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Juiz avalia que acesso da Abin é vazamento
Ali Mazloum entende como crime o compartilhamento de dados sigilosos, como os do Guardião, sistema da PF que agentes usaram
Delegado que apura conduta de policiais na Satiagraha responsabiliza Protógenes Queiroz e mais três por violação de sigilo funcional
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao contrário do que defende
o Ministério Público, o juiz Ali
Mazloum, da 7ª Vara Federal
Criminal de São Paulo, interpreta como vazamento de informações o acesso de agentes
da Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) ao Guardião, sistema da PF que armazena interceptações telefônicas. O juiz
não se pronuncia oficialmente,
mas a Folha apurou que
Mazloum entende como crime
o compartilhamento de dados
sigilosos, e que os funcionários
da Abin também poderiam ser
responsabilizados por usurpação da função pública, ao atuarem além de suas atribuições.
Essa análise é mais abrangente do que a do delegado da
Corregedoria da Polícia Federal de Brasília Amaro Vieira
Ferreira, que investiga a conduta de policiais durante Operação Satiagraha. Em relatório
preliminar, Amaro responsabilizou o delegado Protógenes
Queiroz, ex-coordenador da
Satiagraha, e mais três policiais
por violação de sigilo funcional.
O suposto vazamento teria
ocorrido quando os policiais
repassaram aos agentes da
Abin senhas do Guardião que
lhes permitiram ouvir e transcrever escutas realizadas pela
PF. Amaro tenta saber ainda
quem repassou à imprensa as
informações da operação que
prendeu Daniel Dantas.
Nos bastidores, Mazloum
tem reagido às críticas e procurado mostrar independência,
negando, por exemplo, que a
atual investigação tenha por
objetivo anular as provas que
embasaram o inquérito da Satiagraha -a defesa de Dantas
pede a suspensão da ação penal
por causa do uso de agentes da
Abin. A assessores Mazloum
reitera que a PF não pediu à
operadora Nextel a quebra de
sigilo telefônico dos jornalistas
que acompanharam a operação
no dia 8 de julho.
Para o Ministério Público
Federal de SP, não há ilegalidade no compartilhamento de informações entre Abin e PF,
pois foi previsto na lei que
criou o Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência). Em depoimentos, os agentes da Abin
admitem ter realizado outras
atividades de apoio aos policiais federais sob comando de
Protógenes, como a vigilância
de investigados, filmando e tirando fotos. Na interpretação
de Mazloum tais atividades extrapolam a atribuição desses
servidores. E o diretor da Abin,
o delegado Paulo Lacerda, poderia ser responsabilizado pelo
crime de prevaricação ao cedê-los à PF para tal uso. Lacerda
está afastado da direção da
agência há mais de dois meses.
A compreensão do juiz é a de
que cada órgão tem sua função
e não pode extrapolá-la, e o que
é sigiloso precisa de autorização prévia para ser repassado.
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