São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2007

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OPINIÃO

Vitória deve beneficiar Lula

LEÔNCIO MARTINS RODRIGUES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A vitória de Renan, porque foi isso que aconteceu, indica que a maioria relativa de senadores não viu nada de ilícito em seus atos ou, pior ainda, viu, mas considerou que, nem por isso, o colega mereceria punição. Talvez até pelo contrário.
Provavelmente muitas razões orientaram os votos: algumas porque partilham dos mesmos valores morais do representante de Alagoas; outras por "fidelidades partidárias" fortes; outras por solidariedade corporativa; outras por interesses políticos mais rasteiros, como manter boas relações com a Presidência do Senado e com o Palácio do Planalto; outras por amizade pessoal; outras por receio de um dia se encontrarem na mesma situação do colega presidente; outras, por fim, por tudo isso junto.
Como, no momento em que escrevemos, ainda não se sabe como votaram os senadores e os partidos, nem se pode saber a reação dos derrotados e o comportamento futuro do próprio Renan e aliados, é difícil uma análise dos desdobramentos na política brasileira dos resultados da sessão secreta no Senado. Contudo, uma ou outra conseqüência pode ser apontada, talvez por serem das mais óbvias.
A primeira, salientada insistentemente pela mídia, deve ser o aumento do desprestígio do Senado da República e da classe política brasileira como um todo perante a opinião pública e o eleitorado de média escolaridade. O fato, na verdade, não parece tirar o sono da maioria dos políticos, especialmente dos que captam seus votos entre os eleitores mais pobres e de baixa escolaridade, mais carentes e mais permeáveis às ações do tipo assistencialista que atraem principalmente o eleitorado do Brasil subdesenvolvido.
A segunda, que deriva da primeira, é o desprestígio geral das instituições da democracia representativa, o que abre um pouco mais de espaço para as propostas de "democracia direta" e eventuais saídas populistas que reaparecem de vez em sempre nas terras latino-americanas.
A terceira deve ser o fortalecimento da aliança parlamentar costurada em torno do governo. O presidente Lula, habilmente, não se comprometeu, mas o PT e seus aliados, na sua maioria, trabalharam à socapa pela permanência de Renan.
Por fim, deve se esperar uma piora no relacionamento "interna corporis" no Senado e também nas bancadas partidárias que se dividiram, PT inclusive, e onde muita traição deve ter acontecido.


LEÔNCIO MARTINS RODRIGUES, professor titular aposentado dos departamentos de Ciência Política da USP e da Unicamp, autor de "Mudanças na Classe Política Brasileira" (Publifolha, 2006)


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