São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2006

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Suassuna se diz inocente e ataca imprensa e Biscaia

Senador diz ser vítima de psicose da mídia e que presidente de CPI se acha dono do mundo

Jefferson Péres, relator de processo de cassação de peemedebista no Conselho de Ética, deve apresentar relatório na próxima quarta


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento de cerca de quatro horas no Conselho de Ética do Senado, o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) negou ontem envolvimento com a máfia das ambulâncias, atacou o presidente da CPI dos Sanguessugas e disse que, nos últimos dias, está sendo "atacado" pela imprensa.
"Há 131 dias eu venho sendo atacado em espaços grandiosos nas páginas dos jornais. Eu não tenho culpa. Eu sou inocente. Estamos vivendo uma época de psicose da imprensa. Daqui a pouco ninguém mais vai querer ser senador", disse Suassuna, que é candidato à reeleição.
Investigação da Polícia Federal que revelou a existência de fraudes na compra de ambulâncias mostra que o ex-assessor parlamentar de Suassuna Marcelo Cardoso Carvalho teria recebido R$ 222,5 mil de Darci e Luiz Antonio Vedoin, que são acusados de chefiar a quadrilha que pagava propina a congressistas para que direcionassem emendas.
Suassuna responsabiliza Carvalho por seu envolvimento no escândalo. Até agora, não há provas de que o ex-assessor tenha repassado dinheiro para Suassuna. "Se encontrarem algo, eu renuncio ao meu mandato e cancelo a minha candidatura", disse o senador.
Suassuna atacou o deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), presidente da CPI dos Sanguessugas, cujo relatório recomendou a perda do mandato do senador e de mais 71 parlamentares. Ele afirmou que está reunindo elementos para processar o deputado.
Segundo Biscaia, Suassuna teria dito, durante conversa informal, que 90% dos parlamentares recebem "uma beirada das emendas". Biscaia relatou o diálogo em depoimento ao conselho realizado na semana passada. Suassuna nega.
"Esse diálogo não foi comigo. Além disso, ele mudou a versão. Primeiro disse que [o diálogo] foi na CPI, depois em outro lugar", disse. "Isso é vaidade. Ele acha que é dono do mundo."

Relator
Pressionado por Jefferson Péres (PDT-AM), relator de seu processo no Conselho de Ética do Senado, Suassuna não soube explicar por que não apurou suposta falsificação de sua assinatura em documento oficial.
No documento encaminhado ao então ministro Saraiva Felipe (Saúde) em dezembro passado, o senador pediu a liberação de R$ 3,6 milhões para a compra de ambulâncias. Suassuna apresentou laudo para provar que sua assinatura naquele documento foi fraudada.
Suassuna foi avisado sobre a existência do ofício com a solicitação da emenda em janeiro pela assessora parlamentar do Ministério da Saúde, Marilane Albuquerque. Ela disse que tratou do assunto com o próprio Suassuna pelo telefone.
Péres insistiu em perguntas sobre quais medidas Suassuna tomou ao ser informado. "Vossa excelência não quis saber como aquilo saiu do seu gabinete? Ao tomar conhecimento, não procurou colocar aquilo em pratos limpos?", perguntou.
Suassuna explicou que, quando soube do ofício, demonstrou surpresa. "Isso eu não pedi, não. Pode ser que assinei sem ler. Pode ter passado na correria do dia-a-dia."
O senador disse que, depois, resolveu perguntar a Carvalho sobre o ofício. "Ele era simpático. Elogiavam muitíssimo o trabalho dele. Perguntei o que havia acontecido, ele disse que foi equívoco e que já havia resolvido. Encerrou por aí". Suassuna manteve Carvalho no gabinete até 4 de maio deste ano, quando ele foi preso. "Assinei a demissão no mesmo dia", disse.
Péres afirmou que vai entregar seu relatório na próxima quarta e sinalizou que poderá pedir a cassação justamente por Suassuna não ter tomado providências em relação à falsificação da assinatura. "Não há nada que indique que ele tenha se beneficiado da propina recebida pelo seu assessor. Para ter quebra de decoro não é preciso cometer um ilícito penal. Um senador pode ter comportamento indecoroso por muitas outras ações ou omissões." (ADRIANO CEOLIN E LETÍCIA SANDER).


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