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Problema é saber se Abin seguiu a lei, diz Tarso
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O ministro da Justiça, Tarso
Genro, disse ontem que o número de agentes da Abin
(Agência Brasileira de Inteligência) que participaram da
Operação Satiagraha, comandada pela Polícia Federal, é irrelevante. O que importa, afirmou o ministro, é saber se eles
atuaram dentro das normas.
Segundo Tarso, basta que um
deles tenha participado da investigação para que fique caracterizada uma situação irregular. Dessa forma, fez coro ao
que dissera na véspera o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes,
que minimizou a importância
de agentes convocados, preferindo dizer que o mais importante é saber se a ação foi legal.
Em depoimento feito nesta
semana na CPI dos Grampos, o
diretor do Departamento de
Contra-Inteligência da Abin,
Paulo Maurício Fortunato Pinto, afirmou que 52 agentes
atuaram por quatro meses na
Operação Satiagraha, revelando um envolvimento bem
maior do que era conhecido.
Até então, a agência só admitia
"colaboração" e "participação
eventual" de agentes.
O ministro explicou que a
única atividade permitida aos
agentes da Abin é a coleta de
dados e que, se eles ultrapassaram esse limite em ações policiais, como escutas telefônicas,
ficará comprovado que houve
irregularidade.
Sobre a determinação da
Justiça Federal de mandar recolher as maletas de interceptação em poder de órgãos do
governo, Tarso disse que instruiu seus subordinados a facilitar a entrega. "Se tem alguém
interessado em que essas maletas sejam periciadas é exatamente a PF", disse o ministro.
"Elas são totalmente auditáveis
e por isso será possível verificar
quem manuseou, por ordem de
quem, hora e local."
Comentando que há muito
tempo deixou de ter conversas
importantes ao telefone, para
evitar ser grampeado, Tarso
disse estar torcendo para que
seja descoberto logo o autor da
escuta de que Mendes foi alvo.
Essa, segundo ele, será a melhor forma de dissuadir iniciativas semelhantes, incluindo
chantagens.
De passagem por Genebra
para participar de uma conferência sobre violência, Tarso
acrescentou que considera a
Operação Satiagraha, "um marco" na relação entre a Abin e a
PF. "É um momento importante de inflexão para a PF, que deve aproveitar essa operação para verificar se o seu processo inquisitório pode ser melhorado
e aprimorado", disse.
O ministro afirmou que a
Operação Satiagraha reforçou a
necessidade de uma "repactuação institucional" entre a Abin
e a PF, a fim de estabelecer
"condutas previsíveis e formais". Para Tarso, a relação entre as agências precisa ter "exatidão matemática", a fim de evitar a repetição das "debilidades" da Satiagraha.
Ele contou que, antes mesmo
de a operação ser deflagrada,
chegou a se reunir com o general Jorge Felix, ministro-chefe
do GSI (Gabinete de Segurança
Institucional), e com Paulo Lacerda, diretor afastado da Abin,
para discutir o tema e a possível
aprovação de uma nova portaria para redefinir as normas de
relacionamento.
O ministro disse desconhecer a informação publicada pelo jornal "Estado de S. Paulo",
de que Lacerda teria sido afastado em definitivo devido à
participação excessiva da Abin
na operação. Disse ainda que
um assessor telefonou de Genebra para Lacerda, que também se disse surpreso com a
notícia.
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