São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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Ex-chefe de polícia do Rio é cassado pela Assembléia

Plenário deu 36 votos favoráveis à perda do mandato de Álvaro Lins, alvo da PF

Lins tentou convencer os deputados de que faltam provas contra o suposto envolvimento dele na Operação Segurança Pública


RAPHAEL GOMIDE
LUISA BELCHIOR
DA SUCURSAL DO RIO

A Assembléia do Rio cassou ontem, com o mínimo de votos necessários, o deputado estadual Álvaro Lins (PMDB), ex-chefe da Polícia Civil do Rio. Foram 36 votos favoráveis à perda do mandato e 24 contra, além de 3 abstenções.
No discurso antes da votação, Lins não conseguiu convencer seus pares de que faltam provas da Polícia Federal e do Ministério Público contra ele na Operação Segurança Pública. Ele foi denunciado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e descaminho. É acusado de, quando chefe de polícia nos governos Anthony e Rosinha Garotinho, oferecer proteção a envolvidos com jogo do bicho e máquinas caça-níqueis.
Sob gritos de "Fora! Fora!" de manifestantes que quase foram impedidos de entrar pela segurança da Casa, deixou apressadamente o Palácio Tiradentes, ao lado dos advogados, logo após o anúncio da cassação.
Antes, no discurso, chamou os policiais federais que o prenderam de "porcos e cachorros", citando o livro "Revolução dos Bichos", de George Orwell (1903-1950). "Os cães criados por porcos bateram na porta da minha casa. Esses cachorros -que o ministro Gilmar Mendes muito bem classificou de "canalhas", porque é assim que agem- foram à minha casa armados em 12 homens, armados de fuzis e metralhadoras." Lins também recorreu à poesia de Augusto dos Anjos para relatar o abandono de amigos.
No discurso firme e aparentando tranqüilidade, fez ataques à imprensa, que, segundo ele, o condenou sem provas e sem lhe dar direito a defesa. "Sou tratado aqui como condenado em última instância. Não subi para me defender, porque condenado já fui, pelos canalhas que se escondem nos porões da PF. Não vai ser atirando deputados aos leões que vamos saciar porcos e cachorros."
A cassação surpreendeu até quem defendeu na tribuna a perda do mandato de Lins. Ele vinha articulando apoio do "baixo clero" e de lideranças.
Após votarem, 30 dos 63 deputados afirmaram ter optado pela perda do mandato -só dois disseram ter votado "não". Quando os envelopes foram abertos, porém, revelaram-se 36 a favor da cassação.
O suspense foi até o último envelope, anunciado pelo presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), e decretando a perda do mandato. "Foi emocionante. A Casa tem salvação. É preciso reagir à altura aos acontecimentos. Roubou, cassou", disse Cidinha Campos (PDT).
"A Alerj sai fortalecida. Quem ganha é a democracia, o Estado de Direito e se fortalecem a Polícia federal e o Ministério Público Federal", afirmou Marcelo Freixo (PSOL).
Lins é o terceiro deputado cassado neste ano. Os outros dois foram por suposta fraude no auxílio-educação da Casa.


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