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Dallari defende Lula e critica Dirceu
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
O advogado e professor aposentado da USP Dalmo Dallari classificou como "manobra" de defesa
e atitude típica de "delinqüentes",
as declarações do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e do presidente do PL e ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP) que envolvem o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva no escândalo do suposto
esquema do "mensalão". Ele disse
não haver elementos formais que
justifiquem um pedido de impeachment do presidente.
"Essas afirmações têm o mesmo
valor de uma afirmação que eu fizesse de que o papa sabia da pedofilia dos padres. Posso dizer: é
impossível que o papa não soubesse e eu vou querer tirar o papa
do trono de são Pedro por causa
disso? É manobra pura e simples
de defesa muito conhecida na
área criminal. Em geral, os delinqüentes agem assim", afirmou.
Nem o depoimento à CPI dos
Correios do publicitário Duda
Mendonça -que fez a campanha
do presidente Lula- pode ser
usado para embasar o pedido de
afastamento, na opinião do professor da USP:
"O que o depoimento deixou
claro é a existência de crimes contra a legislação financeira praticada por entidades privadas, pelas
empresas tanto de Marcos Valério quanto do Duda. Em nenhum
momento ficou dito que o presidente da República participou
dessas falcatruas".
Dalmo Dallari, 73, natural de
Serra Negra (SP), recebeu ontem
na Câmara Municipal de São Paulo o título de cidadão da cidade
em cerimônia onde a crise política
se impôs como tema.
O senador Eduardo Suplicy
(PT-SP) se disse ansioso pelo pronunciamento do presidente Lula,
que até então não havia ocorrido,
e pediu a Dallari que "aconselhasse" o presidente.
A sala estava coalhada de lideranças petistas e apoiadores históricos. Na mesa estava também a
filósofa Marilena Chaui, que não
fez discurso nem quis falar com a
imprensa. Na platéia, o presidente
da Radiobrás, Eugenio Bucci,
genro de Dallari.
No discurso, o advogado não citou Lula, mas mencionou a crise
política por que passa o país.
"Não criei mensalão ou mensalinho e consegui aprovar o projeto", disse Dallari, ao comentar a
aprovação pela Câmara, na gestão
Luiza Erundina -de 1989-1992,
quando ela ainda era filiada ao
PT-, da criação de um serviço de
apoio jurídico à população pobre.
Depois, em entrevista, ao analisar o momento político, Dallari
disse que Lula se "isolou" e se
omitiu da tarefa de negociar com
o Congresso. Ele criticou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e
culpou alguns ministros e dirigentes do PT, "que se arvoraram
de negociadores", pelo desastre
do governo.
"O primeiro grande acordo do
governo foi feito entre o ministro
José Dirceu e o senador José Sarney. Critiquei esse acordo para o
próprio Dirceu. E ele me disse que
o acordo iria garantir a aprovação
de todas as propostas. Não garantiu coisa alguma e mais: José Sarney, na hora do perigo, desaparece. Hoje não se sabe se ele está no
Brasil, onde é que foi, porque não
quer se envolver nisso."
Dalmo Dallari defendeu que o
presidente Lula convoque o Conselho de Justiça para negociar
com representantes da oposição e
do governo as saídas para crise.
Ele classificou como "golpe de Estado" qualquer proposta de convocação de Constituinte.
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