São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

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NO AR

O dólar dos operadores

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Voltou "o" Lula, no pronunciamento de ontem, ao vivo pela Globo. Ele já entrou antes de todos, esperou em pé, apoiou-se na cadeira, olhou um pouco para as câmeras, cochichou com Marisa.
Ao falar, fez brincadeiras sem fim -e sem sentido. Do nada, disse que seu escolhido para o BC, Henrique Meirelles, "está acompanhado de sua esposa, e eu da minha".
Depois disse que o resto do ministério sai semana que vem e então, sorrindo:
- Vamos ver qual é o jornalista que acertou mais. Vai ganhar de mim um prêmio. Que eu não sei qual.
Brincou até com o que, aparentemente, não devia, prometendo falar pouco:
- Quanto menos eu falar, mais o dólar cai.
Foi um encantamento para as câmeras.
E foi ele sair para a Globo cortar a transmissão. Nada de muito ministro, equipe econômica. O poder é Lula.
 
Pouco depois, vem a Globo News e registra:
- O dólar fecha em alta.
Lula queimou a língua, mas logo se evidenciarem os motivos do mercado. Meirelles anunciou como seu propósito "fazer o Brasil crescer":
- O resto são os meios para se chegar lá.
Não é o que um operador do mercado queria ouvir. Aliás, não se trata mais de um colega no Banco Central, como notou a Globo News:
- Como não veio o nome de um operador, o mercado espera. As atenções agora se voltaram para a diretoria.
Algumas reações de operadores falavam de seu perfil político, não técnico. De ser mais conhecido no exterior do que pelo mercado nacional. Um operador que é ex-presidente do BC falou até em perigo de "politização do BC".
Em suma, vislumbrou-se o risco de ganhar menos.
Se os operadores tremeram, seus superiores, ao que parece, não. Curiosamente, houve até operador que de imediato criticou, na CBN, e depois retornou para se corrigir.
Afinal, trata-se do ex-presidente do BankBoston, "o primeiro não-americano a presidir um banco nos EUA", como ressaltou a Globo.
Sobraram elogios da federação dos bancos. E, se o dólar dos operadores subiu, no exterior o risco Brasil caiu.
 
Operadora do extremo oposto, nas restrições a Meirelles, só a senadora Heloísa Helena, que disse que ele "não serve para os interesses nacionais".
Mas também ela acrescentou depois que a decisão final é do eleito e ponto.


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