São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ MARKETING

Berzoini anuncia rompimento com publicitário e afirma que registros do partido indicam custo de R$ 7,5 milhões na campanha de Lula

PT apresenta notas de pagamentos a Duda

CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, disse ontem que os pagamentos do partido ao publicitário Duda Mendonça por serviços prestados para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 se resumem a R$ 7 milhões com registro na Justiça Eleitoral e notas fiscais emitidas.
Outros contratos para propagandas institucionais do partido de 2001 até este ano somam, segundo o dirigente, R$ 4,4 milhões.
O secretário-geral afirmou que, a partir de agora, "não há qualquer motivação para o partido continuar mantendo relações de contratação" com Duda. "O contrato, do ponto de vista político, está rescindido. Vamos verificar, do ponto de vista jurídico, o que será possível fazer", disse ele.
Berzoini e o novo tesoureiro petista, José Pimentel, divulgaram quadro no qual detalham datas de emissões de notas e valores dos pagamentos à CEP Comunicação e Estratégia Política Ltda., empresa de Duda. O secretário-geral disse que o PT não reconhecerá nenhum outro tipo de relação comercial com o publicitário.
Em depoimento à CPI dos Correios, Duda afirmou ter fechado um pacote de R$ 25 milhões com o PT para as campanhas de Lula à Presidência, José Genoino ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante ao Senado e Benedita da Silva ao governo do Rio.
Parte do dinheiro teria sido paga pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, por meio de uma "offshore" nas Bahamas, e outra parte pelo ex-tesoureiro do PT nacional Delúbio Soares.
"Quem o pagou [por fora] não pagou pelo PT e o recebimento que ele [Duda] fez, se de fato ocorreu, é um recebimento ilegal, portanto, o PT não tem compromisso com atos ilegais", afirmou Berzoini, negando que o partido tenha deixado qualquer dívida com o publicitário referente à campanha presidencial de Lula em 2002.
"Assim como Marcos Valério, ele [Duda] está tratando de relações informais com o senhor Delúbio e nós temos uma posição clara sobre isso: quem se presta a assumir compromissos em relações informais está agindo na ilegalidade e não fala pelo partido."
O dirigente petista ainda pôs em xeque as declarações de Duda. "Não quero dizer que ninguém está mentindo mas também não quero tomar por verdade as declarações de uma pessoa que já estabeleceu na CPI uma estratégia para se proteger de sua situação jurídica", disse. "Quem procura a CPI voluntariamente como ele fez e assume esse tipo de informação pode estar querendo se esquivar de outras ilicitudes maiores."
Berzoini defendeu ainda que a CPI faça um investigação internacional. "Deve-se quebrar o sigilo bancário e fiscal dessa "offshore"."
Nas prestações oficiais das contas de Lula, Mercadante, Benedita e Genoino, os pagamentos a Duda somam R$ 8,4 milhões, dos quais R$ 7 milhões foram pagos pela campanha presidencial, R$ 50 mil pela campanha do senador, R$ 1,2 milhões pela campanha ao governo do Rio e R$ 150 mil pela campanha ao governo de São Paulo.
Os petistas também declararam à Justiça Eleitoral um pagamento de R$ 1,9 milhão à empresa de Duda feito pelo comitê financeiro único de campanha de partido.

Contas gaúchas
O PT nacional ouviu o tesoureiro do PT gaúcho, Cristian Silva, sobre o suposto recebimento, pelo diretório regional, de dinheiro das contas de Marcos Valério -o PT gaúcho está na lista de beneficiário das contas do empresário entregue por ele à Polícia Federal.
Berzoini afirmou que o partido está investigando o caso, mas negou que o dinheiro tenha sido usado na campanha ao governo do Rio Grande do Sul, disputada pelo hoje presidente do PT, Tarso Genro. "Não existe qualquer indício de utilização de recursos não contabilizados ou caixa dois na campanha de 2002 no Rio Grande do Sul", disse o secretário-geral.


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