reportagem da Folha, na quinta-feira passada. Segundo a assessoria da PF, a colaboração dos
agentes da Abin não foi solicitada oficialmente nem autorizada pela Justiça.
Segundo a Folha apurou, os
arapongas teriam sido requisitados paralelamente por Queiroz, em sua tática de não confiar em seus superiores hierárquicos na PF.
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