São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2005

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CAIXA 2

Jader Kalid Antônio afirmou ter sido procurado por Ramon Cardoso, que queria fazer remessas de R$ 2 milhões para o exterior, em 2003

Doleiro revela consultoria a sócio da SMPB

PAULO PEIXOTO
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O doleiro Jader Kalid Antônio, 45, confirmou ontem que prestou consultoria a Ramon Hollerbach Cardoso, sócio de Marcos Valério de Souza na SMPB, no período em que foram feitas remessas para a conta do publicitário Duda Mendonça no exterior. Ele negou, porém, ter feito as operações e disse que, na época em que foi consultado, a SMPB já fazia operações financeiras no exterior.
Segundo Kalid, que cobrou "transparência" de Duda, se o marqueteiro tivesse sido claro anteontem na CPI dos Correios, já se poderia ter toda a trajetória do dinheiro que foi enviado ao exterior. "Ele não precisa quebrar sigilo nenhum, era só fornecer o extrato detalhado de sua conta. Toda conta possui um extrato detalhado. Ele pode fazer isso até pela internet. E isso vai chegar aos remetentes", disse.
Kalid disse que foi procurado por Ramon Cardoso, que queria fazer remessas de R$ 2 milhões para o exterior, em 2003. "Eu sou um pequeno operador, mostrei um caminho para remeter R$ 500 mil. Pelo conhecimento que notei que ele tinha do mercado financeiro internacional, ficou evidente que eles, na empresa [SMPB], já operavam contas no exterior."
"Eles me procuraram porque queriam separar essas remessas das usuais, isso ficou claro. Eles não queriam envolver o operador usual deles", afirmou. "Estou apreensivo, não conheço Duda, Valério ou alguém do PT. Não sei por que me consultaram e depois me relacionaram às remessas."
O doleiro disse que, no contato com Cardoso, lhe foi mostrada uma conta no exterior, no Banco de Boston, que ele disse não saber precisar se foi a conta da offshore Dusseldorf. "Eu não lembro, mesmo porque fiz apenas uma consultoria, não tenho papéis disso."
Sobre o fato de ele ter remetido fax para Geiza Dias, gerente financeira da SMPB -existem extratos de transferência ligando seu nome ao de Geiza na CPI dos Correios-, Kalid disse que foi consultado no final de 2003 pela gerente financeira para analisar remessas feitas ao exterior.
"Ela estava preocupada porque o dinheiro não havia chegado ao destino. Passou extratos de transferências para que eu checasse. Vi que as remessas estavam corretas", disse. Segundo Kalid, as operações foram feitas no sistema paralelo, eufemismo dos doleiros para as remessas ilegais.

Dusseldorf
Kalid disse que, pelo conhecimento que tem do mercado financeiro internacional, a conta da offshore Dusseldorf, no BankBoston International, é uma conta de "blindagem de investimentos, não uma conta de bate-e-volta, ou seja, de lavagem".
Segundo ele, Duda Mendonça "deve ser bastante respeitado pelo Banco de Boston, pois foi incluído em uma conta de investimentos". "Esse tipo de conta é para quem quer ficar com o dinheiro, não declarado, lá fora, como uma espécie de poupança, não para quem quer repatriar os valores."

Outro lado
Único sócio da SMPB que ainda não tinha aparecido na linha de frente das investigações, Ramon Hollerbach Cardoso disse ontem, por meio de nota da assessoria da agência, que "não são verdadeiras" as declarações do doleiro.
Vice-presidente da SMPB, Cardoso disse que "jamais procurou o sr. Kalid para prestação de serviços de consultoria financeira ou qualquer outro tipo de negócio". E que "não enviou e não possui recursos fora do país".
"Ramon Cardoso destaca que já teve seus sigilos fiscal e bancários quebrados. Toda a contabilidade de sua empresa já foi disponibilizada para Receita Federal, Procuradoria Geral [da República], CPIs dos Correios e do Mensalão", encerra a nota.
A SMPB não comentou sobre os fax que Kalid trocou com a gerente financeira Geiza Dias.
Anteontem, nota de Valério informou que os valores pagos a Duda foram entregues ao "consultor financeiro Jader [Kalid], seguindo instruções de Duda Mendonça e Zilmar Fernandes [sócia de Duda]". Marcelo Leonardo, advogado de Valério, completou a informação dizendo que havia um fax de Kalid para Geiza explicitando as formas de pagamento.


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