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São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2003

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Ao crescer, "PT muda para pior", diz petista

DA REPORTAGEM LOCAL

Ao crescer em número de filiados e de municípios em que está organizado, o PT pode conseguir, no ano que vem, triplicar o número de prefeituras conquistadas em relação a 2000 (187), avalia Milton Pomar, integrante do Grupo de Trabalho Eleitoral do partido (órgão composto por nove membros e encarregado de criar a estratégia eleitoral para 2004).
Segundo ele, com esse crescimento o partido "muda para pior", se dilui ideologicamente e caminha para o centro, num processo de "peemedebização". Pomar é marqueteiro do PT há 16 anos e integra a corrente Articulação de Esquerda.
Para ele, as estratégias de comunicação de Duda Mendonça fazem parte do mesmo processo, pois mostram que "o PT mergulha de cabeça no marketing eleitoral norte-americano, investindo na propaganda de massa". Leia a seguir trechos da entrevista.
(RAFAEL CARIELLO)

 

Folha - Quais as diferenças, a seu ver, entre o crescimento "histórico" do PT e o atual?
Milton Pomar -
Há o crescimento "por gravidade", resultado natural do que você denomina de esforço histórico, mas há também crescimentos por adesão a quem está no poder, fruto do investimento do PT em propaganda e decorrente do momento -final do prazo para quem vai candidatar-se em 2004, por quem pretende aproveitar-se da marca PT para eleger-se ou reeleger-se.

Folha - Que consequências esse crescimento pode ter para o partido? Muda o PT?
Pomar -
As principais consequências, a curto prazo, são o grande aumento do número de vereadores e prefeitos, triplicando-os, no mínimo, e a "diluição" do PT, do ponto de vista ideológico, com os novos militantes, oriundos de partidos de centro ou de direita, influenciando e levando o PT mais para o centro, num processo de "peemedebização".
Diminui também a "qualidade" do PT nos mandatos de vereadores e nos governos municipais. O PT muda para pior. O processo de expansão por meio da filiação maciça deveria ser acompanhado por investimento em formação política e por uma "quarentena" - candidaturas só após dois anos de militância, no mínimo.

Folha - Qual a relação entre esse crescimento e as novas estratégias de comunicação -Duda Mendonça- dentro do esforço para 2004? Fazem parte de uma mesma lógica ou são coisas distintas?
Pomar -
Fazem parte da mesma lógica. Na medida em que o PT mergulha de cabeça no marketing eleitoral norte-americano, investindo na propaganda de massa, tem que atuar em todas as pontas "em escala". Duda pegou o PT forte, maduro politicamente, com centenas de profissionais de comunicação experientes em campanhas, muitas delas vitoriosas contra esquemas empresariais como o dele -e a um custo dez vezes menor.

Folha - No que o PT acerta e no que erra nesse esforço para 2004?
Pomar -
O PT acerta ao imprimir um ritmo amplo à estratégia para 2004. Somente com propaganda de massa e grande capilaridade ele poderá obter resultados compatíveis com a sua preferência entre os eleitores. Os erros residem em abrir demais o partido, fragilizando-o ideologicamente, e em não investir na mesma proporção em formação política.

Folha - Como o sr. avalia as chances do PT para as eleições do ano que vem?
Pomar -
As chances são, dialeticamente, boas e ruins. Boas, porque o governo Lula deverá estar bem, o partido está se estruturando adequadamente para ganhar o triplo de prefeituras e temos um saldo bom de realizações. Ruins, porque os nossos adversários virão com muito mais fúria contra nós, com muito mais dinheiro nas campanhas, comprando votos mais do que nunca, fraudando pesquisas como sempre, e manipulando informações com a impunidade tradicional.



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