São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2008

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JANIO DE FREITAS

Os familiares


A maior quantidade de anos do governo Lula só aumenta a sua identificação com o governo Fernando Henrique

PARECEM números de estatísticas e de valores em reais. Quando postos lado a lado, compõem retratos com a peculiaridade de mostrar como são idênticas, apesar de tão diferentes nos milhares de suas fotos convencionais, estas quatro pessoas: Fernando Henrique e Lula, Pedro Malan e Henrique Meirelles.
Parte do retrato veio das Nações Unidas, no Relatório sobre a Situação da População Mundial em 2008, com uma estimativa simples e direta: o Brasil figura como o terceiro maior concentrador de mortalidade infantil na América do Sul. A cada 1.000 crianças vindas ao mundo com vida, 23 estão mortas antes de chegar a um ano. Índices piores, só os das misérias vastas de Bolívia e Paraguai.
Antes que cheguem aos cinco anos, são 56 as crianças brasileiras que morrem a cada 1.000, em total outra vez só ultrapassado pela fome e as doenças piores da Bolívia e do Paraguai.
Para a montagem do quadro, o próprio governo brasileiro, por intermédio do sério Ipea, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, proporciona as peças do "puzzle" a serem combinadas com as da ONU. São estas:
- valor destinado aos portadores de títulos governamentais (ou dívida pública) de 2000 a 2007: R$ 1, 268 TRILHÃO;
- valor destinado à saúde no mesmo período: R$ 310,9 BILHÕES, cerca de um quarto do montante transferido aos donos de títulos da dívida pública;
- valor destinado à educação no mesmo período: R$ 149,9 BILHÕES, ou seja, para cada real aplicado em educação, mais de oito foram remunerar os compradores de títulos da dívida.
Essa monstruosidade brasileira tem duas faces. Em uma, exibe o verdadeiro grau de importância dada às tão propagandeadas preocupações e políticas de educação e de saúde. Na outra, a calamidade da altitude, determinada pelo próprio governo, dos juros pagos aos títulos da dívida governamental.
Mas a referência ao período 2000-2007 contém uma deformação histórica. Poupa Fernando Henrique da inclusão de seu primeiro mandato e do início desastrado do segundo. Para o que mais importa, porém, não faz diferença: a maior quantidade de anos do governo Lula só aumenta a sua identificação com o governo Fernando Henrique. E, portanto, a identificação dos quatro realizadores, nos dois governos, de obras idênticas -como se fora um só conservador neoliberal.

Na mesma
Quando aqui levantei, no domingo, o risco aberto pela Polícia Federal ao apreender computadores e documentos na Abin -repositório de assuntos secretos da Presidência da República- a resposta do ministro da Justiça e da PF já estava prevista: "Não há risco, a Polícia Federal não faz...", e segue-se o de sempre.
A "garantia" dada na terça-feira pelo ministro Tarso Genro, diante da repercussão do risco, não garante coisa alguma. Seu argumento é que todo o apreendido só será examinado em presença de representantes da Abin. Pois bem, isso não atenua a temeridade da ação policial de apreensão em assessoria da Presidência. E, mesmo que o exame se dê em presença de representante da Abin, o que ele estará testemunhando é o exame dos documentos e do computador pela PF. Logo, o acesso indevido de terceiros a material de teor desconhecido e, dada sua eventual gravidade interna ou externa, reservado à Presidência.


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