São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ LULA NA MIRA

Comissão pede ao Ministério da Justiça que solicite dos Estados Unidos ajuda para vasculhar remessas para a conta de Duda Mendonça

CPI procura financiadores do PT no exterior

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI dos Correios recorreu ontem ao Ministério da Justiça para rastrear a origem do dinheiro de caixa dois, referente às campanhas do PT em 2002, depositado em uma conta do publicitário Duda Mendonça no exterior por meio de Marcos Valério de Souza. Será pedida a colaboração dos governos dos EUA e das Bahamas.
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito anteontem, o marqueteiro da campanha vitoriosa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ter recebido R$ 15,5 milhões do PT em 2003, sem a emissão de notas fiscais, para saldar dívidas das campanhas de 2002 e serviços prestados ao partido em 2003.
Desse total, R$ 10,5 milhões foram depositados em uma conta nas Bahamas, R$ 1,4 milhão sacado em espécie das contas de Marcos Valério no Banco Rural e R$ 3,6 milhões foram pegos diretamente com o então tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Marcos Valério teria pedido a Duda para abrir uma conta no exterior onde seria depositada parte do dinheiro devido. Ele abriu então uma offshore -empresa em que os sócios não são identificados- com o nome de Dusseldorf nas Bahamas. Nessa conta a SMPB, empresa de Valério, teria feito depósitos provenientes do BAC Florida Bank, Banco Rural Europa, Israel Discount Bank de Nova York e de uma empresa chamada Trade Link.
A CPI pediu a cooperação do ministério porque a quebra do sigilo bancário dessas contas requer autorização da Justiça no exterior. O presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e os sub-relatores se reuniram ontem com a secretária nacional de Justiça, Cláudia Chagas.
"Se a origem desse dinheiro for ilícita, o governo brasileiro vai pedir o bloqueio dessas contas e se empenhar na repatriação dos recursos. Pode haver crime de evasão de divisas e de corrupção", afirmou a secretária. O governo brasileiro vai pedir a colaboração dos EUA porque, apesar da offshore estar sediada nas Bahamas, Duda possui uma conta no BankBoston de Miami, que pode ter sido o destino final do dinheiro.
Os dois países possuem um acordo de cooperação na área de lavagem de dinheiro. Cláudia Chagas chegou a consultar, sem caráter oficial, o governo dos EUA antes da reunião com a CPI e teria recebido uma resposta positiva.
Em outra frente, se o marqueteiro não colocar à disposição da CPI sua movimentação bancária, a Polícia Federal, que também investiga o caso, pedirá a quebra de seu sigilo ao Ministério Público.
Em 2002, Duda fechou um pacote de R$ 25 milhões para fazer a campanha presidencial e as de José Genoino ao governo de São Paulo, de Aloizio Mercadante ao Senado e de Benedita da Silva para o governo do Rio de Janeiro e de Edson Santos a senador pelo Rio de Janeiro.
Segundo Duda, o PT ficou devendo R$ 11,5 milhões desse pacote de 2002, que se somaram a um contrato de R$ 7,3 milhões fechado em 2003 para fazer comerciais partidários. Essa dívida foi quitada em 2003 com o dinheiro do caixa dois. Apesar de não ser capaz de discriminar os valores cobrados para cada campanha, Duda tentou preservar Lula, dizendo que no caso específico da campanha presidencial emitiu notas fiscais, ou seja, não houve caixa dois.
Ele não conseguiu comprovar, no entanto, que o dinheiro utilizado para pagar as despesas da campanha presidencial veio de fontes oficiais e não do esquema montado entre o PT e Marcos Valério.
O marqueteiro também isentou a campanha de Mercadante porque o custo teria sido muito baixo. Assim, colocou a responsabilidade apenas nos que perderam as eleições: Genoino e Benedita.
O depoimento inesperado de Duda mudou o foco das investigações e desnorteou os condutores da CPI. Pela primeira vez não foi definida a agenda da próxima semana. "Os últimos acontecimentos nos levaram a reavaliar o quadro", afirmou Delcídio.


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