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análise
Especialistas vêem distância da sociedade
DA REDAÇÃO
Ao livrar Renan Calheiros da cassação, o Senado
vai aumentar a distância
entre os políticos e a sociedade, dizem especialistas
consultados pela Folha.
"O sistema político parlamentar se transformou
em uma autarquia "ensimesmada", independente
do que se passa no mundo
exterior. Isso é um absurdo no Parlamento, que,
por definição, é representação política", afirma Renato Lessa, do Iuperj.
"O Senado tem número
menor de parlamentares,
que ficam juntos mais
tempo, têm uma ética de
clube, com relações pessoais. É uma casa mais sedentária politicamente."
Segundo Lessa, o resultado aumenta a cultura de
impunidade ."O governo
Lula continua fazendo do
atraso um componente
estrutural permanente.
Vale para tucanos ou petistas", afirma.
Para o historiador Marco Antonio Villa, o apoio
da base governista, especialmente do PT, foi fundamental para o resultado. "O país tem inúmeros
problemas, mas vamos ficar discutindo até dezembro outros processos de
Renan Calheiros", diz.
"Gostaria de lembrar
um projeto importante
que Renan tenha aprovado. É uma figura menor na
história atual brasileira,
mas que representa mesmo a maioria do Congresso, que é menor, formada
por senadores pouco identificados com valores republicanos", complementa, lembrando que o Senado não tem papel de tribunal. "Mas a maioria dos senadores decidiu que o
comportamento do senador Renan é compatível
com a vida politica."
Na opinião de Claudio
Weber Abramo, da ONG
Transparência Brasil, "a
instituição do Senado está
apodrecida". "O presidente [Renan] fica ali dando
as ordens, e ele é o acusado. É ruim, menos pelo resultado e mais pelo processo, todo viciado."
Villa diz ainda que a votação é uma "vitória enganosa para o governo", porque os outros processos
contra Renan podem atrapalhar votações de interesse do Executivo.
Já para Fábio Wanderley Reis, "provavelmente
as conseqüências não são
negativas do ponto de vista do governo, porque talvez seja possível tocar agora com mais eficiência votações que interessam".
Ele diz que o resultado
ajuda a enfraquecer o
Conselho de Ética, que
não conseguirá tocar com
"o vigor necessário para
eventual condenação" outros processos de Renan.
Bolívar Lamounier critica a "safra" de parlamentares, que, para ele, não
acompanha a evolução
ética da sociedade. "A
atual safra, ou melhor, entressafra está na contramão da evolução que está
ocorrendo no Brasil".
O advogado Tales Castelo Branco acredita que a
votação mostra as "imperfeições da democracia".
"Renan é o retrato do parlamento brasileiro, das
negociatas e troca de benefícios que, infelizmente,
redundam nisso", conclui.
(FERNANDO BARROS DE MELLO)
Colaborou LILIAN CHRISTOFOLETTI, da Reportagem Local
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