São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2005

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Dallari defende Lula e critica Dirceu

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O advogado e professor aposentado da USP Dalmo Dallari classificou como "manobra" de defesa e atitude típica de "delinqüentes", as declarações do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e do presidente do PL e ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP) que envolvem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no escândalo do suposto esquema do "mensalão". Ele disse não haver elementos formais que justifiquem um pedido de impeachment do presidente.
"Essas afirmações têm o mesmo valor de uma afirmação que eu fizesse de que o papa sabia da pedofilia dos padres. Posso dizer: é impossível que o papa não soubesse e eu vou querer tirar o papa do trono de são Pedro por causa disso? É manobra pura e simples de defesa muito conhecida na área criminal. Em geral, os delinqüentes agem assim", afirmou.
Nem o depoimento à CPI dos Correios do publicitário Duda Mendonça -que fez a campanha do presidente Lula- pode ser usado para embasar o pedido de afastamento, na opinião do professor da USP:
"O que o depoimento deixou claro é a existência de crimes contra a legislação financeira praticada por entidades privadas, pelas empresas tanto de Marcos Valério quanto do Duda. Em nenhum momento ficou dito que o presidente da República participou dessas falcatruas".
Dalmo Dallari, 73, natural de Serra Negra (SP), recebeu ontem na Câmara Municipal de São Paulo o título de cidadão da cidade em cerimônia onde a crise política se impôs como tema.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) se disse ansioso pelo pronunciamento do presidente Lula, que até então não havia ocorrido, e pediu a Dallari que "aconselhasse" o presidente.
A sala estava coalhada de lideranças petistas e apoiadores históricos. Na mesa estava também a filósofa Marilena Chaui, que não fez discurso nem quis falar com a imprensa. Na platéia, o presidente da Radiobrás, Eugenio Bucci, genro de Dallari.
No discurso, o advogado não citou Lula, mas mencionou a crise política por que passa o país. "Não criei mensalão ou mensalinho e consegui aprovar o projeto", disse Dallari, ao comentar a aprovação pela Câmara, na gestão Luiza Erundina -de 1989-1992, quando ela ainda era filiada ao PT-, da criação de um serviço de apoio jurídico à população pobre.
Depois, em entrevista, ao analisar o momento político, Dallari disse que Lula se "isolou" e se omitiu da tarefa de negociar com o Congresso. Ele criticou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e culpou alguns ministros e dirigentes do PT, "que se arvoraram de negociadores", pelo desastre do governo.
"O primeiro grande acordo do governo foi feito entre o ministro José Dirceu e o senador José Sarney. Critiquei esse acordo para o próprio Dirceu. E ele me disse que o acordo iria garantir a aprovação de todas as propostas. Não garantiu coisa alguma e mais: José Sarney, na hora do perigo, desaparece. Hoje não se sabe se ele está no Brasil, onde é que foi, porque não quer se envolver nisso."
Dalmo Dallari defendeu que o presidente Lula convoque o Conselho de Justiça para negociar com representantes da oposição e do governo as saídas para crise. Ele classificou como "golpe de Estado" qualquer proposta de convocação de Constituinte.


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