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OPINIÃO
Vitória deve beneficiar Lula
LEÔNCIO MARTINS RODRIGUES
ESPECIAL PARA A FOLHA
A vitória de Renan, porque
foi isso que aconteceu, indica
que a maioria relativa de senadores não viu nada de ilícito em
seus atos ou, pior ainda, viu,
mas considerou que, nem por
isso, o colega mereceria punição. Talvez até pelo contrário.
Provavelmente muitas razões orientaram os votos: algumas porque partilham dos
mesmos valores morais do representante de Alagoas; outras
por "fidelidades partidárias"
fortes; outras por solidariedade
corporativa; outras por interesses políticos mais rasteiros, como manter boas relações com a
Presidência do Senado e com o
Palácio do Planalto; outras por
amizade pessoal; outras por receio de um dia se encontrarem
na mesma situação do colega
presidente; outras, por fim, por
tudo isso junto.
Como, no momento em que
escrevemos, ainda não se sabe
como votaram os senadores e
os partidos, nem se pode saber
a reação dos derrotados e o
comportamento futuro do próprio Renan e aliados, é difícil
uma análise dos desdobramentos na política brasileira dos resultados da sessão secreta no
Senado. Contudo, uma ou outra conseqüência pode ser
apontada, talvez por serem das
mais óbvias.
A primeira, salientada insistentemente pela mídia, deve
ser o aumento do desprestígio
do Senado da República e da
classe política brasileira como
um todo perante a opinião pública e o eleitorado de média escolaridade. O fato, na verdade,
não parece tirar o sono da
maioria dos políticos, especialmente dos que captam seus votos entre os eleitores mais pobres e de baixa escolaridade,
mais carentes e mais permeáveis às ações do tipo assistencialista que atraem principalmente o eleitorado do Brasil
subdesenvolvido.
A segunda, que deriva da
primeira, é o desprestígio geral
das instituições da democracia
representativa, o que abre
um pouco mais de espaço para
as propostas de "democracia
direta" e eventuais saídas
populistas que reaparecem
de vez em sempre nas terras
latino-americanas.
A terceira deve ser o fortalecimento da aliança parlamentar costurada em torno do governo. O presidente Lula, habilmente, não se comprometeu,
mas o PT e seus aliados, na sua
maioria, trabalharam à socapa
pela permanência de Renan.
Por fim, deve se esperar uma
piora no relacionamento "interna corporis" no Senado e
também nas bancadas partidárias que se dividiram, PT inclusive, e onde muita traição deve
ter acontecido.
LEÔNCIO MARTINS RODRIGUES, professor titular aposentado dos departamentos de Ciência
Política da USP e da Unicamp, autor de "Mudanças na Classe Política Brasileira" (Publifolha,
2006)
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