São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2001

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ROMBO AMAZÔNICO

Paulo Bezerra é acusado, em depoimento, de cobrar propina

Irmão de senador do PMDB é investigado no caso Sudam

ULISSES CAMPBEL
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

A Polícia Federal está investigando a suposta participação de um irmão do senador Carlos Bezerra (PMDB-MT), Paulo Bezerra, no esquema de desvio de verbas da extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia).
A suposta participação de Paulo Bezerra foi denunciada pelo pecuarista paraense Jânio de Sousa Pereira, em depoimento à Polícia Federal em Palmas (TO), no último dia 29 de junho. O depoimento foi considerado "muito esclarecedor" pelo delegado Hélbio Dias Leite, encarregado de apurar irregularidades em projetos financiados pela extinta autarquia.
Segundo Pereira, o irmão do senador "intermediava projetos perante à Sudam e cobrava comissões". A Agência Folha obteve uma cópia do depoimento, que estava sendo mantido em sigilo. Bezerra ainda não foi ouvido pela Polícia Federal.
O delegado afirmou que Pereira depôs como testemunha porque seu nome foi muito citado em depoimentos de empresários supostamente envolvidos no esquema. Ele seria uma pessoa que conhecia o esquema, mas não teria participado dele.
"O depoimento dele [Pereira] serviu para entender como funcionava o esquema de corrupção na Sudam", disse o delegado.
O pecuarista contou à polícia que tentou duas vezes obter financiamento junto à Sudam, mas esbarrou num esquema que envolvia pagamento de comissões.
"Nenhum empresário ligado a projeto da Sudam pode afirmar que seu negócio é absolutamente sério e isento de corrupção, porque o próprio sistema e a sistemática de liberação de recursos não permitem que um projeto seja aprovado sem o pagamento de corrupção", afirmou Pereira.

Percentuais
No depoimento, o pecuarista exemplificou como ocorreria o esquema de corrupção na extinta autarquia. Segundo ele, num projeto com valor de R$ 1 milhão, as despesas obrigatórias para tirá-lo do papel somavam R$ 285 mil, isto é, 28,5% do valor liberado.
Os percentuais a serem pagos, segundo o depoimento de Pereira, eram os seguintes: 7% de pagamento para a aprovação do projeto; 5% de juros pagos ao Basa (Banco da Amazônia S.A.); 4% para emissão de debêntures; 4% para compra de notas fiscais falsas; 4% de propina para o corpo técnico da Sudam liberar os recursos e enviar ofícios ao Basa informando sobre a liberação; 3% pagos a agiotas que emprestavam dinheiro aos empresários que queriam obter financiamento, mas não tinham dinheiro para o investimento ou para o gerente do Basa comprovar que o empresário teria depositado a contrapartida de 50% do valor do projeto exigida pela Sudam; e 1% pago ao escritório responsáveis pela apresentação do projeto.
Na conta apresentada por Pereira falta 0,5%, que o pecuarista não apontou para onde iria.
Depois que concedeu depoimento à PF, Pereira pediu para entrar no programa nacional de proteção a testemunhas. O pedido está em análise.


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