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ELIO GASPARI
O Banco Popular não quer o PC Popular
O PC Popular , uma das
melhores iniciativas sociais
do governo, arrisca descarrilhar
numa mistura de burocracia e
marquetagem. Lula anunciou
que pretende colocar no mercado
1 milhão de computadores "para
as famílias mais pobres". Nas
suas palavras: "Estaremos dando
a oportunidade de o Brasil se
transformar num país onde a informática não será problema para a nossa juventude".
Exagero. A juventude brasileira
precisa, por baixo, de 15 milhões
de computadores. Há duas iniciativas em curso. Numa, o governo propôs e o Congresso aprovou
uma redução na mordida que
davam nas pessoas que compram
computadores baratos. Coisa de
9,5%. Graças a esse rebate, máquinas de boa qualidade poderão
custar R$ 1.399 na rede varejista.
Algo como R$ 75 mensais em
três anos. Esse é o pedaço bem sucedido, sem cadastros nem burocracia. A outra iniciativa, exclusiva do governo, é o financiamento de máquinas até um teto de R$
2.500 com taxa de juros de 2%.
(Nesse programa, a prestação de
R$ 75 mensais ficará por R$ 60.)
O governo sabe que nove em
dez varejistas financiarão a freguesia cobrando suas taxas de juros, sem recorrer à linha de crédito do PC Popular. Fazem isso porque ganham mais, mas também
porque a burocracia do dinheiro
oficial é temível. A fala de Lula
sugere que o cidadão irá à loja e
procederá como se comprasse um
fogão. Preencherá os papéis do
crediário, pagará a entrada e levará a máquina. Ilusão companheira.
Na vida real, quem escolher o
crédito barato do PC Popular terá que passar pela burocracia da
Caixa Econômica ou do Banco
do Brasil. No caso da Caixa, deverá abrir uma conta. No do Banco do Brasil, o crédito é oferecido
aos seus 22 milhões de correntistas, um terço dos quais tem renda
inferior a três salários mínimos.
No governo de Lula, a instituição
pariu um espalhafatoso filhote
chamado Banco Popular.
Ele tem 1,4 milhão de clientes,
mas não emprestará dinheiro para a compra do PC Popular. Por
quê? Por falta de uma estrutura
capaz de dar viabilidade financeira à operação. Raciocínio técnico impecável.
O Banco do Brasil é aquela empresa cujos diretores acharam
tecnicamente razoável mimar
Lula e seus ministros com um andar na avenida Paulista para facilitar seus despachos quando
vêm a São Paulo.
Compraram 70 mesas (R$ 70
mil) para um show de Zezé di Camargo e Luciano destinado a arrecadar dinheiro para o PT. Seu
diretor de Marketing, um afortunado investidor, contou que a
destinação das verbas de propaganda da instituição era aconselhada pelo comissário Luiz Gushiken. Em 2004 o Banco Popular
emprestou R$ 20 milhões e torrou
R$ 24 milhões em propaganda.
Com quem? Com a DNA de Marcos Valério.
É louvável que o Banco do Brasil tenha mecanismos rigorosos
para emprestar dinheiro ao andar de baixo. É triste que seus
controles tenham sido tão frouxos quando lidou com os comissários do andar de cima. No caso
do PC Popular o paradoxo vai
mais longe. Para vender máquinas a preços reduzidos a Viúva
abriu mão de impostos que rendiam algo como 9,5% do preço da
máquina. O Banco do Brasil exige que a operação de crédito seja
feita com o cartão Visanet (logo
ela, que também tinha negócios
com Marcos Valério, de quem recebeu R$ 6,4 milhões em notas
fritas). A rede Visanet cobra aos
varejistas uma comissão que gira
em torno de 3% sobre o valor da
máquina. Muito bonito: a Viúva
abre mão de 9,5% e o Banco tunga 3%. Fazem isso em nome da
boa técnica, mas se telefonarem
para a Caixa Econômica poderão
aprender como o crédito pode ser
financiado sem a entrada da Visanet no negócio.
