|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Por Dilma, Lula festeja indicador do qual duvidava
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Que ninguém duvide: a queda no ritmo do desmate na
Amazônia é a melhor notícia do
ano. Ou melhor, dos últimos 21
anos, desde que o Inpe começou a monitorar sistematicamente essa vergonha nacional.
Não que 7.008 km2 sejam
pouca coisa. Nunca é demais
repetir a estimativa do americano Warren Dean, segundo o
qual toda a produção de açúcar
no Brasil de 1700 a 1850 consumiu 7.500 km2 da mata atlântica. Mas um país que já viu taxas
quatro vezes maiores na Amazônia em um só ano aprendeu a
comemorar o inaceitável.
Até pouco tempo atrás, a regra era os governos anunciarem o dado do Prodes num tom
sombrio -um "ritual macabro", nas palavras da ex-ministra Marina Silva. Agora, o dado
do desmatamento vira palanque, e justamente para a menos
verde das candidatas, Dilma
Rousseff. O mundo gira.
E como gira: ainda no ano
passado, quando o mesmo Inpe
anunciou uma alta recorde na
velocidade da derrubada, Lula
resolveu atirar no mensageiro.
Duvidou dos dados e mandou
checá-los, comparando-os a
um "tumorzinho" que era tratado como câncer antes da
biópsia. Não há registro de que
Dilma tenha peitado o chefe e
ficado ao lado de Marina e de
Sergio Rezende na defesa dos
números do instituto.
Mas a história não foi apenas
esquecida ontem no palanque
em Brasília. Ela foi ativamente
reescrita. O próprio Carlos
Minc fez questão de atribuir a
Dilma as metas de corte de desmatamento do plano nacional
do clima e o Fundo Amazônia.
Tanto o fundo quanto o plano
são obras de Marina Silva. O
que Dilma fez foi passar o PAC
por cima da Amazônia e barrar
a criação de áreas protegidas.
É também de Marina grande
parte do mérito pela queda na
devastação. Ela estreou as políticas de comando e controle
ampliadas por Minc. Produziu
a resolução do Banco Central
cortando o crédito a desmatadores, que Minc lutou para
manter -apesar de Dilma e dos
governadores da Amazônia.
Além da cabocla do Acre, os
loiros de olhos azuis de Wall
Street ajudaram, derrubando a
economia mundial e o agronegócio brasileiro junto. Por fim,
as ações do Greenpeace e do
Ministério Público contra a
carne ilegal provavelmente tiveram sua parcela de mérito.
Lula ganhou de todos esses
atores um presentão, mas também um problema. Afinal, nos
próximos dias o presidente
precisa definir se apoia Minc
ou os desmatadores na reforma
do Código Florestal. Vai ficar
feio ceder aos ruralistas agora.
Texto Anterior: PV: Ex-ministra festeja anúncio e diz que "Vitória só se mede na história" Próximo Texto: STF adia decisão sobre extradição de Battisti Índice
|