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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONTAS DO PRESIDENTE
Depósitos no BB foram feitos em agências de três bairros de São Paulo; em todos eles, o presidente é identificado oficialmente como depositante
Pagador de dívida de Lula usou 4 agências
MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quatro agências bancárias, localizadas em três bairros diferentes de São Paulo, foram usadas
para o pagamento em dinheiro vivo da dívida de R$ 29.436,26 do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o PT. O portador do dinheiro não foi identificado pelo
Banco do Brasil, segundo informação do próprio banco repassada à CPI dos Correios.
A comissão investiga se a dívida, registrada na prestação de
contas de 2003 do PT, foi quitada
com dinheiro do caixa dois do
partido, operado pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares e pelo publicitário mineiro Marcos Valério
Fernandes de Souza.
O portador do dinheiro para o
pagamento das parcelas -a primeira, de R$ 12 mil, duas de R$
6.000 e uma última, no valor de
R$ 5.436- foi às agências do
Banco do Brasil no centro de São
Paulo e nos bairros de Higienópolis e da Liberdade entre dezembro
de 2003 e março de 2004. No primeiro depósito, apresentou os
números da carteira de identidade e do CPF do presidente.
Em todos os depósitos, Lula é
identificado oficialmente como
depositante, embora não tenha
passado perto das agências nas
datas dos pagamentos.
A falta da identificação do portador do dinheiro dificulta o trabalho da CPI dos Correios, mas
não contrariaria normas legais e
do Banco Central, que só exigem a
identificação dos portadores de
depósitos em dinheiro vivo acima
de R$ 100 mil. Nos depósitos acima de R$ 10 mil, o banco só precisa identificar o titular do depósito
diante de indícios de "ocultação
ou dissimulação".
Em versão contestada por integrantes da CPI dos Correios, o
presidente do Sebrae (Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Paulo Okamotto, afirmou ter pago a dívida.
Para isso, teria feito saques em
suas contas bancárias em datas e
valores não coincidentes com os
das parcelas da dívida de Lula
com o PT. O dinheiro teria sido
repassado ao PT, disse Okamotto,
amigo do presidente.
Em férias
A Folha tentou mais uma vez
ontem ouvir Solange Pereira Oliveira, funcionária do departamento financeiro do PT, responsável por "contas a pagar" do Diretório Nacional do partido. Sem
a identificação do portador do dinheiro por parte do Banco do
Brasil, ela poderia esclarecer
quem fez os depósitos.
Solange não é vista no trabalho
desde que seu nome foi identificado como uma das beneficiárias
dos saques das agências do publicitário Marcos Valério Fernandes
de Souza. Segundo informação da
assessoria do PT, a funcionária estaria em férias.
Ouvida pela Polícia Federal na
quinta-feira da semana passada,
Solange disse que sacou três parcelas de R$ 100 mil em dinheiro
por orientação do ex-tesoureiro
Delúbio Soares -R$ 100 mil a
mais do que as movimentações já
identificadas pela CPI dos Correios. Segundo Solange, os saques
foram um "pedido" de Delúbio,
não uma ordem. Os saques teriam
sido feitos em março de 2004.
Ainda à Polícia Federal Solange
afirmou desconhecer o destino do
dinheiro sacado de uma agência
do Banco Rural e entregue ao ex-tesoureiro. A funcionária afirmou
que o dinheiro não entrou na contabilidade oficial do PT. Ela negou
ter pago qualquer despesa com o
dinheiro dos saques.
A Folha procurou também sem
sucesso ouvir o ex-tesoureiro Delúbio Soares e seu advogado, Antônio Malheiros. De acordo com o
PT, cabe a Delúbio Soares explicar
lançamento da dívida em nome
de Lula. Mas ele não quis falar.
Em depoimento à CPI dos Correios, o ex-tesoureiro preferiu não
responder à pergunta sobre se a
dívida teria sido quitada com dinheiro do publicitário Marcos
Valério Fernandes de Souza.
Na prestação de contas do PT
encaminhada ao TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) em 2004, a dívida do presidente é registrada
em dois campos: "adiantamento a
empregados" e "adiantamento a
terceiros".
Há quase um mês, o presidente
Lula, por meio da assessoria do
Palácio do Planalto, reitera que
não tem conhecimento da dívida
nem do seu pagamento.
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