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Ao crescer, "PT muda para pior", diz petista
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao crescer em número de filiados e de municípios em que está
organizado, o PT pode conseguir,
no ano que vem, triplicar o número de prefeituras conquistadas em
relação a 2000 (187), avalia Milton
Pomar, integrante do Grupo de
Trabalho Eleitoral do partido (órgão composto por nove membros
e encarregado de criar a estratégia
eleitoral para 2004).
Segundo ele, com esse crescimento o partido "muda para
pior", se dilui ideologicamente e
caminha para o centro, num processo de "peemedebização". Pomar é marqueteiro do PT há 16
anos e integra a corrente Articulação de Esquerda.
Para ele, as estratégias de comunicação de Duda Mendonça fazem parte do mesmo processo,
pois mostram que "o PT mergulha de cabeça no marketing eleitoral norte-americano, investindo
na propaganda de massa". Leia a
seguir trechos da entrevista.
(RAFAEL CARIELLO)
Folha - Quais as diferenças, a seu
ver, entre o crescimento "histórico" do PT e o atual?
Milton Pomar - Há o crescimento
"por gravidade", resultado natural do que você denomina de esforço histórico, mas há também
crescimentos por adesão a quem
está no poder, fruto do investimento do PT em propaganda e
decorrente do momento -final
do prazo para quem vai candidatar-se em 2004, por quem pretende aproveitar-se da marca PT para eleger-se ou reeleger-se.
Folha - Que consequências esse
crescimento pode ter para o partido? Muda o PT?
Pomar - As principais consequências, a curto prazo, são o
grande aumento do número de
vereadores e prefeitos, triplicando-os, no mínimo, e a "diluição"
do PT, do ponto de vista ideológico, com os novos militantes,
oriundos de partidos de centro ou
de direita, influenciando e levando o PT mais para o centro, num
processo de "peemedebização".
Diminui também a "qualidade"
do PT nos mandatos de vereadores e nos governos municipais. O
PT muda para pior. O processo de
expansão por meio da filiação
maciça deveria ser acompanhado
por investimento em formação
política e por uma "quarentena"
- candidaturas só após dois anos
de militância, no mínimo.
Folha - Qual a relação entre esse
crescimento e as novas estratégias
de comunicação -Duda Mendonça- dentro do esforço para 2004?
Fazem parte de uma mesma lógica
ou são coisas distintas?
Pomar - Fazem parte da mesma
lógica. Na medida em que o PT
mergulha de cabeça no marketing
eleitoral norte-americano, investindo na propaganda de massa,
tem que atuar em todas as pontas
"em escala". Duda pegou o PT
forte, maduro politicamente, com
centenas de profissionais de comunicação experientes em campanhas, muitas delas vitoriosas
contra esquemas empresariais
como o dele -e a um custo dez
vezes menor.
Folha - No que o PT acerta e no
que erra nesse esforço para 2004?
Pomar - O PT acerta ao imprimir
um ritmo amplo à estratégia para
2004. Somente com propaganda
de massa e grande capilaridade
ele poderá obter resultados compatíveis com a sua preferência entre os eleitores. Os erros residem
em abrir demais o partido, fragilizando-o ideologicamente, e em
não investir na mesma proporção
em formação política.
Folha - Como o sr. avalia as chances do PT para as eleições do ano
que vem?
Pomar - As chances são, dialeticamente, boas e ruins. Boas, porque o governo Lula deverá estar
bem, o partido está se estruturando adequadamente para ganhar o
triplo de prefeituras e temos um
saldo bom de realizações. Ruins,
porque os nossos adversários virão com muito mais fúria contra
nós, com muito mais dinheiro nas
campanhas, comprando votos
mais do que nunca, fraudando
pesquisas como sempre, e manipulando informações com a impunidade tradicional.
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