Não é função do Banco do Brasil subsidiar computador no andar de baixo. Também não é função do banco fazer propaganda
do governo aceitando çábios conselhos do Planalto ou oferecer a
Lula e aos seus ministros um imóvel na avenida Paulista. Na hora
de financiar o andar de baixo ele
recebe o Caboclo Rothschild.
Quando se trata de mimar o andar de cima, baixa o Caboclo
Companheiro e os doutores se esquecem dos acionistas.
Tucano telepata
A assessoria do prefeito José
Serra tem uma reclamação.
Seu secretário de Assistência,
Floriano Pesaro, acha que ele
"jamais disse nem mesmo
pensou" a seguinte frase
transcrita aqui no último domingo: "Acredito que dessa
maneira (canalizando as esmolas da população para um
Fundo Municipal) vamos
conseguir erradicar o problema dos meninos de rua".
Serra usou para os meninos
de rua a mesma linguagem
que se usa para a febre aftosa.
Sua frase foi publicada cinco
dias antes, na terça-feira, no
jornal "O Estado de S.Paulo".
Não teve desmentido nem
muxoxo.
Se Serra não conta a Pesaro o que diz ou o que pensa, o
problema é deles. Grave é
que os dois não leiam o que a
imprensa da cidade que governam publica a respeito
das cerimônias a que comparecem. Serra e Pesaro criaram uma nova modalidade
de reclamação, a do magano
que se queixa dos jornais,
mas não os lê.
Dez na manga
A caciquia pefelê diz que não
aposta no impedimento de
Lula. Pode ser, mas pediu a
dois advogados para estudar
o assunto.
Natasha e a massa
Mesmo com o mensalão
atrasado, Madame Natasha
continua dando bolsas de estudo. A última vai para o
doutor Gilberto Carvalho,
chefe de gabinete do "nosso
guia". Ele disse o seguinte:
"O PT nasceu com proposta
ética e inovadora. Quando
vira partido de massas, é natural haver processo que se
corrompam pessoas que
vêm de idoneidade e militância". Madame acha que ele
quis dizer que a massa ignara
corrompeu Delúbio Soares.
Memória
Para a crônica dos Anos Lula:
como chefe da Casa Civil, José
Dirceu pediu a retirada de Delúbio Soares da tesouraria do
PT e dos subúrbios do Planalto
em quatro ocasiões diferentes.
São poucas as injustiças que se
cometem com o comissário,
mas a maior delas é associá-lo a
Delúbio, suas obras e suas
pompas. O comissário-caixa,
como Paulo Okamotto, seu antecessor, foi uma produção de
Lula.
Blindagem
Caiu em desuso a expressão
"blindagem" para descrever o
sistema de proteção ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Parece insinuação.
Lula x "nosso guia"
A campanha presidencial do
ano que vem terá um novo ingrediente, amargo e saudável:
Lula será confrontado com Lula. Até o surgimento do "nosso
guia", suas impropriedades
verbais ("sou filho de uma mulher que nasceu analfabeta") e
culturais ("quando Napoleão
foi à China...") eram relevadas.
Mencioná-las parecia preconceito contra a ascensão política
de um operário. Quando Lula
dizia o contrário do que dissera, as opiniões dividiam-se em
dois blocos. Quem não gostava
das idéias velhas ("precisamos
fazer com que a economia cresça 5% ao ano") dizia que ele
evoluíra. Achou-se engraçado
que associasse o seu consumo
de Coca-Cola a um processo de
amadurecimento político.
Quem não gostava das idéias
novas sugeria que eram moda
passageira. Lula arrisca pedir
que se esqueça o que vai dizer.
Acordo no PSDB
As facções do tucanato paulista
estão perto de um acordo. Para
satisfação de FFHH, o candidato deverá ser o ex-ministro da
Educação Paulo Renato Souza.
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