São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONTAS DO PRESIDENTE

Depósitos no BB foram feitos em agências de três bairros de São Paulo; em todos eles, o presidente é identificado oficialmente como depositante

Pagador de dívida de Lula usou 4 agências

MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quatro agências bancárias, localizadas em três bairros diferentes de São Paulo, foram usadas para o pagamento em dinheiro vivo da dívida de R$ 29.436,26 do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o PT. O portador do dinheiro não foi identificado pelo Banco do Brasil, segundo informação do próprio banco repassada à CPI dos Correios.
A comissão investiga se a dívida, registrada na prestação de contas de 2003 do PT, foi quitada com dinheiro do caixa dois do partido, operado pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares e pelo publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza.
O portador do dinheiro para o pagamento das parcelas -a primeira, de R$ 12 mil, duas de R$ 6.000 e uma última, no valor de R$ 5.436- foi às agências do Banco do Brasil no centro de São Paulo e nos bairros de Higienópolis e da Liberdade entre dezembro de 2003 e março de 2004. No primeiro depósito, apresentou os números da carteira de identidade e do CPF do presidente.
Em todos os depósitos, Lula é identificado oficialmente como depositante, embora não tenha passado perto das agências nas datas dos pagamentos.
A falta da identificação do portador do dinheiro dificulta o trabalho da CPI dos Correios, mas não contrariaria normas legais e do Banco Central, que só exigem a identificação dos portadores de depósitos em dinheiro vivo acima de R$ 100 mil. Nos depósitos acima de R$ 10 mil, o banco só precisa identificar o titular do depósito diante de indícios de "ocultação ou dissimulação".
Em versão contestada por integrantes da CPI dos Correios, o presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Paulo Okamotto, afirmou ter pago a dívida. Para isso, teria feito saques em suas contas bancárias em datas e valores não coincidentes com os das parcelas da dívida de Lula com o PT. O dinheiro teria sido repassado ao PT, disse Okamotto, amigo do presidente.

Em férias
A Folha tentou mais uma vez ontem ouvir Solange Pereira Oliveira, funcionária do departamento financeiro do PT, responsável por "contas a pagar" do Diretório Nacional do partido. Sem a identificação do portador do dinheiro por parte do Banco do Brasil, ela poderia esclarecer quem fez os depósitos.
Solange não é vista no trabalho desde que seu nome foi identificado como uma das beneficiárias dos saques das agências do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Segundo informação da assessoria do PT, a funcionária estaria em férias.
Ouvida pela Polícia Federal na quinta-feira da semana passada, Solange disse que sacou três parcelas de R$ 100 mil em dinheiro por orientação do ex-tesoureiro Delúbio Soares -R$ 100 mil a mais do que as movimentações já identificadas pela CPI dos Correios. Segundo Solange, os saques foram um "pedido" de Delúbio, não uma ordem. Os saques teriam sido feitos em março de 2004.
Ainda à Polícia Federal Solange afirmou desconhecer o destino do dinheiro sacado de uma agência do Banco Rural e entregue ao ex-tesoureiro. A funcionária afirmou que o dinheiro não entrou na contabilidade oficial do PT. Ela negou ter pago qualquer despesa com o dinheiro dos saques.
A Folha procurou também sem sucesso ouvir o ex-tesoureiro Delúbio Soares e seu advogado, Antônio Malheiros. De acordo com o PT, cabe a Delúbio Soares explicar lançamento da dívida em nome de Lula. Mas ele não quis falar.
Em depoimento à CPI dos Correios, o ex-tesoureiro preferiu não responder à pergunta sobre se a dívida teria sido quitada com dinheiro do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Na prestação de contas do PT encaminhada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2004, a dívida do presidente é registrada em dois campos: "adiantamento a empregados" e "adiantamento a terceiros".
Há quase um mês, o presidente Lula, por meio da assessoria do Palácio do Planalto, reitera que não tem conhecimento da dívida nem do seu pagamento.


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