São Paulo, domingo, 13 de julho de 2008

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Delegado vira problema para cúpula da PF

Apesar de apontar insubordinação e excessos de Queiroz, seus superiores avaliam que a operação tem mais méritos que defeitos

São três os excessos que ele teria cometido: filmagem das prisões feita pela Globo, pedido de prisão de repórter da Folha e insubordinação


LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O futuro na Polícia Federal do delegado Protógenes Queiroz, responsável pela Operação Satiagraha, pode ser definido nesta semana. Contrariada com o modo como Queiroz conduziu a ação, que levou à prisão do banqueiro Daniel Dantas, a cúpula da PF gostaria de afastá-lo do comando das investigações, segundo a Folha apurou.
Dois aspectos, no entanto, dificultam hoje uma atitude mais radical dos superiores do delegado. A primeira é que, apesar de apontarem insubordinação e alguns excessos cometidos por Queiroz, o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, e seus auxiliares diretos avaliam que a Operação Satiagraha tem muito mais méritos do que defeitos.
O flagrante do pagamento de propina -em que dois emissários de Dantas foram filmados tratando da entrega do dinheiro para corromper um dos delegados encarregados da ação- é citado como um dos exemplos da parte a ser elogiada do trabalhado realizado por Queiroz e sua equipe.
O segundo obstáculo para remover Queiroz de suas funções decorre da tática que ele adotou para não dar ciência de seus passos na investigação aos diretores de departamento da PF. Queiroz passou a lançar dúvidas sobre a confiabilidade de seus chefes imediatos e até mesmo do diretor-geral.
À medida que a deflagração da Operação Satiagraha foi se aproximando, o delegado começou a espalhar nos corredores da corporação que, se desse conhecimento do andamento da operação, informações estratégicas seriam vazadas deliberadamente para minar seu trabalho, em benefício dos investigados.
Assim, a direção da Polícia Federal preferiria deixar mais para frente a decisão de escanteá-lo, por receio de chancelar a versão que ele difundiu nas últimas semanas, inclusive para a imprensa, de que a operação foi minada internamente e que sempre esteve sob o risco de ser cancelada.
Razões e desejo de retirá-lo da investigação, no entanto, não faltam, no entendimento de Luiz Fernando Corrêa e de alguns chefes de departamento, segundo a Folha apurou. Se Queiroz cometer nos próximos dias um novo erro grave, seu afastamento pode ser precipitado, mesmo com o desgaste que a medida provocaria.

Os excessos
São três os excessos mais fortes cometidos por Queiroz, segundo a cúpula da PF. A filmagem das prisões na terça-feira passada feita pela TV Globo; o pedido de prisão da jornalista Andréa Michael, da Folha [negado pela Justiça Federal]; e os atos de insubordinação, que incluíram, conforme a Folha revelou, a ação clandestina de agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) na sua investigação.
O último ponto foi considerado um dos mais graves. A chefia da PF e o Ministério da Justiça só tomaram conhecimento da atuação dos arapongas com a publicação da reportagem da Folha, na quinta-feira passada. Segundo a assessoria da PF, a colaboração dos agentes da Abin não foi solicitada oficialmente nem autorizada pela Justiça.
Segundo a Folha apurou, os arapongas teriam sido requisitados paralelamente por Queiroz, em sua tática de não confiar em seus superiores hierárquicos na PF.


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