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ROMBO AMAZÔNICO
Paulo Bezerra é acusado, em depoimento, de cobrar propina
Irmão de senador do PMDB é investigado no caso Sudam
ULISSES CAMPBEL
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
A Polícia Federal está investigando a suposta participação de
um irmão do senador Carlos Bezerra (PMDB-MT), Paulo Bezerra, no esquema de desvio de verbas da extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento
da Amazônia).
A suposta participação de Paulo
Bezerra foi denunciada pelo pecuarista paraense Jânio de Sousa
Pereira, em depoimento à Polícia
Federal em Palmas (TO), no último dia 29 de junho. O depoimento foi considerado "muito esclarecedor" pelo delegado Hélbio Dias
Leite, encarregado de apurar irregularidades em projetos financiados pela extinta autarquia.
Segundo Pereira, o irmão do senador "intermediava projetos perante à Sudam e cobrava comissões". A Agência Folha obteve
uma cópia do depoimento, que
estava sendo mantido em sigilo.
Bezerra ainda não foi ouvido pela
Polícia Federal.
O delegado afirmou que Pereira
depôs como testemunha porque
seu nome foi muito citado em depoimentos de empresários supostamente envolvidos no esquema.
Ele seria uma pessoa que conhecia o esquema, mas não teria participado dele.
"O depoimento dele [Pereira]
serviu para entender como funcionava o esquema de corrupção
na Sudam", disse o delegado.
O pecuarista contou à polícia
que tentou duas vezes obter financiamento junto à Sudam, mas
esbarrou num esquema que envolvia pagamento de comissões.
"Nenhum empresário ligado a
projeto da Sudam pode afirmar
que seu negócio é absolutamente
sério e isento de corrupção, porque o próprio sistema e a sistemática de liberação de recursos não
permitem que um projeto seja
aprovado sem o pagamento de
corrupção", afirmou Pereira.
Percentuais
No depoimento, o pecuarista
exemplificou como ocorreria o
esquema de corrupção na extinta
autarquia. Segundo ele, num projeto com valor de R$ 1 milhão, as
despesas obrigatórias para tirá-lo
do papel somavam R$ 285 mil, isto é, 28,5% do valor liberado.
Os percentuais a serem pagos,
segundo o depoimento de Pereira, eram os seguintes: 7% de pagamento para a aprovação do projeto; 5% de juros pagos ao Basa
(Banco da Amazônia S.A.); 4%
para emissão de debêntures; 4%
para compra de notas fiscais falsas; 4% de propina para o corpo
técnico da Sudam liberar os recursos e enviar ofícios ao Basa informando sobre a liberação; 3%
pagos a agiotas que emprestavam
dinheiro aos empresários que
queriam obter financiamento,
mas não tinham dinheiro para o
investimento ou para o gerente do
Basa comprovar que o empresário teria depositado a contrapartida de 50% do valor do projeto exigida pela Sudam; e 1% pago ao escritório responsáveis pela apresentação do projeto.
Na conta apresentada por Pereira falta 0,5%, que o pecuarista não
apontou para onde iria.
Depois que concedeu depoimento à PF, Pereira pediu para
entrar no programa nacional de
proteção a testemunhas. O pedido está em análise.
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