São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2007

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análise

Especialistas vêem distância da sociedade

DA REDAÇÃO

Ao livrar Renan Calheiros da cassação, o Senado vai aumentar a distância entre os políticos e a sociedade, dizem especialistas consultados pela Folha. "O sistema político parlamentar se transformou em uma autarquia "ensimesmada", independente do que se passa no mundo exterior. Isso é um absurdo no Parlamento, que, por definição, é representação política", afirma Renato Lessa, do Iuperj.
"O Senado tem número menor de parlamentares, que ficam juntos mais tempo, têm uma ética de clube, com relações pessoais. É uma casa mais sedentária politicamente."
Segundo Lessa, o resultado aumenta a cultura de impunidade ."O governo Lula continua fazendo do atraso um componente estrutural permanente.
Vale para tucanos ou petistas", afirma. Para o historiador Marco Antonio Villa, o apoio da base governista, especialmente do PT, foi fundamental para o resultado. "O país tem inúmeros problemas, mas vamos ficar discutindo até dezembro outros processos de Renan Calheiros", diz.
"Gostaria de lembrar um projeto importante que Renan tenha aprovado. É uma figura menor na história atual brasileira, mas que representa mesmo a maioria do Congresso, que é menor, formada por senadores pouco identificados com valores republicanos", complementa, lembrando que o Senado não tem papel de tribunal. "Mas a maioria dos senadores decidiu que o comportamento do senador Renan é compatível com a vida politica."
Na opinião de Claudio Weber Abramo, da ONG Transparência Brasil, "a instituição do Senado está apodrecida". "O presidente [Renan] fica ali dando as ordens, e ele é o acusado. É ruim, menos pelo resultado e mais pelo processo, todo viciado."
Villa diz ainda que a votação é uma "vitória enganosa para o governo", porque os outros processos contra Renan podem atrapalhar votações de interesse do Executivo. Já para Fábio Wanderley Reis, "provavelmente as conseqüências não são negativas do ponto de vista do governo, porque talvez seja possível tocar agora com mais eficiência votações que interessam".
Ele diz que o resultado ajuda a enfraquecer o Conselho de Ética, que não conseguirá tocar com "o vigor necessário para eventual condenação" outros processos de Renan.
Bolívar Lamounier critica a "safra" de parlamentares, que, para ele, não acompanha a evolução ética da sociedade. "A atual safra, ou melhor, entressafra está na contramão da evolução que está ocorrendo no Brasil".
O advogado Tales Castelo Branco acredita que a votação mostra as "imperfeições da democracia". "Renan é o retrato do parlamento brasileiro, das negociatas e troca de benefícios que, infelizmente, redundam nisso", conclui. (FERNANDO BARROS DE MELLO)

Colaborou LILIAN CHRISTOFOLETTI, da Reportagem Local


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