São Paulo, quinta-feira, 13 de agosto de 2009

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PMDB apela a Lula para propor fim de crise

Em conversas com o presidente, Renan e Sarney cobraram que o PT defina se está ao lado do PMDB ou da oposição

Em discussão tensa com Sarney, Mercadante defende posição a favor de investigar senador; conselho arquiva a denúncia contra Virgílio

Lula Marques/Folha Imagem
Ao lado da cúpula da Câmara dos Deputados, manifestantes do
PSOL pedema saída de José Sarney da presidência do Senado


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com participação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PMDB tentou abrir ontem caminho para um acordo a fim de enterrar os processos por quebra de decoro parlamentar contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o líder do PSDB na Casa, Arthur Virgílio (AM). A bancada do PT resistia à articulação.
A estratégia peemedebista contou com duas ações: o arquivamento ontem do processo contra Virgílio no Conselho de Ética e o pedido a Lula para pressionar os senadores petistas a desistirem de reabrir um dos processos contra Sarney.
Na noite de ontem, o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (PT), foi até o gabinete de Sarney comunicá-lo da resistência em absolvê-lo. Os dois tiveram uma tensa discussão, presenciada pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC).
Sarney e Mercadante elevaram tanto o tom de voz que a discussão pôde ser ouvida por quem estava do lado de fora.
O peemedebista cobrou fidelidade dos petistas à aliança entre os partidos. Mercadante disse que não tinha condições de mudar de posição e continuaria defendendo a reabertura de pelo menos um dos processos contra o presidente do Senado -o que trata da nomeação do namorado de sua neta.
Após a reunião, segundo a Folha apurou, Mercadante chegou a confidenciar que não tinha apego ao cargo de líder da bancada e poderia entregá-lo caso o presidente Lula exija uma mudança de posição. Apesar do seu posicionamento, Mercadante não tinha segurança de que alguns senadores do PT irão seguir sua orientação.

Conversas
Anteontem, Sarney e Renan conversaram, separadamente, com Lula. Disseram ao presidente que o PT precisa decidir de que lado está. Foi citado que os petistas não podem querer a aliança do PMDB na CPI da Petrobras e se aliar à oposição no Conselho de Ética.
Lula prometeu pressionar os senadores a mudar de posição e fechar com o PMDB pelo arquivamento definitivo de todos os processos contra Sarney. Lula voltará a insistir com os petistas que está em jogo a eleição de 2010, em que PT e PMDB devem fechar aliança para tentar eleger Dilma Rousseff sucessora do petista no Planalto.
Governistas comentavam ontem que, em último caso, os três petistas membros do Conselho de Ética -Ideli Salvatti, Delcídio Amaral e João Pedro- poderiam se abster durante a votação no órgão. A abstenção seria a forma de evitar desgaste principalmente de Ideli e Delcídio, que são candidatos à reeleição no próximo ano.
Em troca, os petistas votariam também contra o recurso que o PMDB irá apresentar hoje para derrubar a decisão do presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), que rejeitou o pedido de processo contra Virgílio.
A decisão de Duque e o recurso peemedebista fazem parte de um jogo de cena. Ao mesmo tempo em que o presidente do conselho procurou ser "coerente", já que havia arquivado 11 processos contra Sarney, o recurso do PMDB iguala a situação -agora, haverá recursos contra Sarney e Virgílio.
O argumento de Duque, ao decidir pelo arquivamento, foi o mesmo nos casos envolvendo Sarney: "O Conselho não pode ser instrumento de ação político-partidária, nem substituir o eleitor". Virgílio foi denunciado por ter, entre outras coisas, mantido funcionário-fantasma em seu gabinete.
Duque tinha em mãos também um parecer jurídico em que o processo contra o tucano seria aberto. Mas descartou-o atendendo orientação de Renan, pois poderia inviabilizar o acordo com petistas e os acenos de paz na direção dos tucanos.
A senha para o acordo foi dada anteontem em discurso do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), em que pediu desculpas pelo bate-boca com Renan na semana passada.
Na semana que vem, Duque promete reunir o conselho para votar os recursos.
(VALDO CRUZ, ANDREZA MATAIS, FABIO ZANINI E KENNEDY ALENCAR)


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