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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ LULA NA MIRA
Após discussões sobre tom da fala do presidente, governo avalia que disse o que era cobrado; improviso, no final, foi premeditado
Debate sobre pedido de desculpas atrasa o pronunciamento
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As palavras "desculpas" e "erros", ditas em um premeditado
improviso no pronunciamento
de televisão do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, foram responsáveis por debates intensos
no governo nos últimos dias e
ainda ontem de manhã, atrasando em três horas e 35 minutos o
início da reunião ministerial marcada para as 9h.
Outras menções à crise, como
uma entrevista coletiva, um discurso em viagem ou um novo
pronunciamento estão em estudo. Ministros e auxiliares acharam que faltou emoção a Lula ao
se dizer "indignado" e "traído".
Mas avaliaram que ele falou o que
era cobrado.
Desde a semana passada, o presidente aceitou o conselho de alguns auxiliares para dar explicações ao país sobre a sua parcela de
responsabilidade na crise política.
O tom de mea-culpa e de autocrítica cuidadosa provocava discussões no governo.
O próprio presidente Lula resistia a fazer o pedido de desculpas,
dizendo que não fizera nada de
errado. Ministros, porém, afirmaram que um pronunciamento no
qual apenas responsabilizasse os
outros seria insuficiente. Lula teria de ter a grandeza de pedir desculpas e admitir erros, o que fez
ontem de leve.
O outro motivo do atraso para o
pronunciamento de Lula, primeiro tópico da reunião ministerial,
foi a demora para se obter a entrevista do ex-deputado Valdemar
Costa Neto (SP) à revista "Época"
que começou a circular ontem.
Presidente do PL, ele fez ataques
ao governo e também ao PT.
Lula só queria falar depois de tomar conhecimento da entrevista,
já que o forte depoimento do publicitário Duda Mendonça anteontem à CPI dos Correios tornara inevitável uma manifestação
sua a respeito da crise.
O texto lido por Lula acabou
não levando em conta a entrevista
de Costa Neto, vista como menos
danosa do que o depoimento do
marqueteiro do presidente.
Antes do pronunciamento, Lula
se reuniu com um grupo menor
de auxiliares, deixando a maioria
dos 32 ministros a esperar.
Participaram dessa conversa,
segundo apurou a Folha, os ministros Márcio Thomaz Bastos
(Justiça), Dilma Roussef (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral),
Jaques Wagner (Relações Institucionais). O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) chegou um
pouco atrasado, mas participou
da maior parte da conversa que
definiu os últimos detalhes do
pronunciamento.
O improviso final, no qual
olhou para as câmeras e pediu
"desculpas", foi premeditado por
Lula, disseram auxiliares.
(KENNEDY ALENCAR)
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