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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ LULA NA MIRA
Comissão pede ao Ministério da Justiça que solicite dos Estados Unidos ajuda para vasculhar remessas para a conta de Duda Mendonça
CPI procura financiadores do PT no exterior
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A CPI dos Correios recorreu ontem ao Ministério da Justiça para
rastrear a origem do dinheiro de
caixa dois, referente às campanhas do PT em 2002, depositado
em uma conta do publicitário Duda Mendonça no exterior por
meio de Marcos Valério de Souza.
Será pedida a colaboração dos governos dos EUA e das Bahamas.
Em depoimento à Comissão
Parlamentar de Inquérito anteontem, o marqueteiro da campanha
vitoriosa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ter recebido R$ 15,5 milhões do PT em
2003, sem a emissão de notas fiscais, para saldar dívidas das campanhas de 2002 e serviços prestados ao partido em 2003.
Desse total, R$ 10,5 milhões foram depositados em uma conta
nas Bahamas, R$ 1,4 milhão sacado em espécie das contas de Marcos Valério no Banco Rural e R$
3,6 milhões foram pegos diretamente com o então tesoureiro do
PT Delúbio Soares.
Marcos Valério teria pedido a
Duda para abrir uma conta no exterior onde seria depositada parte
do dinheiro devido. Ele abriu então uma offshore -empresa em
que os sócios não são identificados- com o nome de Dusseldorf
nas Bahamas. Nessa conta a
SMPB, empresa de Valério, teria
feito depósitos provenientes do
BAC Florida Bank, Banco Rural
Europa, Israel Discount Bank de
Nova York e de uma empresa
chamada Trade Link.
A CPI pediu a cooperação do
ministério porque a quebra do sigilo bancário dessas contas requer autorização da Justiça no exterior. O presidente da comissão,
senador Delcídio Amaral (PT-MS), e os sub-relatores se reuniram ontem com a secretária nacional de Justiça, Cláudia Chagas.
"Se a origem desse dinheiro for
ilícita, o governo brasileiro vai pedir o bloqueio dessas contas e se
empenhar na repatriação dos recursos. Pode haver crime de evasão de divisas e de corrupção",
afirmou a secretária. O governo
brasileiro vai pedir a colaboração
dos EUA porque, apesar da offshore estar sediada nas Bahamas,
Duda possui uma conta no BankBoston de Miami, que pode ter sido o destino final do dinheiro.
Os dois países possuem um
acordo de cooperação na área de
lavagem de dinheiro. Cláudia
Chagas chegou a consultar, sem
caráter oficial, o governo dos EUA
antes da reunião com a CPI e teria
recebido uma resposta positiva.
Em outra frente, se o marqueteiro não colocar à disposição da
CPI sua movimentação bancária,
a Polícia Federal, que também investiga o caso, pedirá a quebra de
seu sigilo ao Ministério Público.
Em 2002, Duda fechou um pacote de R$ 25 milhões para fazer a
campanha presidencial e as de José Genoino ao governo de São
Paulo, de Aloizio Mercadante ao
Senado e de Benedita da Silva para o governo do Rio de Janeiro e
de Edson Santos a senador pelo
Rio de Janeiro.
Segundo Duda, o PT ficou devendo R$ 11,5 milhões desse pacote de 2002, que se somaram a um
contrato de R$ 7,3 milhões fechado em 2003 para fazer comerciais
partidários. Essa dívida foi quitada em 2003 com o dinheiro do
caixa dois. Apesar de não ser capaz de discriminar os valores cobrados para cada campanha, Duda tentou preservar Lula, dizendo
que no caso específico da campanha presidencial emitiu notas fiscais, ou seja, não houve caixa dois.
Ele não conseguiu comprovar,
no entanto, que o dinheiro utilizado para pagar as despesas da campanha presidencial veio de fontes
oficiais e não do esquema montado entre o PT e Marcos Valério.
O marqueteiro também isentou
a campanha de Mercadante porque o custo teria sido muito baixo. Assim, colocou a responsabilidade apenas nos que perderam as
eleições: Genoino e Benedita.
O depoimento inesperado de
Duda mudou o foco das investigações e desnorteou os condutores da CPI. Pela primeira vez não
foi definida a agenda da próxima
semana. "Os últimos acontecimentos nos levaram a reavaliar o
quadro", afirmou Delcídio.
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