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Ex-chefe de polícia do Rio é cassado pela Assembléia
Plenário deu 36 votos favoráveis à perda do mandato de Álvaro Lins, alvo da PF
Lins tentou convencer os deputados de que faltam provas contra o suposto envolvimento dele na Operação Segurança Pública
RAPHAEL GOMIDE
LUISA BELCHIOR
DA SUCURSAL DO RIO
A Assembléia do Rio cassou
ontem, com o mínimo de votos
necessários, o deputado estadual Álvaro Lins (PMDB), ex-chefe da Polícia Civil do Rio.
Foram 36 votos favoráveis à
perda do mandato e 24 contra,
além de 3 abstenções.
No discurso antes da votação,
Lins não conseguiu convencer
seus pares de que faltam provas
da Polícia Federal e do Ministério Público contra ele na Operação Segurança Pública. Ele
foi denunciado por formação
de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e
descaminho. É acusado de,
quando chefe de polícia nos governos Anthony e Rosinha Garotinho, oferecer proteção a
envolvidos com jogo do bicho e
máquinas caça-níqueis.
Sob gritos de "Fora! Fora!" de
manifestantes que quase foram
impedidos de entrar pela segurança da Casa, deixou apressadamente o Palácio Tiradentes,
ao lado dos advogados, logo
após o anúncio da cassação.
Antes, no discurso, chamou
os policiais federais que o prenderam de "porcos e cachorros",
citando o livro "Revolução dos
Bichos", de George Orwell
(1903-1950). "Os cães criados
por porcos bateram na porta da
minha casa. Esses cachorros
-que o ministro Gilmar Mendes muito bem classificou de
"canalhas", porque é assim que
agem- foram à minha casa armados em 12 homens, armados
de fuzis e metralhadoras." Lins
também recorreu à poesia de
Augusto dos Anjos para relatar
o abandono de amigos.
No discurso firme e aparentando tranqüilidade, fez ataques à imprensa, que, segundo
ele, o condenou sem provas e
sem lhe dar direito a defesa.
"Sou tratado aqui como condenado em última instância. Não
subi para me defender, porque
condenado já fui, pelos canalhas que se escondem nos porões da PF. Não vai ser atirando
deputados aos leões que vamos
saciar porcos e cachorros."
A cassação surpreendeu até
quem defendeu na tribuna a
perda do mandato de Lins. Ele
vinha articulando apoio do
"baixo clero" e de lideranças.
Após votarem, 30 dos 63 deputados afirmaram ter optado
pela perda do mandato -só
dois disseram ter votado "não".
Quando os envelopes foram
abertos, porém, revelaram-se
36 a favor da cassação.
O suspense foi até o último
envelope, anunciado pelo presidente da Alerj, Jorge Picciani
(PMDB), e decretando a perda
do mandato. "Foi emocionante.
A Casa tem salvação. É preciso
reagir à altura aos acontecimentos. Roubou, cassou", disse
Cidinha Campos (PDT).
"A Alerj sai fortalecida.
Quem ganha é a democracia, o
Estado de Direito e se fortalecem a Polícia federal e o Ministério Público Federal", afirmou
Marcelo Freixo (PSOL).
Lins é o terceiro deputado
cassado neste ano. Os outros
dois foram por suposta fraude
no auxílio-educação da Casa.
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