São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ LULA NA MIRA

Após discussões sobre tom da fala do presidente, governo avalia que disse o que era cobrado; improviso, no final, foi premeditado

Debate sobre pedido de desculpas atrasa o pronunciamento

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As palavras "desculpas" e "erros", ditas em um premeditado improviso no pronunciamento de televisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram responsáveis por debates intensos no governo nos últimos dias e ainda ontem de manhã, atrasando em três horas e 35 minutos o início da reunião ministerial marcada para as 9h.
Outras menções à crise, como uma entrevista coletiva, um discurso em viagem ou um novo pronunciamento estão em estudo. Ministros e auxiliares acharam que faltou emoção a Lula ao se dizer "indignado" e "traído". Mas avaliaram que ele falou o que era cobrado.
Desde a semana passada, o presidente aceitou o conselho de alguns auxiliares para dar explicações ao país sobre a sua parcela de responsabilidade na crise política. O tom de mea-culpa e de autocrítica cuidadosa provocava discussões no governo.
O próprio presidente Lula resistia a fazer o pedido de desculpas, dizendo que não fizera nada de errado. Ministros, porém, afirmaram que um pronunciamento no qual apenas responsabilizasse os outros seria insuficiente. Lula teria de ter a grandeza de pedir desculpas e admitir erros, o que fez ontem de leve.
O outro motivo do atraso para o pronunciamento de Lula, primeiro tópico da reunião ministerial, foi a demora para se obter a entrevista do ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP) à revista "Época" que começou a circular ontem. Presidente do PL, ele fez ataques ao governo e também ao PT.
Lula só queria falar depois de tomar conhecimento da entrevista, já que o forte depoimento do publicitário Duda Mendonça anteontem à CPI dos Correios tornara inevitável uma manifestação sua a respeito da crise.
O texto lido por Lula acabou não levando em conta a entrevista de Costa Neto, vista como menos danosa do que o depoimento do marqueteiro do presidente.
Antes do pronunciamento, Lula se reuniu com um grupo menor de auxiliares, deixando a maioria dos 32 ministros a esperar.
Participaram dessa conversa, segundo apurou a Folha, os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Dilma Roussef (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Jaques Wagner (Relações Institucionais). O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) chegou um pouco atrasado, mas participou da maior parte da conversa que definiu os últimos detalhes do pronunciamento.
O improviso final, no qual olhou para as câmeras e pediu "desculpas", foi premeditado por Lula, disseram auxiliares.
(KENNEDY ALENCAR)


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