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PF algema 27, apesar de decisão do STF
Operação Dupla Face, deflagrada em cinco Estados, prendeu 32 acusados de integrar esquema de corrupção no Incra e na Receita
Segundo a polícia, o uso de algemas segue o previsto no manual da corporação e é uma medida de segurança para "o policial e o detido"
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
A Polícia Federal em Mato
Grosso deflagrou ontem a Operação Dupla Face contra dois
esquemas de corrupção descobertos no Incra e na Receita Federal. Os 27 presos em Cuiabá
foram algemados -uma semana depois de o STF (Supremo
Tribunal Federal) decidir que a
medida só deveria ser adotada
em casos "excepcionais".
Para a operação, a Justiça expediu 34 mandados de prisão
temporária e 65 mandados de
busca e apreensão em cinco Estados. Os "alvos" incluíam 18
servidores dos dois órgãos e 16
despachantes que atuariam como intermediadores, diz a PF.
A quadrilha descoberta no
Incra (Instituto Nacional da
Colonização e Reforma Agrária), segundo a PF, cooptava fazendeiros interessados em obter irregularmente a certificação de propriedades rurais. Na
Receita Federal, os crimes
identificados pela polícia foram
o fornecimento, mediante propina, de dados sigilosos, cancelamento irregular de créditos
tributários e fraude em processos de restituição de imposto
de renda. Em ambos os casos,
segundo a PF, a propina podia
variar de R$ 100 a R$ 30 mil.
Até o final da tarde de ontem,
32 suspeitos haviam sido presos -sendo 31 em Mato Grosso
e 1 em Minas Gerais.
Segundo a PF, o uso de algemas seguiu o previsto no manual interno da corporação e é
uma medida de segurança para
o "policial e para o detido".
Em 7 de agosto, o STF decidiu, por unanimidade, que a
medida só deveria ser adotada
em casos "excepcionais" e de
"evidente perigo de fuga ou
agressão". A decisão foi tomada
no julgamento de um habeas
corpus específico, mas os ministros decidiram editar uma
súmula vinculante, tornando o
entendimento obrigatório para
as instâncias inferiores.
A assessoria do STF informou que o texto da nova súmula ainda precisa ser redigido e
votado em plenário antes de
entrar em vigor.
Segundo o delegado Luciano
Salgado, que chefiou o inquérito, a investigação começou em
2006, após denúncias de que
funcionários do Incra exigiam
propina para dar andamento a
processos de obtenção do CCIR
(Certificado de Cadastro de
Imóvel Rural) -documento
sem o qual o proprietário não
pode fazer negociação envolvendo as terras ou ter acesso a
financiamentos bancários.
O trabalho envolveu vigílias,
escutas e gravações em vídeo.
Segundo Salgado, o método
consistia em "criar dificuldades
para vender facilidades" a interessados. Entre os presos está o
procurador federal do Incra em
Mato Grosso, Antônio Reginaldo Galdino. Ele é acusado de receber propina para assinar pareceres favoráveis a processos
de interesse da quadrilha.
José Toledo Pizza, advogado
de Galdino, criticou o uso de algemas e disse que ninguém ofereceu resistência.
Em nota, a assessoria do Incra diz que a ação "é decorrente
de solicitação" do órgão. Na Receita em Cuiabá, ninguém se
pronunciou sobre o caso.
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