São Paulo, Sábado, 13 de Novembro de 1999
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CRIME ORGANIZADO
Comissão pediu ainda quebra de sigilos de outras nove pessoas; nomes não foram divulgados
CPI solicita quebra de sigilos de Badan

RICARDO BRANDT
free-lance para a Folha Campinas

RICARDO GALHARDO
enviado especial a Campinas


Com base em informações colhidas ontem em Campinas (99 km de São Paulo), a CPI do Narcotráfico decidiu pedir a quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal de mais dez pessoas. Entre elas, o legista Fortunato Badan Palhares.
Os deputados Pompeo de Mattos (PDT-RS) e Robson Tuma (PFL-SP), que estiveram ontem em Campinas, não citaram nomes, mas disseram que os alvos são empresários e policiais da cidade.
O objetivo da CPI é investigar o envolvimento de policiais de Campinas com o roubo de 340 kg de cocaína do IML (Instituto Médico Legal), em janeiro, e a facilitação da fuga de presos.
Segundo o juiz Paulo Sorci, corregedor da Polícia Judiciária de Campinas, em 98 cerca de 1.000, de um total de 7.000 presos, fugiram das cadeias e presídios da cidade. Em 99, foram aproximadamente 400 fugas.
"Não dá para pensar em um número tão alto sem o envolvimento de policiais", afirmou Mattos.
Este ano, pelo menos dois policiais foram presos por suspeita de facilitação de fugas em Campinas.

Ameaça
Os deputados suspeitam que a fuga, domingo, do traficante Cláudio da Silva Santos, integrante da quadrilha flagrada com os 340 kg de cocaína e que usava o nome falso de Bruno Henrique Góes, faça parte de um acordo com os chefes do crime organizado. "Ele pode ter ameaçado entregar todo mundo se não o tirassem da cadeia", disse Mattos.
Já a quebra dos sigilos de Badan Palhares tem caráter político. Tuma anunciou a medida depois que foram levantadas suspeitas de que estaria tentando desviar o rumo das investigações para proteger o legista.
Badan Palhares é acusado de manipular o laudo sobre a morte de uma suposta vítima do crime organizado para beneficiar o deputado José Gerardo Abreu (ex-PPB-MA). Palhares foi procurado pela Folha ontem, mas não foi encontrado.
A suposta vítima é José Antonio Penha Brito Júnior que, segundo depoimento de testemunha à CPI, foi morto em 88, aos 13 anos. Seu pai, José Antonio Penha Brito, teria se recusado a conceder empréstimo bancário a Gerardo.
Os deputados disseram também ter indícios fortes de que policiais estão envolvidos no roubo da cocaína do Instituto Médico Legal. Tuma e Mattos se mostraram surpresos com a falta de segurança no IML, que fica dentro do complexo que abriga a cúpula da Polícia Civil em Campinas.
As decisões foram tomadas depois dos encontros entre Tuma e Mattos com integrantes do Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal, Judiciário, Polícia Militar e IML em Campinas.
À noite, eles se reuniriam com as cúpulas das polícias Civil e Federal para acertar um esquema de proteção para a família do assaltante Gilmar Leite Siqueira, que se diz ex-integrante da quadrilha do empresário William Sozza e está preso em Araraquara.


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