São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2004

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ELEIÇÕES 2004

SÃO PAULO

Ex-prefeito e filho são acusados de formação de quadrilha, evasão de divisas e mais 3 delitos

Maluf é indiciado sob acusação de 5 crimes ligados a contas na Suíça

Marcelo Min/Folha Imagem
O ex-prefeito Paulo Maluf (PP) acena ao deixar prédio da Polícia Federal após prestar depoimento


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-prefeito Paulo Maluf (PP) e o filho dele, Flávio, foram indiciados ontem pela Polícia Federal sob a acusação de formação de quadrilha, sonegação fiscal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e peculato (apropriação de dinheiro público). A pena mínima prevista é de dez anos de prisão.
Os crimes estão relacionados à investigação sobre o envio não declarado de milhões de dólares para a Suíça -apesar de o governo brasileiro ter informações sobre movimentações da família Maluf em outros países, só a Suíça enviou documentos ao Brasil.
Ontem, após se manter em silêncio durante o depoimento na PF, Maluf se reuniu com a direção nacional do PP e, em entrevista, associou o indiciamento à polarização da disputa pela Prefeitura de São Paulo entre Marta Suplicy (PT) e José Serra (PSDB). "Não vão me intimidar", disse.
Maluf ficou em terceiro lugar na disputa, com 11,9% dos votos válidos (pior desempenho eleitoral dele) e agora está inclinado a apoiar Marta no segundo turno.
Juridicamente, o indiciamento significa que o delegado responsável pelo inquérito, no caso Protógenes Queiroz, de Brasília, acredita ter reunido provas suficientes de que o ex-prefeito cometeu peculato, lavagem de dinheiro, sonegação, evasão de divisas e formação de quadrilha.
A ação da Polícia Federal não é isolada. A investigação é acompanhada pelo procurador da República Pedro Barbosa, que deverá oferecer a denúncia (peça formal na Justiça) contra Maluf e outros familiares antes da realização do segundo turno, em 31 de outubro.
A família Maluf também responde, pelo mesmo motivo, na esfera cível. Nos próximos dias, a Promotoria da Cidadania deverá oferecer à Justiça uma ação por enriquecimento ilícito.
Outros familiares de Maluf ainda deverão ser ouvidos nesta semana pela Polícia Federal.

Rota
A origem do dinheiro, segundo o Ministério Público Estadual, foi o desvio de recursos públicos durante a gestão de Maluf como prefeito de São Paulo, entre 1993 e 1996. Esse esquema, de acordo com a Promotoria, continuou na administração do sucessor de Maluf, Celso Pitta, que já foi indiciado pelos mesmos crimes -os dois ex-prefeitos negam possuir contas fora do país.
Ainda segundo as investigações, Maluf lavou dinheiro por meio de empreiteiras contratadas para construir o túnel Ayrton Senna e a avenida Água Espraiada (hoje Jornalista Roberto Marinho). Foram localizadas centenas de notas frias por serviços que nunca foram prestados.
A remessa para o exterior, de acordo com autoridades do caso, foi feita com a ajuda de doleiros em nome de laranjas (nomes ou identidades falsos).
Extratos bancários enviados pela Suíça revelam uma movimentação milionária entre 1985 e 1997 -um mês após Maluf deixar o cargo. Assinatura similar à do ex-prefeito consta de uma ficha de abertura de conta. Parte dos depósitos foi enviado em 1997 para o paraíso fiscal da ilha de Jersey, e outra, para Londres.
Em 2001, a Folha revelou a existência de depósitos em nome de Maluf em Jersey.

Feriado na PF
Em pleno feriado, Maluf chegou à sede da PF às 9h45, acompanhado pelo filho Flávio, pelos advogados Ricardo Tosto (cível) e José Roberto Leal (criminal) e por dois seguranças.
Entrou e saiu sem dar entrevistas. Na saída, antes de entrar no carro, o ex-prefeito fez o sinal de vitória e sorriu. Seguiu direto para a casa dele, no Jardim Europa, onde tinha almoço marcado com a direção nacional do PP.

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