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AMÉRICA DO SUL
Secretário da Defesa norte-americano defende troca de informações entre Brasil e outros países
EUA temem que Colômbia "transborde"
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
O secretário da
Defesa dos EUA,
William Cohen,
disse ontem que o
problema policial-militar da Colômbia pode "transbordar as fronteiras" e "corromper as economias
de muitos países". Ele afirmou
que cabe ao Brasil e aos outros
países da América do Sul decidir
como vão dividir informações e
agir se isso ocorrer.
Em entrevista à Folha na sala do
presidente do Congresso, senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), pouco antes de se encontrar
com o presidente Fernando Henrique Cardoso, Cohen reiterou
que os EUA não têm intenção de
intervir militarmente em nenhum país da região, nem na Colômbia.
Autor de três romances e dois livros de poesia, Cohen, 59, afirmou que só pretende voltar à atividade literária depois de deixar
seu cargo atual, que ocupa desde
janeiro de 1997. Mas revelou que
tinha um romance terminado
quando assumiu o posto, que só
vai publicar quando o largar.
Quando a Folha lhe perguntou
o título do novo romance, Cohen
primeiro disse que não havia pensado nisso. Depois, brincando, se
corrigiu: "Intriga Internacional".
A seguir, os principais trechos da
conversa com a Folha:
Folha - Esta sua visita ao Brasil
é de cortesia ou de negócios?
William Cohen - Ambas. Vim
para renovar os laços de amizade
entre EUA e Brasil, um país muito
importante, que eu visitei há um
ano e me deixou impressionado.
É um país fundamental não apenas para a estabilidade regional,
mas pelo papel que desempenha
no mundo.
O Brasil também tem tido uma
função muito importante em
missões de manutenção da paz,
como agora em Timor Leste. É
uma chance de voltar, inclusive
trazendo minha mulher.
Folha - O sr. pretende tratar de
algum assunto específico?
Cohen - Sim. Venho cumprimentar o Brasil por ter criado o
seu Ministério da Defesa e oferecer toda a assistência que eu possa, mostrando como nós fizemos
e como temos realizado mudanças na relação entre civis e militares ao longo dos anos, desde 1947
e após a ampla reforma de 1986,
quando eu estava no Senado.
Folha - Que conselhos o sr. dará ao ministro Elcio Alvares, se
ele lhe pedir alguns? Vocês,
aliás, têm currículos muito similares.
Cohen - Sim. Ele é advogado e
foi membro do Senado, como eu.
Eu diria a ele que nós temos um
centro de estudos sobre assuntos
de defesa no hemisfério e que seria importante se líderes militares
e civis pudessem ter a oportunidade de intercambiar informações e pontos de vista nos nossos
seminários ali. Mas, essencialmente, cabe ao Brasil determinar
como reconciliar programas, recursos, orçamentos. Posso mostrar a eles como nós fazemos isso.
Folha - Que papel o sr. espera
que o Brasil desempenhe na
atual crise colombiana?
Cohen - Realmente depende do
Brasil e dos outros países da América do Sul resolver como vão trocas informações obtidas por seus
serviços de inteligência sobre as
atividades interfronteiriças do
narcotráfico. Mas qualquer solução tem de vir de dentro da Colômbia. Nós temos uma regra
muito rígida para não nos envolvermos militarmente em nenhum país da América Latina, inclusive Colômbia. Nós fornecemos assistência, treinamento,
equipamento. Mas não desejamos e não vamos nos envolver
militarmente. Acho que a maioria
dos países latino-americanos
pensa o mesmo. Mas o Brasil e o
os outros países devem decidir
como ajudar a Colômbia a resolver esse problema porque ele tem
o potencial de transbordar as
fronteiras e corromper as economias de muitos países da região.
Folha - Por que os EUA resolveram não intervir de maneira
decidida no Timor Leste?
Cohen - Nós temos de olhar os
compromissos globais dos EUA.
Temos centenas de milhares de
soldados estacionados na Ásia, na
Europa, no Golfo. Fazemos uma
contribuição grande à Bósnia,
que nos custa US$ 2 bilhões
anuais, outra contribuição do
mesmo valor para Kosovo. Nós
temos menos forças militares
agora, desde o fim da Guerra Fria.
Essas missões de paz estão consumindo nossos recursos. Quando
veio esse caso de Timor, achamos
que não estávamos na posição de
ter outro papel de liderança, que a
Austrália se dispôs a assumir. Nós
estamos dando apoio em transporte, logística, inteligência e ainda temos 200 soldados lá.
Folha - O status especial de
"aliado íntimo" que os EUA conferiu à Argentina aguçou sensibilidades na América do Sul. Como o sr. vai lidar com isso?
Cohen - Acho que esse não é
mais um assunto importante. Já
se entendeu que esse status foi
apenas um gesto simbólico e foi
concedido porque a Argentina
pediu. Representa a forte relação
que existe entre EUA e Argentina.
Mas existem relações iguais entre
os EUA e o Brasil e outros países.
Talvez, quando concedemos o
status, nós não tenhamos antecipado a reação que haveria em outros países. Mas acho que esse tema já está relegado à condição de
um "não-assunto", uma preocupação que já foi resolvida.
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